Travel Tattoo :: Fred Itioka

O Fred Itioka é dessas pessoas que têm uma vida inteira pautada por viagens. Jornalista, ele sempre se dedicou a explorar o mundo e mergulhar em culturas diferentes, desde sua primeira viagem sozinho, aos 15 anos para o Canadá, até mais recentemente quando realizou o sonho de ir para o Irã.

Seja de férias ou a trabalho, ele sempre dá um jeito de dar uma escapadinha do roteiro tradicional de turista para vivenciar o dia a dia como um local. E com tantas idas e vindas, se orgulha de ter cultivado amizades com gente dos quatro cantos do globo ao longo dos anos.

Para compartilhar um pouco de suas experiências pelo mundo, o Fred criou uma conta no Instagram em que posta fotos das várias viagens que já fez, o FlyingFredy. No mundo offline, suas paixões também estão registradas, mas na pele: ele tem 9 tatuagens. Algumas representam a natureza, como o sol e as ondas do mar, outras são símbolos de lugares especiais que já visitou, como o Japão e Toronto. Conheça mais cada história e as tattoos do Fred na entrevista  abaixo 😉

Quantas e quais são as tatuagens que você tem e em quais lugares do corpo?
Tenho 9 tatuagens: uma em cada perna, nos dedos e na mão esquerda, no ombro e no antebraço esquerdo, no pulso direito, nas costas e no braço direito.

Quando e onde foram feitas?
Todas foram feitas em São Paulo em fases diferentes da vida. A primeira foi nas costas quando tinha uns 20 anos e meio escondida dos pais. Era a moda do tribal. As demais foram acompanhando momentos e todos ganharam esta metáfora e simbologia de novas etapas.

Qual o significado de cada uma? Têm relação com viagens que você fez? 
As tribais foram modinha e não têm significado nenhum. Fui me preocupar com isto quando fui me tornando um adepto da tatuagem. A partir daí, três das tatuagens são referências ao sol. Gosto da conexão com a energia, com o novo dia, da positividade.

Uma da perna são ondas do mar porque sou apaixonado pelo mar e por tudo que está ligado a ele: oceanos, o mundo, as viagens dos conquistadores, a expansão. O mar te abraça, te envolve.

Também tenho uma tatuagem de crisântemo na mão. É uma flor com uma simbologia muito forte no Japão, terra dos meus ancestrais e pra onde fui duas vezes. O crisântemo é a flor-símbolo da família imperial japonesa, é o símbolo do visto e passaportes nipônicos e para cada cor existe um significado.

No braço tenho a folha de maple, símbolo-mór do Canadá, país que mais amo nesta vida, onde morei quando fui adolescente e pra onde sempre vou quando posso. Às vezes até escolho um voo com stop over em Toronto antes de seguir para outro destino. Digo que o Canadá está tatuado na minha pele e na minha alma.

A mais recente tatuagem, que fiz no final de 2016, foram as letras YYZ – código para o aeroporto internacional de Toronto. Pelo mesmo motivo acima: de todas as cidades canadenses que já visitei (e olha que foram muitas), Toronto tem cheiro de casa. É onde estão amigos, onde sinto que minhas pegadas estão eternizadas, onde uma parte de mim permanece até hoje.

Curioso porque muita gente me para na rua pra perguntar o significado do YYZ e poucos desvendam de primeira. E os fãs de rock me perguntam se é homenagem ao grupo canadense Ruh, que tem uma música chamada YYZ ( que inclusive foi uma homenagem da banda a Toronto).

Qual sua relação com viagens? O quanto você acha que elas te definem?
Minha família sempre gostou de viajar. Lembro que a gente não parava um final e semana em casa. Também na escola as matérias preferidas eram geografia, história e literatura. Sonhava em conhecer lugares de povos antigos, sempre fui fascinado por mapas (e sou até hoje ) e ficava horas olhando o globo terrestre.

Passei a viajar sozinho aos 15 anos primeiramente pelos albergues da juventude. Comecei pelo Brasil e depois me aventurei pelo exterior. Sempre amei viajar sozinho, porque gosto do desconhecido, de explorar novas culturas, conhecer gente por aí. Fiz muitos amigos viajando na mesma situação, gente com quem tenho contato até hoje!

