Memória :: Músicas de viagem

Músicos tocando na praça principal de Santiago de Cuba, em 2010 – Foto: Débora Costa e Silva

A trilha sonora é um elemento essencial em uma viagem e acaba sendo quase tão marcante quanto uma atração turística ou uma experiência gastronômica. Não importa se as músicas que embalaram o seu rolê eram de algum artista local, ou se faziam parte da seleção que você levou para ouvir (em K7s, CDs, MP3, playlist do Spotify) ou ainda um hit meio tosco da época. Uma coisa é fato: essas canções vão servir sempre como um portal para revisitar aquele lugar.

Uma das coisas que mais curto fazer nos preparativos é já ir ouvindo umas músicas da região ou país que vou visitar para entrar no clima. Afinal, se uma música é capaz de nos transportar para onde já estivemos, ela também deve ser capaz de nos levar para lugares que ainda não fomos. Foi assim com Cuba – aliás, boa parte da minha motivação de ir para lá foi por conta da música. Mergulhei nos clássicos do Buena Vista Social Club e do grupo Orishas e ouvia tudo quanto era salsa cubana.

Engraçado é que, entre uma “Guantanamera” e outra, a música que mais ouvi por lá não foi uma salsa nem um bolero, muito menos bossa nova (e olha que em quase todo bar com som ao vivo rolava um momento Brasil com “Garota de Ipanema”). O hit que marcou a viagem foi mesmo uma musiquinha bem pop, “We no Speak Americano”, da Yolanda B. Cool – também conhecida pelo refrão que diz “Papanamericano”, tocava em todas as festas 😊.

O hit do momento foi só a cereja do bolo para a miscelânea latina cheia dos batuques deliciosos que fizeram a trilha de Cuba – que era, de fato, extremamente musical como eu imaginava, com um conjuntinho tocando a casa esquina em Havana, Trinidad e Santiago de Cuba. Mas em uma viagem, sempre que é possível tento ir a algum show, festa ou bar que tenha um som ao vivo para conhecer a música regional.

Quando fui para a Espanha, foi a vez de outro clichê: o flamenco. Fui a uma apresentação em Barcelona e em outras três em Sevilha. Uma mais incrível que a outra, com músicos e dançarinos fantásticos, sempre em casas pequenas e charmosinhas. Queria ter visto mais castanholas e cajon, mas depois soube que esses instrumentos foram incorporados mais recentemente. Os shows que vi eram mais crus e tradicionais, apenas com violão, sapateado, palmas e só.

Flamenco em Barcelona, em 2011, só com violão, voz, sapateado e palmas – Foto: Débora Costa e Silva

Mas apesar desse mergulho no flamenco, o lado B das minhas memórias espanholas guarda outros estilos que nada têm a ver com a música feita na Espanha (até onde eu sei). Foi em Barcelona que conheci a banda Baiana System, apresentada pelos meus amigos Fernando e Milena, e Madri ficou marcada pelas músicas da Whitney Houston e do Daniel (sim, o sertanejo), que eu e meu amigo Fellipe vivíamos cantando por lá.

Os clássicos da Madonna me lembram as viagens de carro que fazia para o interior ou litoral de São Paulo com a minha mãe; o álbum acústico dos Titãs e o “Pulse” do Pink Floyd as viagens pelo interior do Rio de Janeiro com o meu pai; uns reggaes ruins embalaram minhas idas e vindas para Floripa com as amigas de infância e nem vou mencionar quais axés marcaram minha viagem para Porto Seguro, deixa pra lá 😛

Mesmo quando fui para Londres e Liverpool com a minha irmã e fizemos um tour temático dos Beatles, acabamos ouvindo o que? John Mayer. Foram as músicas dele que embalaram a viagem, nada de “Eleanor Rigby”. Rolou algo assim também em Bariloche, na Argentina, com o cantor uruguaio Jorge Drexler. Tocou o álbum “Eco” inteiro em uma noite num bar (e ainda repetiu, acho que só tinham esse). Agora, quando toca Jorge Drexler, já me transporto para Bariloche, e não pro Uruguai – talvez também porque nunca estive lá rs.

Enfim, é uma delícia viajar inspirada por música, como foi Liverpool, Cuba e mesmo Nova York – e outras que ainda quero fazer. Mas ainda que eu planeje fazer um tour musical, não necessariamente aquele determinado estilo vá compor a trilha sonora. Como em quase toda viagem, o elemento surpresa sempre dá as caras, nunca decepciona. E é ele que nos leva a vivências diferentes, apresenta músicas, relembra de outras e faz de cada viagem única.

Reflexões :: Palestras do TED sobre viagens

Da série de coisas boas proporcionadas pela internet, a possibilidade de assistir às palestras do TED Talks é uma das minhas preferidas. Para quem não conhece, é o seguinte: a organização TED (Technology, Entertainment, Design) promove uma série de eventos e conferências com o objetivo de disseminar ideias (como diz o próprio slogan, ideas worth spreading).

De assuntos variados, as palestras são sucintas, têm em média 10 minutos e a maioria está disponível na internet. Os palestrantes são especialistas em algum tema e podem ser personalidades famosas como Bill Clinton, Bono Vox e Al Gore ou ilustres desconhecidos que têm algo a dizer sobre determinado assunto.

Para inspirar o início de ano, selecionei algumas das mais interessantes cujo assunto é viagem. A maioria tem legendas em português – caso não rode automaticamente, clique no vídeo, em seguida no ícone de legenda no canto inferior direito e selecione Português – Brasil. As que não têm eu sinalizei no título, mas dá para ver com legendas em inglês – já ajuda! Aproveitem para refletir sobre suas andanças pelo mundo 😉

Para maior tolerância, precisamos de mais… turismo?

Após entrar em contato com a cultura judaica, o palestino Aziz Abu Sarah percebeu que não faz sentido ter muros dividindo as pessoas, como o da Palestina. Ele acredita que o turismo é uma maneira de derrubar essas barreiras e abriu uma agência com guias judeus e palestinos dedicada a aproximar as pessoas.

Onde é o lar?

Uma baita reflexão sobre onde é o nosso lar em um mundo cada vez mais multicultural. Pico Iyer discorre sobre os vários lugares que podem ser considerados um lar e conta algumas histórias de sua vida. O que isso tem a ver com viagens? Bom, segundo ele, viajar só faz sentido quando temos para onde voltar. Ele também acredita que “Viajar é como estar apaixonado, porque todos seus sentidos estão ligados”.

Como fundamos o Lonely Planet (em inglês)

Anos atrás, eu assisti uma palestra do Tony Wheeler aqui em São Paulo e ouvi a história inspiradora sobre como ele e sua esposa criaram os guias Lonely Planet. Achei bacana porque não foi um “projeto editorial” todo formatado e planejado, e sim o resultado de uma grande expedição feita pelo casal nos anos 70.

Eles viajaram de carro pela Europa, Ásia e Oceania, partindo de Londres e passando por Istambul, Irã, Afeganistão, Índia, Tailândia, Nova Zelândia e Austrália. Por fim, decidiram fazer um livro sobre esses destinos e não pararam mais. Após o relato, ele discorre também sobre sua relação com Singapura (já que a palestra foi feita lá).

Por que se preocupar em sair de casa?

Com tanta informação ao nosso dispor graças a internet, qual o sentido em sair de casa e explorar o mundo? Ben Saunders, que já fez uma expedição para o Polo Ártico, conta um pouco de sua experiência e afirma que só se consegue ter inspiração e crescimento após superar desafios e adversidades.

Turismo de Empatia – Refugiados no Oriente Médio

A jornalista brasileira Talita Ribeiro fez uma viagem para o Oriente Médio que mudou toda sua perspectiva de vida e a ajudou a criar o conceito “Turismo de Empatia” – que também dá nome ao seu projeto. Segundo ela, empatia não é sentir dó de uma pessoa, é uma troca. No TED, ela conta um pouco sobre sua experiência com refugiados e sobre cada pessoa que a comoveu e a transformou nessa jornada.

Como e porque viagens transformam você (em inglês)

Francis Tapon percorreu várias trilhas nos Estados Unidos e na Europa e cada uma delas foi transformadora e o ensinou algo novo. Por estar sempre acampando e fazendo couchsurfing, passou a dar valor a um modo de vida mais simples e defende que não é preciso de muitos recursos para cair no estrada e ser feliz.

