Há lugares que te conquistam platonicamente, à distância, ao ver uma foto, ouvir uma música, assistir um filme ou ler alguma história. E há lugares que não despertam muito interesse à primeira vista, até que alguma coisa acontece e pá, dá um estalo e te faz ver tudo com outros olhos.
Minha história com Londres foi mais ou menos assim e o “clique” aconteceu de um jeito que jamais iria imaginar. Não foi ao ver o Big Ben, nem os ônibus vermelhos ou o rio Tâmisa: foi quando começou a garoar. Eu jamais imaginei que ia gostar e até chegar a me emocionar com isso, sempre odiei tomar chuva, mas ali, logo na minha primeira noite, sentir aquelas gotinhas finas e ver a cidade iluminada em meio aquela delicada garoa foi especial. Me senti dentro de uma cena clássica.
Até conhecer a cidade eu não tinha muito vontade de visitá-la. Penso isso hoje e fico até com vergonha – como pude não me interessar antes? Mas é que achava que os ingleses deviam ser muito arrogantes, não via nenhum glamour na família real e além de tudo, achava que devia ser um lugar frio e cinzento, com um clima meio deprê.
Foi graças à minha amiga Thaíla que fui parar lá. Ia passar as férias na Espanha e acabei incluindo Londres no roteiro para poder visitá-la. Outro empurrão foi a leitura que fazia na época da biografia dos Beatles, o que me fez começar a achar a ideia de ir para a terra deles interessante – apesar de que fora a Abbey Road, não tem muitas outras coisas que remetam ao grupo na cidade.
Da cena da garoa até o final dos meus 6 dias pela cidade o encanto só cresceu. Visitei as atrações clássicas? Opa, claro: fui ao Tate Modern, vi o Big Ben, passeei na London Eye, fui até a Catedral St. Paul ocupada por manifestantes do Occupy London, tomei café da manhã no Borough Market, conheci a Abbey Road (fiz a foto e vim embora frustrada – “era só isso?”), passei pela Trafagal Square e visitei a National Portrait Gallery.
Mas as coisas que mais me envolveram não estavam nos guias de viagem – como é de se esperar. A atmosfera dos pubs, que recebe desde os bêbados mais loucos até grupos de senhorinhas que se reúnem à tarde; a diversidade de pessoas de todos os cantos do mundo na feirinha da Portobello Road, em Notting Hill – bairro que inspirou o filme com a Julia Roberts e o Hugh Grant, que eu inclusive assisti no avião na ida; a noite que fiquei vagando sem rumo sozinha à beira do rio Tâmisa ouvindo uma cantora que tocava violão na rua; e as belíssimas árvores com folhas alaranjadas, típicas do outono, que deixavam a cidade tão linda – e me emocionaram tal qual a garoa, talvez por ter sido a primeira vez que vivi um outono com a cara da estação.
Uma das surpresas foi o Halloween – não tinha me ligado que estaria lá na data e nem achava que pudesse ser tãaaao legal. Não só pude ver casas e lojas enfeitadas como também me diverti no próprio dia 31 de outubro vendo to-do mun-do (crianças, adultos, idosos) fantasiado no metrô indo ou voltando de alguma festa. Pena não ter me preparado e arrumado uma fantasia, mas ainda bem que isso não me impediu de curtir uma das melhores festas que já fui, na casa de amigos da Thaíla, com gente da Índia, Canadá, África do Sul dançando até altas horas.
Acho que não poderia ter escolhido melhor o primeiro lugar da Europa para conhecer. Qualquer destino teria causado um choque, mas o impacto de Londres é ainda maior. Em meio a tantas culturas e em um lugar com símbolos e identidade tão fortes e presentes no nosso imaginário, dá aquela sensação de não só estar viajando, mas de estar no centro do mundo. Eu que amo cidade grande quase não me perdoo por nunca ter tido vontade de ir antes, mas vibro toda vez que penso na sorte que tive ao ir para lá meio sem querer.
A viagem foi tão marcante que acabei contagiando minha irmã Luana com a ideia de ir pra lá. Três anos depois, voltei à terra da rainha na companhia dela durante sua viagem de comemoração de seus 15 anos. Nos próximos posts, contarei um pouco mais sobre os passeios mais bacanas que fiz por lá, da primeira e da segunda vez 😉
Aiiinnn, todo o meu amor por essa cidade!<3
E seu texto me fez relembrar a minha passagem por lá e me deixar com mais saudade… 🙂