Acompanhei estes amigos crescerem, casarem, terem filhos! Tudo à distância, tudo por carta! Fora muitas cartas e cartões postais! Alguns amigos tive a oportunidade de rever quando decidimos nos reencontrar aí pelo mundo. Outros vieram ao Brasil e ficaram em casa. Cheguei à conclusão que várias amizades on the road atravessam estradas e o tempo!

Também viajei e viajo muito a trabalho e por mais que a agenda nem sempre permita, gosto de arrumar um tempo pra fugir dos pontos turísticos e conhecer o dia a dia do local: ir à feira, comércio e restaurantes populares, conversar com os habitantes e principalmente me perder. Adoro me perder pelas cidades e ver tudo por um outro prisma, nem sempre glamouroso.

Além das viagens, já fixou residência em outro país?
Sim, morei em Toronto quando adolescente. Como é uma cidade de imigrantes, tomei gosto em estabelecer contato com as culturas diversas. Toronto é uma metrópole multicultural e é fascinante ter experiências como almoçar num restaurante etíope e jantar em um iraniano na companhia de amigos chineses ou búlgaros.

Quais foram os lugares mais inusitados que você já conheceu? 
Acho que o lugar mais inusitado foi o Irã, que visitei no ano passado. Sempre tive um fascínio pelo Império Persa e foram anos de ensaio até conseguir concretizar. Muita gente me alertava por ser um país islâmico, associavam o país aos terroristas. Pesquisei muito, li livros dos meus amigos jornalistas Adriana Carranca (“O Irã Sob o Chador“) e Samy Adghirni (“Os Iranianos“), correspondente da Folha em Teerã, e finalmente resolvi ir e com meu companheiro!

Teerã foi o ponto de chegada e partida para o interior do país. Me senti em um filme iraniano. Tinha uma mistura de receio e excitação em estar lá. Aos poucos fui descobrindo que os homens carrancudos não eram assim tão carrancudos, que as mulheres de véu negro eram belas e sorridentes, que são generosos e carentes de contato com outros povos.

Fui confundido com turista japonês, mas quando disse que era brasileiro… tudo mudou! Os garçons falavam de nomes de jogadores de futebol, bradavam Ronaldo! Estudantes arriscavam a falar um Hello pra mim nas ruas! E a grande emoção: pisar em Persépolis, o berço do Império Persa! Em Pasárgada, onde o Rei Ciro está enterrado. Quem diria que um dia eu setaria ali? Lembrei dos tempos de escola e me emocionei muito.

Tem planos de fazer outras tatuagens relacionadas a viagem? 
Tatuagem pra mim é como viagem: penso todos os dias, todas as horas. Já quero fazer uma outra, talvez um simbolo de um avião ou o globo terrestre. Eu sei, é clichê. Mas fazer o quê? A tatuagem tem que vir do coração. E o meu é 1000% viagem.

E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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Gente que viaja :: Mulheres que viajam sozinhas

Hoje é 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e a data não poderia passar em branco por aqui. Além do fato óbvio de ser uma mulher que produz o conteúdo do blog, também acho providencial aproveitar o momento para falar um pouco sobre como nós viajamos e vivenciamos as experiências na estrada.

Sei que muito já foi dito e discutido por aí sobre mulheres que viajam sozinhas, mas quero retomar o assunto porque é uma questão que me toca muito. As viagens mais transformadoras para mim foram as que eu estava só e vivi momentos em que a sensação predominante era de liberdade. Toda viagem já mexe um pouco com a gente e nos ensina algumas coisas, mas sozinha o foco está apenas em nós mesmas, nas nossas vontades, esquisitices, neuras, paixões…  É claro que não são só flores, o caminho também é cheio de pedras e tropeços, mas a cada vivência vamos ganhando mais confiança e bagagem para as próximas, né?