Como nasceu o AirBnb

O co-fundador da plataforma AirBnb conta como surgiu a ideia de transformar sua casa em uma hospedagem e fazer disso um negócio. No fim da primeira experiência hospedando desconhecidos, percebeu que havia criado um jeito de fazer amigos e pagar o aluguel. O que parecia uma ideia maluca e difícil de conquistar investidores, se tornou revolucionária. Muito se deve ao design da plataforma, que conseguiu passar mais confiança para seus usuários, e no TED ele explica como o projeto evoluiu.

Construindo uma carreira viajando (em inglês)

“Vou passar o resto dos anos ganhando a vida ou… vou viver a vida?”. A advogada  indiana Piya Bose se fez essa pergunta e resolveu largar seu trabalho para cair no mundo. Hoje ela escreve e documenta viagens e mantém uma plataforma para ajudar mulheres a viajar para destinos exóticos, a Girls-on-the-Go.

Estrada aberta, vida aberta (em inglês)

Andrew Evans começa sua palestra falando da diferença entre turismo e viagem – turistas pagam para viver determinadas experiências enquanto viajantes estão abertos ao inesperado. Ele conta sobre sua viagem de ônibus de Washington DC (EUA) até Ushuaia (Argentina) para embarcar para a Antártica, passando por diversos países da América do Sul. Ele vivenciou coisas que jamais teria tido a chance se tivesse viajado de forma tradicional e tudo isso fez com que seu destino se tornasse ainda mais especial.

Histórias dos sem-teto e dos que se escondem

O título fala “sem-teto”, mas o termo mais adequado seria nômades. A documentarista Kitra Cahana acompanhou e fotografou esses viajantes que percorrem os Estados Unidos e vivem na estrada. Encontrou pessoas criativas, artísticas, gente só em busca de aventura, outros fugindo de uma realidade dura. Uma de suas percepções mais interessantes é a de que ninguém se livra de seus demônios só por pegar a estrada.

Ainda faz sentido falar de viagem com tanta crise?

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O mundo desabando, corrupção, terrorismo, tragédias naturais, extremismo, ódio, machismo, desemprego, poluição, desmatamento, desesperança… e os caras falando em viajar? Que sempre teremos Paris? Que os outlets de Miami estão incríveis? Dez praias paradisíacas do Caribe? Por mais deslumbrante que seja o cenário, parece que tem algo que não tá ornando. Ainda faz sentido falar de turismo com toda essa crise?

Venho pensando em escrever sobre isto há alguns meses, mas estava esperando encontrar uma resposta antes de formular o texto. Não encontrei. Alimentar o blog também tá ficando agridoce, pois de um lado quero deixar registrado e passar adiante minhas experiências e contar as histórias que me inspiraram, mas sinto às vezes estar lutando contra um tsunami com apenas dois remos.

Em Nova York, encontrei uma amiga e tivemos altos papos. Começou com as eleições municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, depois caiu pra Trump, machismo, até que ela perguntou como eu tava e elogiou os posts do Papetes (eba!). Agradeci e disse: pois é, mas no meio de tanta bagunça e notícias negativas, fico até sem graça de falar sobre viagens. Será que estou me fechando dentro de uma bolha?

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E é fato, o número de pessoas fazendo grandes viagens internacionais caiu e muita gente já está sentindo o impacto da crise na hora de pensar nas próximas férias. De acordo com o World Travel Monitor, que monitora os deslocamentos feitos em países da Europa, América do Sul e Ásia, as viagens feitas por brasileiros ao exterior entre janeiro e agosto de 2016 já caíram 15% em relação ao mesmo período de 2015.

Porém, mesmo com todas as dificuldades, as pessoas ainda querem viajar. E ainda vão continuar viajando. Talvez fique mais difícil, teremos que apertar o cinto e rever algumas escolhas, repensar os lugares, a duração e a frequência de cada viagem, mas o desejo permanece. Outra pesquisa, feita pelo Ministério do Turismo, comprova isso: no mês de setembro, mesmo com a crise, a intenção de viagem dos brasileiros era de 24,3%, 8 pontos percentuais a mais em relação ao mesmo mês de 2015.

Viajar desperta alguma coisa além dentro de nós que chega a viciar! Uma vez que seu universo se expande e conhece outras culturas e outros mundos, você quer manter a toada, brincar de War e conquistar quantos territórios for possível. Tudo bem que depois de uma viagem nos EUA, talvez você não consiga ir tão logo pro Sudeste Asiático, mas o bichinho viajante vai te dar coceira. E aí meu amigo, um pulo ali no Pico do Jaraguá já vira uma aventura, te reabastece com a adrenalina de ver algo novo, de experimentar novos ares e mudar sua rotina.

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Não é preciso ir tão longe ou ficar muito tempo fora para sentir os benefícios de uma viagem. É questão de mudar o olhar no dia-a-dia e ver beleza na tua própria cidade. É dar uma chance pro Masp depois de conhecer todos os museus da Europa. É explorar um café novo no bairro e curtir como se tivesse em Paris. É tentar encontrar algo que te transforme.

Por isso tudo, acho que sim, faz sentido falar de viagem no meio dessa crise, que não é a primeira nem a última que o mundo vai passar. Viajar é trazer um pouco do mundo na mala e se o mundo tá essa bagunça, talvez o papel do turismo seja de nos abastecer de informações para entender um pouco desse caos e expandir nossos horizontes. Se não servir para isso, que sirva para se desligar de tudo, refrescar a cabeça dos problemas e voltar para casa com as energias renovadas e pronto para a batalha 😉

Que todos tenham um 2017 com mais amor, força para encarar os desafios e muitas viagens, sejam próximas ou distantes, bate-volta ou sem data de retorno. Mas que te levem longe, te transformem e te inspirem sempre! ❤

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Nova York :: Fim da temporada – ou sobre jet lag emocional

Vista de Manhattan a partir de Long Island City, no Queens. Foto: Débora Costa e Silva

Vista de Manhattan a partir de Long Island City, no Queens. Foto: Débora Costa e Silva

Os três meses em Nova York chegaram ao fim e eu ainda não consegui digerir tudo. A começar pela percepção do tempo: tem hora que parece ter durado uma semana, em outros momentos parece ter sido um ano. Isso porque quando cheguei em São Paulo, mesmo com algumas coisas diferentes em casa, senti como se nada tivesse mudado. Foi como ter dado um pause e soltado o play novamente, mas aos poucos estou percebendo que perdi alguns episódios daqui enquanto vivi outros lá.

Costumo dizer que, quando viajamos, demora uns dias para se desligar de São Paulo e abstrair toda a loucura, o stress e seu ritmo acelerado. Mas para voltar e ser engolido pela cidade o processo é bem rápido. Só que neste caso fui para um lugar ainda mais caótico e intenso e fiquei bem mais tempo do que estou acostumada. Então tanto na ida quanto na volta me senti absorvida pelas duas ao mesmo tempo.

Acho que é uma espécie de jet lag emocional, quando não só nosso corpo sente o baque da mudança de horário e local, mas nossa cabeça também fica confusa. Facilita não ter uma diferença grande de fuso horário (eram só 2 horas a menos), mas ainda assim não me sinto nem lá nem cá. Estou meio perdida num limbo de tempo e espaço tentando entender o que vivi e como será daqui pra frente após essa experiência.

Balanço prévio

Central Park começam a ficar colorido no outono. Foto: Débora Costa e Silva

Central Park começam a ficar colorido no outono. Foto: Débora Costa e Silva

É bem difícil sintetizar tudo o que conheci e aprendi nessa temporada em Nova York, mas acho que o ponto principal é que voltei em paz e satisfeita com tudo, inclusive com as coisas que não saíram do jeito que eu queria ou imaginava. Aprendi a aceitar os imprevistos e limitações sem mágoas rs, afinal o saldo final continua sendo positivo por um simples motivo: eu fui. Já é uma conquista e tanto ter enfrentado alguns receios – desde financeiros até emocionais – para realizar um sonho. O resto é lucro 😛

Curti muito as coisas que planejei, como o curso de inglês que fiz no mês de agosto (em breve farei um post só sobre isso) e a viagem a Montreal, no Canadá, em outubro, mas foi uma delícia também ser surpreendida por amigos improváveis, festas inimagináveis, cursos e festivais que encontrei por acaso, encontros com pessoas queridas que passaram por lá, lugares e atrações que nem cogitava ir, descobertas gastronômicas e até ter feito um job de cat sitter para uma amiga :-).

Outro fator que fez toda a diferença foi ter viajado sozinha. É importantíssimo pra se conhecer e descobrir o seu jeito de curtir as coisas, respeitar seu próprio ritmo e o básico “apreciar a própria companhia”. É maravilhoso e libertador, mas se isolar demais também pode ser prejudicial, pois tem sempre uma hora que as reflexões dão espaço pra pensamentos deprês. Durante a viagem, variei muito nesses dois extremos e acho que aos poucos fui encontrando um equilíbrio legal entre os dois.

