No começo foi difícil, porque a primeira impressão é de que ele era meio rabugento, sério, daqueles que não tá afim de conversar. Mas ele foi respondendo as minhas perguntas e quando me dei conta, ele já estava resgatando histórias e memórias por conta própria, empolgado de lembrar de seus tempos no Brasil.
Ele morou por quatro anos no Rio de Janeiro entre os anos 1981 e 1985 para fazer faculdade de Hotelaria – inspirado e incentivado por sua mãe, que trabalhou a vida toda em companhias aéreas, entre elas a extinta Varig. Segundo Antonio, ela o ajudou a fazer a transição para o Brasil para estudar, já que não havia esse curso ainda no Chile. Do tempo em que viveu no Rio, suas lembranças mais queridas e saudosas são dos carnavais que desfilou pela Mangueira. Ele participou de todos os ensaios, aprendeu até a tocar surdo e integrou a bateria.Mas não parou por aí. Por conta da profissão, ele carimbou muito seu passaporte e sua carteira de trabalho. Antonio já viveu na Venezuela, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana e Trinidade, além das diversas vezes que foi aos Estados Unidos e para o Canadá. Nesses lugares, já foi guia turístico, guia de selva, instrutor de mergulho e parapente, trabalhou em hotéis e atuou como motorista-guia turístico inúmeras vezes – como agora na Patagônia, onde vive há 4 anos com a esposa.
“Sou ávido por informação. Estou sempre lendo, estudando e fazendo cursos – o último foi o da Conaf (Corporação Nacional Florestal), no Parque Torres del Paine”. Além da busca por conhecimento, fiquei curiosa para saber mais sobre o que o motiva a viajar e mudar tanto de um lugar para o outro. “Um ano inteiro fazendo um mesmo roteiro todos os dias cansa. Quando aparecia uma outra oportunidade, eu não pensava duas vezes. Eu me identifico com os cachorros. Aquela coisa de sair por aí andando sem rumo, meio vagabundo, sabe? Então, eu sou um deles”.

Lago Sarmiento com vista para as Torres del Paine, na Patagônia Chilena. Foto: Débora Costa e Silva
Eles moram há quatro anos em Punta Arenas, longe do filho mais velho, que estuda cinema em Santiago, mas ainda próximos ao caçula, que estuda teatro ali na região. “Fico aqui porque é cômodo e confortável. Agora com família, casado e filhos grandes, a vida está mais tranquila”, explica.
Mas não acha muito vazio? “Não, acho perfeito. Depois de morar em Santiago, qualquer lugar é gostoso. O pessoal que mora lá está sempre estressado, correndo, no metrô as pessoas ficam espremidas que nem sardinha em lata. Aqui estou muito bem. É uma das mil razões que viemos para cá”, defende.
A vida social é escassa na Patagônia. Se o tempo está bom, ele e a esposa fazem churrasco e recebem os poucos amigos que fizeram por aquelas bandas. Afinal, para um forasteiro, é difícil criar vínculos com quem nasceu e viveu na região a vida toda. Nas horas vagas, gosta de se dedicar ao jardim de sua casa, ler e pescar – e já está de bom tamanho.
Para encerrar, Antonio me falou uma das frases mais bonitas e melancólicas que já ouvi. “A solidão é impagável. Porque não há silêncio quando se mora em uma cidade tão grande, os pensamentos são praticamente compartilhados com os outros, estamos sempre cercados de gente. Quando se é jovem, é importante sair e ter vida social. Mas depois de um tempo, muito barulho já não dá mais. Muita poluição visual também não é bom. Por isso eu prefiro morar aqui”, concluiu.
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