Para inspirar e encorajar, convidei algumas amigas que já deram seus rolês sozinhas pelo mundo para compartilharem experiências, frustrações, descobertas e alegrias dessas aventuras. Tem quem já rodou o mundo, tem as que começaram a se aventurar sozinhas agora, mas todas se descobriram ótimas companhias para si mesmas e voltaram cheias de vontade de repetir a dose ❤

Denise de Almeida
Jornalista, trabalha no UOL. Depois da África descobriu que ama seus cachos, a adrenalina do desconhecido e a si mesma

Nunca me imaginei em uma viagem pela África, nunca fiz o tipo aventureira. Mas foi lá que eu me descobri de verdade, que eu reconheci minhas fraquezas. E voltei uma mulher muito mais forte. Era só minha segunda viagem a trabalho como jornalista de turismo. Não conhecia ninguém do grupo e eu era a insegurança em pessoa. Antes de ir, passei uma madrugada olhando para a mala vazia, levemente em pânico. O medo me paralisou na hora de montar a bagagem.

É que sair da zona de conforto é um esforço e tanto. Eu sabia que estava indo pra um lugar incrível, mas algo me dizia que era mais fácil não ir, não encarar o medo, ficar sentadinha confortavelmente no sofá, com acesso à TV e internet. Pressionada pelo tempo — faltava só 1h pro táxi vir me pegar pra levar ao aeroporto, arrumei tudo correndo e entrei no carro, coração disparado. Eu sabia que tinha cruzado a fronteira da zona de conforto e que não tinha volta.

Cada minuto na savana foi um aprendizado diferente. Um dos momentos mais marcantes foi tentar executar uma tarefa aparentemente simples: ficar em silêncio absoluto por poucos minutos. Chegamos ao salar de Makgadikgadi, que tem o tamanho de Portugal, no pôr do sol. O guia havia explicado que o lugar era rota para os bichos apenas durante o dia. Como não cresciam plantas por lá, nenhum bicho morava naquela área, nem humanos. Ao anoitecer, estávamos lá — um grupo de sete pessoas — a sós, com a proposta de contemplar a grandiosidade do silêncio.

Com meu drinque em mãos, sentei no chão e a primeira coisa que fiz foi tentar tirar uma foto com o celular. Liga e desliga o flash, muda o ângulo do copo… até lembrar que a missão era ficar quieta. Guardar o celular até que foi fácil. Difícil mesmo era acalmar o turbilhão de pensamentos: quando será que choveu aqui pela última vez? E se alguém passar mal? Nossa, não paguei aquele boleto. Me peguei dispersa de novo e, depois de muita concentração, consegui ficar apenas quieta. Na terceira tentativa, vitória!

O silêncio era tão profundo que eu juro que conseguia ouvir até o barulho da minha circulação sanguínea. Percebi que o silêncio absoluto é ensurdecedor – e que eu era ansiosa demais. Nem disfarcei as lágrimas que surgiram com as descobertas. Entendi que ser forte é admitir suas fraquezas. É saber que a gente não controla cada passo da vida – e que está tudo bem.

Foi o que me deu forças pra mudar toda a minha vida. Pra encarar que estava num relacionamento que já não me fazia feliz. Que havia um princípio de depressão dando as caras. Foi o start de uma série de mudanças que me fizeram amadurecer demais. Hoje sou mais forte e mais feliz e sei que tudo começou nessa viagem.

Luana Marcello Serrano
Educadora física, massoterapeuta, taróloga, astróloga, radiestesista e terapeuta holística. Apaixonada por desbravar o Brasil e começando a conhecer outros lugares do mundo

Fiz minha primeira viagem sozinha este ano, para San Andrés, na Colômbia. Mas já viajei muito pelo Brasil, fui para Florianópolis, Bahia, Chapada dos Veadeiros, Maceió, Fortaleza e até para o Chile e Uruguai. Mas nessa em que fui sozinha, tiveram várias pequenas situações que passei que me fizeram sentir mais corajosa. Coisas simples, como conversar com as pessoas, pegar um ônibus caindo aos pedaços para sair de uma praia não estava me agradando e mudar o rumo simplesmente porque eu quero.

Quando você está acompanhada, por qualquer pessoa que seja, mesmo com intimidade e liberdade, uma hora vem a pergunta: o que você acha de ir pra tal lugar ou fazer tal coisa? Rola um receio da minha parte de às vezes a pessoa não querer, de incomodar o outro. E sozinha isso não acontece.