Por fim, compreendi que Nova York é praticamente infinita e é impossível devorá-la por completo, mesmo ficando um mês, três meses e até anos, como percebi conversando com gente que está lá há mais tempo. Conforme o tempo vai passando, a lista de lugares para visitar só aumenta porque sempre tem algum evento novo, um restaurante que inaugurou, uma festa que só acontece em determinado mês.

Parei de me censurar por repetir lugares, como a Brooklyn Bridge, que tanto adoro. Foto: Débora Costa e Silva

Parei de me censurar por repetir lugares, como a Brooklyn Bridge, que tanto adoro. Foto: Débora Costa e Silva

Além disso, tem as experiências que não entram na categoria “atração”, tipo caminhar pela ilha de Manhattan de ponta a ponta, entrar em alguma rua que você cruzou por acaso para dar uma olhada em livrarias e lojas, andar de bicicleta no Hudson River Park, conhecer as igrejas do Harlem com os locais, pingar de balada em balada no East Village ou mesmo passar uma tarde lendo e ouvindo música em algum café.

No começo eu estava um pouco aflita para dar conta de tudo e me sentia culpada por passar uma tarde meio à toa. “Perdi um dia”, eu pensava. Minha amiga Mirella me visitou bem nessa época e cantou a bola: “fazer nada” também faz parte do pacote de quem mora em NY. É diferente de ir como turista, é vivenciar a cidade de outro jeito. Mais um item pra lista de aprendizados sobre equilíbrio – até porque tinham dias que não parava quieta, então nada mais natural do que ter um dia seguinte de folga 😉

O resto é só com o tempo que vou assimilar. A cidade continua sendo meu cantinho preferido no mundo porque me permite conhecer tantos outros mundos de uma só vez. É barulhenta e caótica, mas tem espaço pra parques e bairros que são quase vilarejos. O clima é louco e extremo, não tem meia estação (pelo menos pra quem vem do Brasil, o frio do outono é o nosso inverno). Tem gente apressada, mas que não nega ajuda quando tem alguém perdido – afinal, quase todos ali um dia já foram recém-chegados de algum lugar.

Em breve farei mais posts sobre outros detalhes da temporada em NYC, agora já com a cabeça no Brasil e com calma para caprichar ainda mais. Se tiverem dicas, dúvidas e sugestões mandem também que serão muito bem-vindas 🙂

Londres :: Primeiras impressões

Londres do alto da London Eye. Foto: Débora Costa e Silva

Londres do alto da London Eye. Foto: Débora Costa e Silva

Há lugares que te conquistam platonicamente, à distância, ao ver uma foto, ouvir uma música, assistir um filme ou ler alguma história. E há lugares que não despertam muito interesse à primeira vista, até que alguma coisa acontece e pá, dá um estalo e te faz ver tudo com outros olhos.

Minha história com Londres foi mais ou menos assim e o “clique” aconteceu de um jeito que jamais iria imaginar. Não foi ao ver o Big Ben, nem os ônibus vermelhos ou o rio Tâmisa: foi quando começou a garoar. Eu jamais imaginei que ia gostar e até chegar a me emocionar com isso, sempre odiei tomar chuva, mas ali, logo na minha primeira noite, sentir aquelas gotinhas finas e ver a cidade iluminada em meio aquela delicada garoa foi especial. Me senti dentro de uma cena clássica.

O clássico dos clássicos: Mind the gap! - Foto: Débora Costa e Silva

O clássico dos clássicos: Mind the gap! – Foto: Débora Costa e Silva

Até conhecer a cidade eu não tinha muito vontade de visitá-la. Penso isso hoje e fico até com vergonha – como pude não me interessar antes? Mas é que achava que os ingleses deviam ser muito arrogantes, não via nenhum glamour na família real e além de tudo, achava que devia ser um lugar frio e cinzento, com um clima meio deprê.

Foi graças à minha amiga Thaíla que fui parar lá. Ia passar as férias na Espanha e acabei incluindo Londres no roteiro para poder visitá-la. Outro empurrão foi a leitura que fazia na época da biografia dos Beatles, o que me fez começar a achar a ideia de ir para a terra deles interessante – apesar de que fora a Abbey Road, não tem muitas outras coisas que remetam ao grupo na cidade.

Vista da estação West Ham, zona leste de Londres. Foto: Débora Costa e Silva

Vista da estação West Ham, zona leste de Londres. Foto: Débora Costa e Silva

Da cena da garoa até o final dos meus 6 dias pela cidade o encanto só cresceu. Visitei as atrações clássicas? Opa, claro: fui ao Tate Modern, vi o Big Ben, passeei na London Eye, fui até a Catedral St. Paul ocupada por manifestantes do Occupy London, tomei café da manhã no Borough Market, conheci a Abbey Road (fiz a foto e vim embora frustrada – “era só isso?”), passei pela Trafagal Square e visitei a National Portrait Gallery.

Folhas típicas do outono tomavam conta da cidade, em outubro de 2011. Foto: Débora Costa e Silva

Folhas típicas do outono tomavam conta da cidade, em outubro de 2011. Foto: Débora Costa e Silva

Mas as coisas que mais me envolveram não estavam nos guias de viagem – como é de se esperar. A atmosfera dos pubs, que recebe desde os bêbados mais loucos até grupos de senhorinhas que se reúnem à tarde; a diversidade de pessoas de todos os cantos do mundo na feirinha da Portobello Road, em Notting Hill – bairro que inspirou o filme com a Julia Roberts e o Hugh Grant, que eu inclusive assisti no avião na ida; a noite que fiquei vagando sem rumo sozinha à beira do rio Tâmisa ouvindo uma cantora que tocava violão na rua; e as belíssimas árvores com folhas alaranjadas, típicas do outono, que deixavam a cidade tão linda – e me emocionaram tal qual a garoa, talvez por ter sido a primeira vez que vivi um outono com a cara da estação.

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Um pedacinho da feirinha da Portobello Road. Foto: Débora Costa e Silva

Uma das surpresas foi o Halloween – não tinha me ligado que estaria lá na data e nem achava que pudesse ser tãaaao legal. Não só pude ver casas e lojas enfeitadas como também me diverti no próprio dia 31 de outubro vendo to-do mun-do (crianças, adultos, idosos) fantasiado no metrô indo ou voltando de alguma festa. Pena não ter me preparado e arrumado uma fantasia, mas ainda bem que isso não me impediu de curtir uma das melhores festas que já fui, na casa de amigos da Thaíla, com gente da Índia, Canadá, África do Sul dançando até altas horas.

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Restaurante em Londres decorados pro Halloween. Foto: Débora Costa e Silva

Acho que não poderia ter escolhido melhor o primeiro lugar da Europa para conhecer. Qualquer destino teria causado um choque, mas o impacto de Londres é ainda maior. Em meio a tantas culturas e em um lugar com símbolos e identidade tão fortes e presentes no nosso imaginário, dá aquela sensação de não só estar viajando, mas de estar no centro do mundo. Eu que amo cidade grande quase não me perdoo por nunca ter tido vontade de ir antes, mas vibro toda vez que penso na sorte que tive ao ir para lá meio sem querer.

A viagem foi tão marcante que acabei contagiando minha irmã Luana com a ideia de ir pra lá. Três anos depois, voltei à terra da rainha na companhia dela durante sua viagem de comemoração de seus 15 anos. Nos próximos posts, contarei um pouco mais sobre os passeios mais bacanas que fiz por lá, da primeira e da segunda vez 😉

Escala cultural :: A Arte de Viajar

30175164Taí um livro de cabeceira para quem gosta de viajar – e de quebra pirar um pouquinho sobre o assunto. “A Arte de Viajar”, do Alain de Botton, é pra ler com lápis e ir grifando, porque tem muitas frases e sacadas legais. Melhor ainda é levar para ler durante uma viagem, de preferência longa, com várias horas de voo ou estrada, para entrar na piração e filosofar junto.

O autor discorre sobre alguns temas relacionados a viagem, contando histórias pessoais e misturando com experiências e escritos de autores e artistas consagrados que também já se debruçaram sobre o assunto. Ao longo do livro vamos descobrindo como algumas vivências na estrada influenciaram a vida e a obra de caras como Van Gogh, Charles Baudelaire, Gustave Flaubert e às vezes acabamos conhecendo outros (como foi o meu caso), como Edward Hopper, Alexander von Humboldt e John Ruskin.