Mas eu acho que a situação mais corajosa foi o momento anterior à viagem: comprar a passagem e resolver onde iria ficar, já que tenho tanta dificuldade de planejar. Tive um medo tão grande de comprar aquela passagem, cara daquele jeito, e pensar “pronto, não dá mais para voltar atrás”. Acabei fazendo uma compra impulsiva pra eu mesma não me boicotar.

Por ser mulher, passei por situações machistas, perigosas e ruins, mas ao mesmo tempo acabei encontrando coisas positivas por estar só. Consegui carona, o que talvez não rolasse se eu não tivesse sozinha, pois talvez não estivesse disposta a interagir. Fiz um passeio com uma pessoa nativa da ilha porque ela gostou de mim também. Então acho que também há muitas vantagens de ser mulher e estar sozinha, porque dá para nos encaixar em alguns passeios que, se estivéssemos com mais gente, talvez não conseguíssemos, por exemplo.

Mas o maior benefício é essa coisa de poder mudar o roteiro, fazer suas próprias decisões e se ouvir. Você se ouve verdadeiramente se estiver conectado com o que você quer, com o que você é e com o que está acontecendo em volta. Porque quando você está com outras pessoas, a sua percepção do entorno fica limitada. Então eu me senti muito mais conectada com o ambiente que eu estava em todos os sentidos: com o lugar, com as pessoas, desenvolvi minha sensibilidade.

Foi um jeito de me conhecer e saber o que eu quero fazer, o que me faz feliz. E a vida é feita disso, a gente se deixa levar por muitas coisas que não nos fazem felizes naquele instante. Essa busca de ter um bom emprego para ganhar bem e ser feliz está sempre no futuro. Em uma viagem dessas sozinha você está conectada com o presente, com o instante, isso é um grande ganho para a vida.

Maysa Torres
Jornalista e assessora de comunicação de empresas e destinos turísticos. É gaúcha, já rodou o mundo, mas adotou o Rio de Janeiro como casa

A dificuldade que tive na primeira vez que viajei sozinha para Bali e Camboja foi superar medos comuns apenas às mulheres, que precisam lidar com algumas abordagens mais invasivas, olhares que às vezes inibem e até com algumas críticas. Já escutei que estava me arriscando muito viajando sozinha justamente por ser mulher, por exemplo. Em alguns destinos, como nos Emirados Árabes é mais difícil pelo fato da mulher não ter muita autonomia, então assusta encontrar uma mulher que chega sozinha num hotel, num restaurante ou numa mesquita.

Uma experiência marcante foi fazer uma viagem de tuck tuck, de cerca de 1 hora, para ver o sol nascer num templo do Camboja. Quando me vi em uma estrada deserta com o motorista, a primeira coisa que veio à mente foi que estava mais exposta por ser mulher. Mas me enchi de coragem e fui, porque aquele era o único caminho para chegar onde queria, e valeu muito a pena. Foi inesquecível.

Entre as coisas boas, além da sensação indescritível de liberdade e superação de barreiras, estão as pessoas legais que você encontra pelo caminho. Entre as surpresas, está a quantidade de mulheres viajando sozinha. Vi muitas especialmente na Ásia.

Superação pessoal e cultural é enfrentar todas as situações e eventos sozinha. Achei uma vitória, e amei tanto que repeti, passar o Réveillon sozinha, sem medo, sem expectativas, mas aberta para conhecer pessoas e culturas diferentes. Foi maravilhoso.

A sensação de empoderamento anda comigo sempre que viajo sozinha, quando me imponho e não permito que o fato de ser mulher me deixe mais vulnerável. Em Myanmar tive que vencer barreiras como dirigir uma moto pequena para me locomover, subir em um templo de madrugada para ver o amanhecer mais lindo do mundo, viajar de ônibus à noite, lidar com um povo que quase não fala inglês e resolver problemas, mudando o roteiro de acordo com o que eu achava ser o melhor pra mim.

Me permitir estar sozinha e me posicionar de forma natural, sem me importar com os julgamentos, me dá uma sensação de empoderamento.