Apesar de ter adorado o livro, confesso que demorei um pouco para engrenar. Não sei se foi o começo, com ritmo mais lento e muito descritivo, que acabou me desmotivando, mas caso isso também aconteça com você, eu garanto que vale a pena persistir. Depois do primeiro capítulo, já nos acostumamos com o estilo do autor e as histórias e os temas apresentados vão ficando mais interessantes.

Um post só não dá conta de tudo que tem de bacana nesse livro – tanto é que no meio da leitura não aguentei e fiz um texto só sobre a relação das obras do Edward Hopper (clique no nome para ler) com viagens. O autor divide os capítulos pelos seguintes assuntos: partida, motivações, paisagem, arte e retorno e há ainda ramificações de cada um deles. Pra facilitar, resolvi separar em tópicos as frases e sacadas mais interessante de cada tema (todas as citações são do próprio Alain de Botton, exceto quando há outro nome indicado):

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Na piscina do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Foto: Débora Costa e Silva

Da expectativa
O autor começa contando como um simples panfleto promocional da ilha de Barbados pode influenciar uma pessoa a viajar – no caso ele próprio. E aí ele filosofa sobre o que esperamos de uma viagem e como a realidade pode frustrar, relacionando suas experiências com o romance “Às avessas”, de J-K Huysmans de 1884, em que o personagem principal divaga sobre esse mesmo assunto, cheio de sarcasmo e pessimismo.

“Se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio – com toda a sua empolgação e seus paradoxos – quanto o ato de viajar. Ainda que de maneira desarticulada, ele expressa um entendimento de como a vida poderia ser fora das limitações do trabalho e da luta pela sobrevivência. Mas raramente se considera que as viagens apresentem problemas filosóficos – ou seja, questões convidando à reflexão além do nível prático. Somos inundados por recomendações sobre os lugares para onde viajar, mas pouco ouvimos sobre como e por que deveríamos ir”

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Na estrada, voltando do Rio para São Paulo. Foto: Débora Costa e Silva

Dos destinos de viagem
A transição de um lugar para o outro em uma viagem não é um assunto muito explorado por aí e me chamou a atenção ter um capítulo dedicado a isso no livro. O autor mostra seu fascínio por aeroportos e estações de trem, onde observa as pessoas, aviões, trens indo e vindo e divaga sobre deslocamento. Além disso, apresenta escritos do Charles Baudelaire sobre o assunto e analisa obras de Edward Hopper que retratam esses lugares de passagem (postos de estrada, quartos de hotéis etc).

“A vida é um hospital em que cada paciente está obcecado com a ideia de mudar de cama. Este quer sofrer em frente ao radiador, e aquele imagina que melhoraria se estivesse junto à janela. (…) Sempre me parece que estarei bem onde não estou, e essa questão sobre o deslocamento ocupa perenemente minha alma” – Charles Baudelaire

“Há também um prazer psicológico na decolagem, pois a rapidez da ascensão do avião é um símbolo exemplar de transformação. A demonstração de poder pode nos inspirar a imaginar mudanças análogas e decisivas em nossas vidas, a pensar que também poderíamos, um dia, lançar-nos por cima de muito do que hoje pesa sobre nós”

“As viagens são parteiras de pensamentos. Poucos lugares são mais propícios a conversas internas do que um avião, um navio ou um trem em movimento. Existe uma relação quase fantástica entre o que está diante de nossos olhos e os pensamentos que podemos ter: reflexões amplas podem requerer paisagens vastas; novas ideias, novos lugares. Reflexões introspectivas suscetíveis a empacar são auxiliadas pelo fluxo da paisagem”

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Na vila de Tzefat, em Israel. Foto: Débora Costa e Silva

Do exotismo
O que te encanta em um lugar? Se viajar fosse te levar para ver o mesmo que já tem em casa e na sua cidade, talvez não fosse lá tão interessante. É o novo, o diferente, o exótico, muitas vezes, que te marcam em um destino. Neste capítulo, o autor conta de sua viagem para Amsterdã e o que encontrou de diferente em relação a Londres, onde vive, intercalando com as experiências de Gustave Flaubert no Egito.

“Por que se deixar seduzir, em outro país, por algo tão pequeno quanto um portão? Por que se apaixonar por um lugar porque ali circulam bondes e as pessoas raramente usam cortinas em suas casas? Por mais absurdas que possam parecer as intensas reações provocadas por elementos estrangeiros tão pequenos (e calados), o padrão é ao menos conhecido em nossa vida pessoal. Também nela podemos ver-nos vinculando emoções amorosas à maneira como uma pessoa passa manteiga no pão ou nos voltando contra elas por suas preferências em matéria de sapatos. Condenar-nos por essas pequenas atenções é ignorar a riqueza de significados que pode estar contida nos detalhes”

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Viela gracinha em Madri. Foto: Débora Costa e Silva

Da curiosidade
Em uma viagem para Madri, o autor questiona a forma tradicional de explorar um destino turístico, com um guia apontando datas, números e fatos. O que isso nos acrescenta? Com base em um ensaio de Nietzche, ele filosofa sobre o que realmente nos atiça a curiosidade em cada lugar – spoiler: identificar o que se vê com sua vida, seja de forma pessoal ou relacionando com a sua própria cultura.

“Em vez de trazer 1.600 plantas, talvez voltemos de nossas viagens com uma coleção de pensamentos pequenos, despretensiosos, mas ‘enriquecedores da vida'”

“Um dos problemas em viagens é que vemos as coisas no momento errado, antes de termos uma chance de gerar a receptividade necessária e quando novas informações são, portanto, inúteis e fugidias como as contas de colar sem um fio que as prenda”

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Miguel Pereira, no interior do Rio. Foto: Débora Costa e Silva

Do campo e da cidade
Neste capítulo, o autor traz à tona questões sobre a necessidade de estarmos conectados à natureza e de darmos um tempo da vida caótica das cidades. Ele relata sua ida para Lake District, onde nasceu e viveu o poeta William Wordsworth. Ele explora os locais descritos em seus poemas enquanto filosofa sobre o impacto que uma viagem para o campo pode ter em nossas vidas.

“O poeta [William Wordsworth]  propôs que a natureza, que para ele abarcava, entre outros elementos, pássaros, córregos, narcisos e ovelhas, era um corretivo indispensável para os danos psicológicos infligidos pela vida urbana”

“Cenas da natureza têm o poder de nos sugerir certos valores – os carvalhos, dignidade; os pinheiros, resolução; os lagos, calma – e, de maneira discreta, podem agir como inspirações da virtude”

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Salar do Atacama e suas cores durante o pôr do sol. Foto: Débora Costa e Silva

Do sublime
Seguindo a toada do capítulo anterior, o autor continua a divagar sobre como a beleza e a grandeza de algumas paisagens naturais podem nos impactar – mas aqui ele reflete mais sobre a força da natureza do que sobre o choque entre cidade e campo. É sobre contemplar e entender nossa pequenez perante grandes monumentos, seja uma cachoeira, uma geleira, um deserto.

“As paisagens sublimes repetem, em termos solenes, uma lição que a vida cotidiana nos ensina cruelmente: o Universo é mais poderoso do que nós; somos frágeis e transitórios; não temos alternativa senão aceitar limitações à nossa vontade e precisamos nos dobrar a necessidades maiores do que nós mesmos.”

“Essa é a lição inscrita nas pedras do deserto e nas geleiras dos polos de maneira tão grandiosa que podemos voltar dessas paisagens inspirados, não esmagados, pelo que está diante de nós; privilegiados por obedecermos a necessidades tão majestosas. A sensação de assombro pode até evoluir para um desejo de adoração”

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Pôr do sol: campos de trigo próximos de Arles. 1888 – Van Gogh

Da arte que abre os olhos
Um dos capítulos mais bonitos e interessantes é sobre a ida de Van Gogh para a Provença e como este lugar influenciou sua pintura e o que ele viu ali de diferente e de encantador. Há cartas do pintor para familiares que dão pistas de como foi esse processo, além de detalhes da experiência do autor no destino. Uma pena que as imagens do livro são todas em preto e branco.

“Van Gogh, embora apaixonadamente interessado em produzir uma ‘semelhança’, insistia que não seria cuidando das proporções que transmitiria o que era importante no sul [da França]; sua arte envolveria, como ele disse, sarcástico, ao irmão, ‘uma semelhança diferente dos produtos do fotógrafo temente a Deus’. A porção da realidade que o interessava às vezes requeria distorção, omissão e substituição de cores para ser destacada, mas ainda assim era o real – ‘a semelhança’ – que o interessava. Ele estava disposto a sacrificar o realismo ingênuo para alcançar um realismo mais profundo, comportando-se como um poeta que, apesar de menos factual do que um jornalista na descrição de um acontecimento, pode, ainda assim, revelar verdades que não têm lugar na perspectiva literal do outro.”