Gabriela Gasparin
Jornalista e escritora, idealizadora do projeto Vidaria e do livro de mesmo nome, que traz uma coletânea de histórias inspiradoras sobre o sentido da vida

Falar sobre viajar sozinha para mim não é exceção, e sim regra. Eu nunca fiz uma viagem internacional acompanhada. A primeira foi em 2010, eu tinha 24 anos. Na época eu namorava, só que não conseguimos tirar férias juntos e lá fui eu ficar um mês só em Londres. Confesso que não tive medo nenhum: fui por meio daqueles pacotes de intercâmbio, com cartinha de apresentação e “host family”, sabe? Muitas amigas já tinham feito o mesmo então fui cheia de ansiedade! No meio da viagem, porém, resolvi passar um final de semana em Paris – aí sim foi aventura para mim na época. Comprei o ticket para o Eurotrem e embarquei só rumo à França sem falar uma palavra em francês: “Je ne parle pas français. Parlez-vous anglais?”

Em 2011 arrisquei sair sem intermediação: fiz um mochilão pela América Latina. Era “me, myself and I”, uma passagem de ida e de volta pela Viasur (aérea boliviana), um roteiro passível de modificações e uma mochila nas costas. Não reservei absolutamente nada. Cheguei em La Paz e resolvi pegar um ônibus rumo à Copacabana – a cidade do famoso Lago Titicaca. Confesso que quando entrei no ônibus e vi aquelas “cholas” nos bancos apertados me olhando com cara de interrogação quase pensei em descer e pegar um ônibus turístico. Não o fiz e foi uma experiência fantástica – apesar de eu achar que o busão ia deslizar ladeira abaixo na estrada em volta de um morro.

A viagem pela América Latina incluiu Peru (Cusco, Machu Picchu e Arequipa), Chile (Arica e São Pedro do Atacama) e a tradicional viagem de três dias pelo deserto rumo à Bolívia, passando pelo Salar de Uyuni. Não me senti só. Fiz amigos em hostels e passeios em grupos.

Em 2013 foi a vez do México e Cuba. Na Cidade do México senti-me um pouco insegura e, de tanto as pessoas me alertarem dos perigos, deixei de fazer alguns passeios por ser mulher e estar sozinha. Em Cuba não foi fácil: o país não tinha internet na época e os cubanos são extremamente machistas e xavequeiros. Não me deixavam em paz – mas era só “da boca pra fora”, pois o país é bastante seguro. Sei lá quantas vezes me perguntaram: “está viajando sozinha? Cadê seu namorado?

A última aventura foi agora, aos 30 anos, no final de 2016. Fui para a Tailândia e para a Índia – 35 dias e muita história para contar. De novo eu estava namorando e ele não podia ir junto. Queria muito ir – e fui só! A Tailândia é um país bastante turístico e não senti barreira alguma por estar sozinha. Na Índia tive medo, muito medo. Tanto que me conectei com outras brasileiras pela internet e me encontrei com elas.

Antes disso, passei uma semana sozinha em Rishikesh – a capital mundial da yoga. A cidade é uma exceção na Índia, um país extremamente machista que não vê com bons olhos mulheres que andam sozinhas à noite. Apesar daquela cidade ser mais segura, eu não saí do ashram (local do retiro espiritual) após o escurecer. Eu também tive que comprar roupas folgadas para me sentir bem nas ruas… Nas outras cidades indianas eu estava em companhia de minhas colegas brasileiras – e juntas nos unimos para fazer a viagem mais exótica de nossas vidas.

No Brasil eu já fui pra “tudo quanto é canto” sozinha e nunca hesitei. Eu não tenho medo e até gosto da minha própria companhia. Talvez eu seja uma exceção, mas o pensamento positivo ajuda a acreditar que vai ficar tudo bem. Sempre tomo muito cuidado e acho lamentável nós mulheres termos que nos afirmar para dizer que fazemos sozinhas uma coisa que deveria ser vista como normal.

Torço para que cada vez mais mulheres se encorajem a fazer o mesmo para que a exceção deixe de existir e a regra seja: viajar como e quando quiser, independente do gênero e da companhia. Afinal de contas, viajar é bom demais, né?