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Um dos desenhos de John Ruskin

Da posse da beleza
Em tempos em que se fotografa tudo e muito, vale a reflexão desse capítulo sobre esse desejo de captar e guardar tudo de bonito e impactante que vemos. O autor apresenta as ideias de John Ruskin, que defendia o desenho como a melhor forma de registrar alguma cena – mesmo para quem não desenha “bem”. É que ao tentar desenhar, nossa atenção aos detalhes e a contemplação são muito maiores do que se apenas fizermos fotos. Achei sensacional.

“A partir de seu interesse pela beleza e por sua posse, [John] Ruskin chegou a cinco conclusões principais. Primeiro, a beleza resulta de uma variedade complexa de fatores que afetam a mente psicológica e visualmente. Segundo, os seres humanos têm uma tendência inata a reagir à beleza e desejar possuí-la. Terceiro, existem muitas expressões inferiores desse desejo, entre elas o desejo de comprar suvenirs e tapetes, de inscrever o próprio nome em colunas e de tirar fotografias. Quarto, existe apenas uma maneira de se apossar realmente da beleza, que é entendendo-a, tornando-nos conscientes dos fatores (psicológicos e visuais) responsáveis por ela. E, finalmente, a maneira mais eficiente para buscar esse entendimento consciente é pela tentativa de descrever lugares belos através da arte, da escrita ou do desenho, a despeito de termos ou não algum talento para tal”.

“Se o desenho tinha valor mesmo quando praticado por pessoas sem talento, era porque, segundo Ruskin, ele nos ensinava a ver: a reparar, em vez de simplesmente olhar. Nesse processo de recriar com as mãos aquilo que temos diante dos olhos parecemos mover-nos naturalmente de uma posição de observação despreocupada da beleza para outra em que adquirimos uma compreensão profunda de seus elementos constituintes e, portanto, lembranças mais formes dela”

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Minhocão fechado em um domingo, em SP. Foto: Débora Costa e Silva

Do hábito
Para fechar, por meio da obra do francês Xavier de Maistre (“Viagem ao redor do meu quarto”, escrito em 1790), o autor explora o conceito de viajar em seu próprio habitat. Acho que esse é sempre o conselho mais valioso quando se fala sobre viagem: abrir os olhos e explorar sua cidade ou bairro como se estivesse em uma viagem, atento aos detalhes e à beleza de coisas simples.

“(…) a obra de [Xavier] de Maistre emana de uma percepção profunda e sugestiva: o prazer que extraímos das viagens talvez dependa mais do estado de espírito em que viajamos do que do destino. Se pudéssemos aplicar o estado de espírito de quem viaja aos nossos lugares, constataríamos que esses lugares não são menos interessantes do que os desfiladeiros em montanhas altas e as florestas cheias de borboletas da América do Sul (…)”

“Mas o que é o estado de espírito de viajante? Pode-se dizer que a receptividade é sua principal característica. Aproximamo-nos de novos lugares com humildade. Não trazemos ideias rígidas sobre o que é interessante. Causamos irritação aos moradores locais porque paramos em trechos em obras da pista, obstruímos o caminho em ruas estreitas e admiramos o que eles consideram detalhes pequenos e estranhos. Corremos o risco de ser atropelados porque ficamos intrigados com o telhado de um prédio governamental ou com a inscrição de uma parede. Pensamos que um supermercado ou um salão de cabeleireiros é especialmente fascinante. Exploramos de forma interminável a apresentação de um cardápio ou as roupas dos apresentadores do noticiário noturno. Estamos atentos às camadas de história por baixo do presente, tomamos notas e tiramos fotos.”

Thelma & Louise – ou sobre mulheres que viajam sozinhas

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Feminismo, emponderamento, sororidade, #vamosfazerumescândalo, #fightlikeagirl… são tantos termos e hashtags que começaram a pipocar na internet sobre o universo feminino, tantos movimentos, tantas vozes que passaram a ser mais ouvidas, que não há como negar que o girl power (meu termo preferido :P) têm crescido e ganhado cada vez mais força nos últimos anos.

Foi então que finalmente assisti o filme “Thelma & Louise”, o clássico dos clássicos – sim, beirando os 30, uma falha grave mas que acabei de corrigir. É tão maravilhoso e marcante que é até difícil falar sobre. Mas não dá para ter um blog de viagens, ser mulher e não fazer nenhuma menção a ele. Mais do que isso: o momento é oportuno, já que na última semana rolou muita discussão sobre mulheres que viajam sozinhas por conta desse triste episódio das turistas argentinas que foram mortas no Equador. E o mais incrível: foi lançado láaaa em 1991, muito antes do momento feminista que vivemos, décadas depois da queima de sutiãs dos anos 60 e quebra tudo!

Vamos ao filme: “Thelma & Louise” é um road movie dirigido por Ridley Scott e estrelado por Geena Davis e Susan Sarandon – e ainda conta com uma participação especial de Brad Pitt, no início da carreira. A história em si pode não parecer lá muito interessante: duas amigas resolvem passar um fim de semana juntas viajando, acabam cometendo um crime e começam a fugir da polícia – se metendo em altas confusões, como diria a chamada da Sessão da Tarde rs.

Tá, mas não é só isso. É muito mais.  Diz muito sobre ser mulher e o que isso implica nas nossas relações amorosas, profissionais e sociais, na nossa auto-estima e na nossa segurança, pra dizer o mínimo. E como todo bom filme de viagem, tem a combinação de trilha sonora incrível, paisagens inspiradoras e personagens que se libertam ao cair na estrada – e é sobre isso que eu queria falar!

Thelma (Geena Davis) é casada, dona de casa, submissa, faz tudo pelo marido, que a trata mal e não a valoriza. Louise (Susan Sarandon) é garçonete, mais independente e despachada, mas tem um rolo com um cara que volta e meia some por aí. Daí elas resolvem sair para viajar juntas no fim de semana e já aparece um dos problemas: como a Thelma vai pedir ou avisar o marido que vai viajar?

Sem entrar em detalhes ou lançar muitos spoilers para quem ainda não viu (mas vejam, vejam!), elas caem na estrada e na primeira parada já rola a grande treta: em um momento de total descontração e libertação, Thelma dança com um cara em um bar, está lá, se divertindo horrores, até que ele a leva pra fora e tenta transar com ela. Não, ela não está afim, e sim, ele pega pesado e começa a estuprá-la. Até que Louise, que estava em busca da amiga que tinha sumido, tenta salvá-la, mas o cara continua forçando a barra e aí, meus amigos, ela atira nele. Se por um lado você vê isso como um ato heroico, por outro é inegável que elas terão problemas dali pra frente porque o cara morreu e elas decidem fugir e seguir viagem.

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Ao longo do filme elas vão se encrencando cada vez mais durante a fuga e percebendo que será inviável voltar para a cidade e para suas próprias vidas – seja pelo crime, seja pelas transformações que as experiências da viagem foram causando. Ao encarar situações completamente diferentes, elas se redescobrem, se reinventam e se fortalecem. Tem sexo casual, DRs, brigas, mas as personagens também encontram uma na outra apoio e companheirismo – e essa é uma das maiores lições que saquei no filme e estou sacando na vida também com a ajuda do feminismo.

“Mulher não tem amizade, é só competição”, gostam de dizer por aí – e eu mesma já devo ter dito isso algumas vezes, infelizmente. É claro, fomos condicionadas a encarar a outra como a inimiga que pode chamar mais atenção que você e fisgar o teu cara. Porque, né, achar o amor da sua vida é o grande prêmio e ai de alguma biscate que tente roubá-lo. Pô, ter amigas mulheres não devia ser assim e não é se você conseguir enxergar a parceria rica que pode existir entre duas (ou mais) mulheres. Juntas somos mais fortes, sim! E em uma viagem, ter uma amiga como testemunha de tudo o que se está vivendo é maravilhoso.

O caso absurdo das meninas que morreram no Equador e que, mesmo após a morte, não foram poupadas e sim julgadas por estarem “sozinhas” me fez pensar em todas as vezes que deixei de fazer algo mais bacana durante uma viagem por medo de sofrer algum tipo de abuso e violência. Pegar carona, sair à noite sozinha em alguns lugares mais desertos, entrar numa trilha, estar de biquíni (sim, bizarro) e até mesmo decidir fazer uma viagem pode ser mais difícil, dependendo como e para onde. É injusto.

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Quero ser livre para poder experimentar as coisas sem medo, sem sofrer represálias, correndo apenas o risco de viver o desconhecido à vontade e curtir o friozinho na barriga. Seja entre amigas ou não, merecemos ter esse direito. Viajar sozinha é tão incrível, a gente se descobre, aprende a saborear a própria companhia e a se amar.  E é só se amando e fortalecendo a auto-estima que a gente consegue ter forças para superar as dificuldades e combater as injustiças com tudo, sem medo de parecer neurótica, fresca ou louca.

Pra fechar e inspirar, uma das minhas cenas favoritas do filme ❤ e alguns links com textos bacanas sobre mulheres e viagem. E que tenhamos todas um 8 de março cheio de girl power, respeito, parceria e amor.

Para ler mais:

Mas você vai sozinha? – Think Olga

O machismo nosso de cada viagem – Dentro do Mochilão

Sobre viajar sozinha – Delícia de blog

7 motivos para viajar sozinho – Mari Campos

7 relatos de mulheres para te inspirar a viajar sozinha – 360 meridianos

Mulheres viajantes: quebrando horizontes (e paradigmas) – Voopter

Top 10 :: Atitudes para me tornar uma viajante melhor

Pra começar o ano bem, nada como reciclar maus hábitos e aprimorar os que nos fazem bem, né? Pensando nisso, elaborei uma listinha de atitudes para me tornar uma viajante melhor. Eu curto aproveitar a virada para elencar os desejos para o ano seguinte ou até fazer um balanço do que passou. Acho que é terapêutico e ajuda a colocar as ideias e objetivos em ordem.

Coloquei na lista coisas que vivo prometendo que vou fazer – algumas já consegui um bom avanço, outras ainda estou devendo muito, mas acho que muita gente pode se identificar também. Veja aí se tem alguma que você também tá afim de cumprir 😉

1 – Pesquisar e planejar mais

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Eu tenho a mania de “deixar acontecer naturalmente” nas viagens, como diz o clássico pagode. Por um lado é bom, claro, porque fico mais livre, as coisas fluem melhor, o efeito surpresa rola solto e respeito mais minhas vontades, sem ficar muito presa a um cronograma e ficar tensa por causa disso.

Mas esses benefícios vão até a página 2,  porque acabo perdendo muita coisa legal: descubro um restaurante incrível, um cantinho diferente ou uma atração bacana já perto da volta, ou já em casa, ou descubro que precisava fazer reserva ou que o passeio só tem aos sábados e eu volto pra casa na sexta. Umas pataquadas assim, sabe? O desafio é combinar melhor planejamento com dias e horários livres. Ler mais sobre um lugar, mas não tanto a ponto de estragar algumas surpresas. Enfim, um dia eu chego lá!

2 – Economizar antes…

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Old, but gold. Sem dinheiro não dá para viajar e ponto. Por mais que existam hostels, couch surfing e esquemas para mochileiros, é quase impossível cair na estrada sem um mínimo de planejamento financeiro. E isso tem que ficar como um alerta fixo na cabeça de quem não quer deixar de aproveitar férias e feriados. Economizar no cinema, nas compras, nos jantares, em shows, enfim, não tem como você querer fazer uma viagem grande e fodona sem sentir o impacto no seu dia a dia. Questão de prioridades.

3 – … e durante a viagem também!

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É tão óbvio, mas tô eu aqui ainda fazendo a rycah e gastando muitas vezes sem pensar. Pensamentos como “tô de férias” ou “talvez nunca mais tenha uma chance dessas” acabam me levando a endividamentos desnecessários. Às vezes uma boa pesquisa já ajuda a encontrar jeitos mais econômicos de chegar a algum lugar. Paciência também é necessária – só assim para encontrar uma hospedagem mais barata, por exemplo. E as milhas hein? Você já sabe usar? Eu precisava aproveitar melhor os programas de milhagem para fazer valer a pena de verdade.

3 – Compartilhar menos, viver mais

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Em tempos de Face, Insta, Snap, Periscope e sei lá mais quantas outras redes sociais, é quase irresistível postar uma foto do pôr-do-sol, do prato lindo que chegou pro jantar ou dos pés à beira da piscina. Até porque, temos que lidar com posts de gente linda, realizada e arrasando por aí todo dia. Quando chega sua vez de curtir seu auge, bate uma vontade de gritar pro mundo o quanto você está feliz, sim, ué!

Cada um cada um, mas comigo a sensação é que a internet me rapta e demora a me devolver pro mundo real. Eu entro para postar uma foto e de repente, passei meia hora lendo o que todo mundo postou, cliquei num link, abri o link relacionado, já vi um vídeo… e aí o sol já foi embora, o vento bateu e esfriou a água da piscina, enfim, perdi um momento único que não volta mais. Desconectar é super importante e faz toda a diferença em uma viagem, como já refleti neste post sobre Visconde de Mauá.

4 – Fotografar menos, contemplar mais

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A ideia é bem parecida com a do item anterior, até porque quem está mega conectado também deve já cultivar o hábito de fotografar e registrar tudo e muito. Faço aqui meu mea culpa: eu tiro muita foto, mesmo. Sempre foi assim, mesmo antes de ter câmera mais profissa e estudar o negócio. Depois só piorou, entrou o lado perfeccionista de querer fazer a melhor foto, ir clicando, analisando e repetindo sem limites.

Cheguei ao ponto de observar cenas só através da câmera. Isso é péssimo e já venho trabalhando nisso, de refletir sobre uma foto sem o equipamento colado no olho, observar melhor o lugar, me permitir sentir o clima e pensar melhor na foto que quero fazer. Além do “tiro” ser mais certeiro, consigo contemplar mais a beleza e o momento. Já melhorei bem, mas segue na lista para aprimorar ainda mais, porque ainda tô longe. Sem contar que na hora de editar as fotos… ninguém aguenta!

5 – Comprar menos

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Por mais que freeshops e outlets raramente estejam nas minhas prioridades ou pontos de parada, eu adoro uma feirinha de artesanato ou lojinhas temáticas. E sou “a louca” do souvenir, gosto de trazer algo pra casa pra lembrar da viagem. Mas já deu rs. Não vou condenar aqui quem viaja e gasta horas ou até dias indo em busca de um produto ou melhores preços – não faz meu estilo, mas vai do gosto e da disposição de cada um.

Pra mim só não funciona mais aquela coisa de “ter que comprar algo daqui”. Não gostei? Achei caro? O mercado é longe de tudo? O dinheiro está acabando? Não levo e pronto. Há milhares de outras formas de guardar lembranças de uma viagem. O mesmo para lembrancinhas para amigos e família. Nas primeiras viagens, eu ficava tensa e procurando coisas para os outros, não podia faltar pra ninguém, eu sofria. Mas com o tempo foi ficando cara a brincadeira. Se não trombar com algo que seja a cara de uma pessoa, não compro mais. Em 2015 já super coloquei em prática, que continue assim.

6 – Comer e beber menos

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Aquele lema do “eu tô de férias, eu mereço” super se encaixa aqui também. Afinal, como deixar de comer uma pratada de macarrão, pedir sobremesa e beber um vinho incrível quando está em um lugar novo? Faz parte da experiência, eu mesma já disse centenas de vezes. E faz – só não faz parte se acabar de comer em quantidades absurdas e acima do seu padrão, porque “é férias e tudo bem”. Pelo menos não pra mim, pois o resultado depois não compensa e o discurso do “eu mereço” cai por terra. Olho no espelho e não acho que mereço, não. E bate o arrependimento.

O mesmo vale pra bebidas alcoólicas. Quantas manhãs perdidas em viagens eu já não tive por estar de ressaca? Algumas vezes são escolhas, quero curtir mais a noite do que o dia e tudo bem. Mas ainda assim ainda acho que dá para equilibrar melhor. Como? Bebendo menos e me estragando menos para o resto da viagem.

7 – Me arriscar mais

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Viajar é se abrir para o novo, certo? Então não adianta muita coisa ir para um lugar diferente para fazer as mesmas coisas de sempre, né? Mergulhar com cilindro, entrar na cachoeira gelada, voar de asa delta, comer insetos fritos, andar de patins, dançar forró… a lista pode ser infinita se você estiver disposto.

Às vezes nem sabemos o que poderíamos fazer de diferente, afinal sair da zona de conforto não é nada simples, muito menos automático. Mas se aparecer a chance, tente não desperdiçá-la. Pra mim ainda falta me arriscar mais na gastronomia. Sou chata para comer e queria me jogar mais, mas ainda assim tenho tentado experimentar pelo menos alguma coisa nova toda vez.

8 – Entrar no ritmo e na vibe do lugar

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Esse item acho que vale para qualquer viagem para um destino bem diferente, como países asiáticos ou árabes, onde o choque cultural é grande, mas eu pensei no assunto porque acabei de voltar do Nordeste, onde o ritmo das coisas é pelo menos cinco vezes mais lento que o de São Paulo, onde eu moro. E qual a tendência? Ficar puto, impaciente e irritado com tudo: as pessoas andando mais devagar, o prato do restaurante levando mais de uma hora para sair e por aí vai. Ou até entediado!

Bom, geralmente temos duas escolhas: ou a gente passa a viagem toda de mau humor ou entra no clima e relaxa. Eu sempre digo que sair e se desligar de São paulo demora uns bons dias, mas pra voltar é rapidinho. Então que tal aproveitar e desacelerar, tentar entender o novo ritmo, a forma com que as pessoas lidam com as coisas? Isso pode até trazer mudanças no seu dia-a-dia na volta das férias. Pra mim é sempre difícil o primeiro impacto, mas aos poucos vou me desligando e entrando no clima do lugar – e aí depois sofro tudo de novo quando volto pra São Paulo, mas tudo bem rs.

9 – Escrever sobre a viagem

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Quando comecei a viajar a trabalho, escrevia uma espécie de diário de bordo das viagens, tanto para guardar quanto para facilitar para escrever as matérias depois. Com o tempo, fui confiando na memória, gravando áudios, filmando, enfim, encontrei novas formas de registrar os acontecimentos e parei de escrever. E aí, como já se pode imaginar, muita coisa legal se perdeu 😦

Quero ver se retomo isso durante as viagens ou pelo menos escrever assim que voltar, seja pro blog ou num caderninho. O que já fiz algumas vezes foi anotar em tópicos as coisas mais importantes e já ajudou bem a refrescar a memória. Sei que na hora pode dar preguiça, mas no futuro vai ser uma delícia reler e relembrar cada história.

10 – Ser viajante na cidade onde moro

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Esse é o último item, mas para mim o um dos mais importantes. Acho que desde que comecei a fazer mais fotos já incorporei um pouco mais o espírito de turista na minha própria cidade: reparo mais nos detalhes, nos prédios, nos grafites, nas pessoas, nas cenas do dia-a-dia. Encontrar algo novo e inspirador é possível mesmo nessa São Paulo cinzenta – e aposto que em qualquer lugar do mundo.

Mas a meta pra 2016 não é só ficar flanando por aí, não. Quero ir em mais exposições, shows e curtir melhor o lado cultural da cidade, assim como fazemos quando vamos a um destino europeu, por exemplo. Minha lista de monumentos de São Paulo a visitar ainda é imensa, uma vergonha que preciso e vou corrigir esse ano.

E aí, se identificou com algum item? Discordou de alguma coisa? Tem sugestões? Comente aí! Aproveito e desejo a todos um ótimo ano novo, com muitas viagens pela frente ❤

Retrospectiva 2015

Papetes no céu - ou na beira da piscina do Parque Lage, no Rio, meu lugar predileto na cidade <3. Fotos: Débora Costa e Silva

Papetes no céu – ou na beira da piscina do Parque Lage, no Rio, meu lugar predileto na cidade

Fim de ano é a hora que fazemos um balanço geral das conquistas, decepções e realizações dos últimos 12 meses. Sei que 2015 não foi fácil por N motivos para muita gente e para mim não foi diferente. Mas uma coisa eu tenho muito a agradecer: as oportunidades de viagens que tive e que salvaram alguns momentos difíceis.

E, claro, deixando o drama de lado, também tiveram aquelas que apareceram em momentos bons e que serviram para celebrar a vida! Enfim, como diria o Rei, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!”.

Mas de todos os acontecimentos de 2015, um deles é especial: ter dado vida a este blog, que ficou anos no armário esperando eu deixar de ter vergonha e começar a escrevê-lo. Parece bobagem, mas era tão importante pra mim que virou um bicho de sete cabeças e eu comecei a colocar obstáculos que foram afastando a ideia. Afinal, tem tanta coisa incrível por aí na internet que quando eu pensava em fazer algo meu, achava que tinha que ser no mínimo foda.

Aos poucos fui me libertando dessa piração e resolvi apenas fazer, com a única pretensão de me divertir e registrar histórias dos bons momentos das viagens. E bom, rolou e estamos aí, devagar e sempre alimentando esse espaço com relatos, lembranças, inspiração e curiosidades! Que venham muitos posts pela frente! ❤

Pra celebrar, separei fotos dos lugares bacanas que visitei este ano! Em alguns tem posts relacionados, é só clicar nas palavras que estão em verde. Espero que gostem e aproveitem para relembrar das suas próprias viagens – ou quem sabe ter ideias para as próximas, já que 2016 taí 😉

Arraial do Cabo – RJ

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Que lugar mais lindo! Já tinha visto em fotos o mar de cor azul-Caribe, mas não imaginava que pudesse ser assim tão impressionante! Minha família alugou casa lá e foi otimo: fomos em diversas praias e fizemos um passeio de barco imperdivel! Em breve escrevo sobre essa viagem por aqui!

Guaratuba – SP

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Praia da minha infância e das minhas melhores lembranças. Foi numa dessas incursões familiares que aproveitei para matar as saudades desse mar gostoso de águas calmas durante a Páscoa. O post sobre esta praia de Bertioga, onde minha família tem casa há mais de 25 anos, já está no forno, com direito a fotos antigas e tudo!

Rio de Janeiro – RJ

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Tento passar uma semana no Rio pelo menos uma vez ao ano e acho pouco. Cada vez que vou tento conhecer algum lugar novo e ainda faltam vários da lista, mas esse ano consegui finalmente ir a um dos mais importantes: o Cristo Redentor! Acabei repetindo lugares deliciosos, como o Parque Lage e o bairro de Santa Teresa porque também curto essa sensação de familiaridade. Rio, te quero mais!

Bariloche – Argentina

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Foi minha terceira visita a essa cidade fofa da Argentina, uma pena que não deu para esquiar. Mas fiz coisas diferentes, como esse passeio de motinho pela neve, conheci um refúgio no alto da montanha incrível (ainda virá post sobre isso) e, claro, muita comilança, bons vinhos e paisagens fantásticas. Mas o momento mais querido foi encontrar novamente o Marito, dono de uma das lojas mais antigas de Bariloche, e entrevistá-lo pro blog.

Paraty – RJ

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Conheci finalmente a cidade da Flip, durante um bate-volta de Ubatuba. Passei o fim de tarde por lá fotografando e me equilibrando nas pedras das ruas da cidade e me encantando por sua beleza, suas cores e todo o charme que eu só conhecia por fotos. Ficou o gostinho de quero mais. Vamos ver se volto em breve para explorar Paraty com calma, porque merece!

Atacama – Chile

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Minha segunda vez no Atacama foi incrível e sob uma nova perspectiva: não mais como jornalista convidada, mas como assessora de imprensa acompanhando um grupo de repórteres. Foi trabalho, mas também foi lazer, e vi paisagens diferentes como essa do Vale da Morte – da outra vez não cheguei a ver esse penhasco -, as Termas Puritanas, os Gêiseres del Tatio e a noite de observação das estrelas. Conheci também um jovem guia cheio de sonhos e projetos de viagens que virou post aqui.

Santiago – Chile

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Entre idas e vindas, consegui curtir um pouquinho de Santiago em uma tarde. Caminhei do bairro Lastarria até onde fica o Mercado, passando por um parque super gostoso. Mas curti mesmo o bairro Lastarria, seus barzinhos e lojinhas bacanas. Santiago nunca foi meu destino final, sempre estive de passagem, quero ver se em 2016 eu mudo essa história! 😉

Torres del Paine – Chile

Vista das Torres del Paine, na Patagônia chilena. Foto: Débora Costa e Silva

Realizei um sonho ao conhecer mais esse pedaço da Patagônia, um dos mais bonitos, especiais e remotos. Ao ficar hospedada no Tierra Patagonia, a sensação era de estar abraçada pela natureza: no café da manhã, vi ovelhas e guanacos pela janela e a sensação de estar no fim do mundo bateu – com toda sua beleza e seus temores. As torres acabei vendo só de longe, agora é mais uma desculpa para voltar pronta pro trekking e ver esse monumento de pertinho! Escrevi também sobre o guia-motorista Antonio, que fez reflexões profundas sobre viver por essas bandas.

Pucón – Chile

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Não conhecia nada do meio do Chile, só os extremos, e adorei Pucón! Confesso que não foi fácil: teve muita chuva, muito frio, fiquei doente e voltei com dor de ouvido no avião. Mas valeu muito a pena, o lugar é lindo, o hotel Antumalal (na foto), incrustado na montanha, tem alguma coisa mágica que nos faz relaxar e ficar em frente à lareira lendo um livro e esperando a chuva passar era tudo o que eu estava precisando.

Tenho mais uma viagem este ano para celebrar a virada, depois venho aqui contar! Ano que vem volto com fotos e posts e desejo a todos um fantástico 2016, repleto de boas energias, ótimas experiências e muitas viagens! ❤

Patagônia :: Terra de extremos

Cruzeiro Australis percorre as geleiras e ilhas da Terra do Fogo, no extremo sul da América Latina - Foto: Débora Costa e Silva

Cruzeiro Australis percorre as geleiras e ilhas da Terra do Fogo, no extremo sul da América Latina – Foto: Débora Costa e Silva

É curioso o quanto o trajeto de uma viagem influencia as impressões sobre o lugar para onde vamos. Nas duas vezes em que fui para a Patagônia chilena (a primeira em 2009, e a última agora, em agosto de 2015, ambas a trabalho) tive percalços e muita tensão durante a ida. Acho que isso fez com que esse destino que já é especial, se tornasse tão marcante para mim.

Chegar de uma viagem cansativa na praia é uma coisa: você é acolhido pelo mormaço, pelo céu azul, pelo sol, pela maresia e por uma calmaria geral. Já quando se vai para um destino de inverno as coisas começam a complicar: você usa mais roupas, é difícil se locomover, o céu pode estar cinzento, às vezes tem até chuva e o vento dificulta seus passos. A Patagônia é assim, dura na queda, não é de sorriso fácil. Mas ela conquista aos poucos e definitivamente.

Pensa n num lugar frio. E lindo. É aqui! Na foto, um dos glaciares vistos no cruzeiro pela Terra do Fogo. Foto: Débora Costa e Silva

Pensa n num lugar frio. E lindo. É aqui! Na foto, um dos glaciares vistos no cruzeiro pela Terra do Fogo. Foto: Débora Costa e Silva

Meu primeiro encontro com este lugar foi há seis anos, quando fiz o cruzeiro Australis, que navega pelas ilhotas e geleiras da Terra do Fogo, de Punta Arenas (Chile) para Ushuaia (Argentina). Foi a primeira viagem a trabalho, sozinha e também a primeira (e única) vez que perdi um voo e quase pus tudo a perder. Culpa de um taxista mercenário que mudou de trajeto até o aeroporto qua-tro ve-zes e me fez chegar 5 minutos depois do check-in ter encerrado.

Chorei muito no balcão da TAM até ser expulsa (“Você pode sair daqui? Está atrapalhando”). Com a ajuda da minha mãe, ninja das burocracias de viagem, consegui embarcar em um voo da LAN meia hora mais tarde. Depois de muito correr, tremer e chorar, consegui chegar a tempo de pegar outro voo para Punta Arenas e finalmente embarcar no cruzeiro.

Vista de montanhas de picos nevados a partir da Baía Wulaia, no extremo sul do Chile. Foto: Débora Costa e Silva

Vista de montanhas de picos nevados a partir da Baía Wulaia, no extremo sul do Chile. Foto: Débora Costa e Silva

O vento gelado e cortante é onipresente e deu o tom da viagem. Foi mágico estar cercada de glaciares, ver de perto condores, elefantes marinhos e pinguins, enfim, estar imersa à natureza  patagônica. A sensação de ter chegado ao fim do mundo é, ao mesmo tempo, encantadora e assustadora. Não há dúvidas de quem manda ali é a natureza. Tudo é intenso. Costumam dizer por lá que é possível ter em um só dia as quatro estações do ano: abre o céu, vem o sol, venta, chove, refresca, gela, ameniza, passam nuvens, volta o sol e o ciclo recomeça. Terra de extremos.

Corta a cena e pula para agosto de 2015. Novamente a trabalho, tinha uma passagem em que constava “Punta Arenas” como o destino final. O avião saía de Santiago, parava em Puerto Montt e seguia até lá. Durante o voo fiquei relembrando todas essas sensações da primeira vez, em como era especial estar de volta, o quanto estava com saudades de sentir aquele frio com gostinho de Patagônia, em como eu precisava dessa viagem para descansar da vida atribulada e aproveitar para relaxar a mente, ter insights legais, dar aquela pirada gostosa…

Não importa se é a primeira ou a quinquagésima vez: quando vemos a neve cair, o encanto permanece o mesmo. Foto: Débora Costa e Silva

Não importa se é a primeira ou a quinquagésima vez: quando vemos a neve cair, o encanto permanece o mesmo. Foto: Débora Costa e Silva

Eis que chegamos em Puerto Montt e o cenário mudou. Ao invés do gosto de pisco souer para comemorar, o sabor amargo de um café que me servi na sala de embarque para aliviar a tensão de ter que esperar consertarem um vazamento no avião. Fiquei com o grupo de jornalistas pensando nas várias possibilidades do que poderia acontecer: teríamos que esperar outro voo? Mas tem outro voo? Vamos dormir aqui?

A resposta veio logo: o vazamento foi resolvido. Ufa, meia horinha de puro drama e nada mais, tudo certo. Voltamos para os nossos assentos, ainda bastante temerosos em relação a essa rápida solução, mas ok. Peguei o caderninho, coloquei o cinto e voltamos ao céu.

O céu da Patagônia é quase sempre sinistro assim, cheio de nuvens e cores que dão um aspecto sombrio e mágico ao lugar. Foto: Débora Costa e Silva

O céu da Patagônia é quase sempre sinistro assim, cheio de nuvens e cores que dão um aspecto sombrio e mágico ao lugar. Foto: Débora Costa e Silva

Mas tão logo começou a voar, o avião passou a chacoalhar: de um lado para o outro, para frente e para trás. Eu normalmente sou tranquila em relação à turbulências, mas essas me assustaram. Era culpa do vento, aquele que estava descrevendo alguns parágrafos acima. Tão gostoso e fresco na memória, mas de repente tão brusco e apavorante. Se lá do alto dava para sentir sua força, imagine em terra firme? Para ajudar, olhei para fora da janelinha e o céu estava num tom de cinza sinistro.

Tentei voltar a escrever, mas essa altura já estava com o estômago revirado e beeeem distante daquele romantismo todo. Como alguém pode gostar dessa ventania, capaz de balançar tão forte um avião? Como eu pude pensar que estava com saudades desse frio, desse lugar bizarro e sombrio?

Vista das Torres del Paine, na Patagônia chilena. Foto: Débora Costa e Silva

Vista das Torres del Paine, na Patagônia chilena. Foto: Débora Costa e Silva

Finalmente pousamos. O frio veio me dar boas vindas, gelando meu nariz e qualquer pedacinho descoberto do meu corpo. Por mais que eu me esforçasse em ver beleza na chegada, o enjoo do voo persistiu e me acompanhou durante toda a viagem de carro até o hotel. Foram longas quatro horas, em que eu não sabia se comia, bebia água, mascava chiclete ou deixava meu estômago embrulhado quieto na dele.

Chegamos no hotel à noite e o alívio foi substituindo o mal estar. Não era para menos, o Tierra Patagônia é sensacional: todo feito de madeira, te dá uma sensação de aconchego logo de cara. Fui dormir apavorada com os barulhos do vento, da madeira rangendo – pra ajudar a luz do banheiro piscava, quase filme de terror – e zonza ainda da viagem, sem saber direito onde estava, como e por que. Descobri só no dia seguinte, quando abri a cortina e dei de cara com as Torres del Paine na janela.

Na praça central de Punta Arenas, tem essa estátua de um índio. Dizem que para voltar ao destino, e preciso beijar seu pé. E não é que voltei? :P

Na praça de Punta Arenas, tem essa estátua de um índio. Dizem que para voltar ao destino, é preciso beijar seu pé. E não é que voltei? 😛

Pronto, mais um sonho realizado. Mais uma vez aquele céu, o vento, os galhos secos, os arbustos amarelos, as montanhas de picos nevados, os condores – agora acompanhados também de ovelhas e guanacos – me curando da ressaca da viagem. De novo eu ali, como uma menininha com medo do escuro, com frio na barriga, prestes a explorar um novo lugar. Mais uma vez uma fase nova da vida marcada por este destino que consideram o fim do mundo, mas que pra mim se tornou um lugar de renovação e recomeços.

Vai lá!
Matéria que fiz para o UOL Viagem sobre o cruzeiro Australis.