Mari Campos
Jornalista especializada em viagem e turismo, é autora do livro Sozinha Mundo Afora. Já esteve em todos os continentes e escreve suas aventuras no Maricampos.com 

Viajei sozinha pela primeira vez para outro país quando já era casada (me casei bem novinha, logo que terminei a faculdade) e já tinha visitado muitos países diferentes. Eu ainda era CLT, nossas férias daquela vez não bateram e, como eu nunca concebi a ideia de não viajar nas férias, resolvi ir sozinha. Não tive medos ou receios nessa primeira experiência; naquela época, a viagem de avião em si me deixava mais apreensiva que todo o resto – planejei minha viagem solo com o mesmo cuidado com que planejávamos nossas viagens em casal e embarquei.

E foi já nessa primeira viagem solo que a sensação de liberdade, de ser dona do meu nariz, falou mais alto que todo o resto. Descobri, até nas tomadas de decisão mais difíceis, que gostava muito de passar um tempo em minha própria companhia – e que era absolutamente empoderador estar o tempo todo no controle da viagem e tomar todas as decisões por mim mesma.

Depois dela, muitas e muitas e muitas viagens solo vieram e continuam vindo até hoje — algumas a trabalho, outras a lazer. Estive sozinha em países de todos os continentes e até mesmo na Antártica  – incluindo diversos países africanos, países árabes mais ou menos conservadores, Índia e tantos outros lugares que ainda são tabu para muitas mulheres que viajam sozinhas. E muitas amigas (casadas ou solteiras) se inspiraram e começaram a adotar viagens solo aqui e ali em suas agendas de viagens também.

Mas, que fique claro, continuo planejando cuidadosamente minhas viagens, sem exceção, e mantenho constantemente o mesmo nível de alerta “on” , independentemente do destino que estiver visitando. E não tenho pudores em pedir ajuda quando acho que preciso.

Se eu me sinto solitária quando viajo sozinha? Nunca. De verdade verdadeira. Sou daquele tipo que gosta bastante de ficar sozinha mas também adora socializar; cada coisa a seu tempo. Não precisa muito para bater papo com outras pessoas no café, no metrô, na fila do museu, no aeroporto – “gente” é o que eu mais amo sobre viajar. E quando viajamos sozinhos de fato nos abrimos mais para o outro, para jogar conversa fora, para conhecer gente nova. Voltei com pelo menos um bom amigo de cada viagem que fiz e isso é uma das coisas que mais me deixa feliz como viajante.

Se eu tenho medo quando viajo sozinha? Também não. Mas eu costumo dizer que me pauto muito por gerencia de riscos – inclusive nas viagens. E isso é muito importante. Ou seja: eu antes leio, pesquiso, estudo sobre os lugares que vou visitar; in loco, presto atenção em sons, luzes, cheiros, nas pessoas e tudo o que me rodeia. Também nunca deixo meus pertences dando bobeira nem vou dando informações sobre mim a um(a) desconhecido(a). Até as tentativas de assédio a gente aprende a tirar de letra. E esse tipo de “feeling” a gente vai mesmo desenvolvendo mais quanto mais vai viajando – sem contar que, no quesito zelar pela própria segurança, sendo brasileira a gente já é mesmo naturalmente meio craque nisso.

Dentro do meu estilo de viajar (que sempre foi o mesmo, estando sozinha ou acompanhada) o que eu mais busco é extrair experiências incríveis de um lugar; então nao me privo de fazer nada nem de ir a lugar nenhum “por ser mulher” nem por estar viajando sozinha. Para ser bem honesta, algumas das experiências mais autenticas e memoráveis que já tive em toda essa minha vida viajante aconteceram justamente em ocasiões em que viajava solo. O primeiro passo para todas elas foi… embarcar 🙂

Travel Tattoo :: Natália Becattini

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A Natália Becattini é uma das criadoras do site 360meridianos, um dos meus preferidos de conteúdo sobre viagens. O blog é feito por ela e mais dois amigos (Rafael e Luiza) de Belo Horizonte. Começou em 2011 quando os três resolveram fazer um intercâmbio para a Índia, que virou uma volta ao mundo. “Nós queríamos contar nossas aventuras para amigos e família e, quem sabe, para alguns gatos pingados que surgissem pelo caminho. O nome veio do fato de que cruzaríamos as 360 linhas imaginárias que dividem o globo terrestre”, eles explicam na página.

Daí em diante o blog só cresceu e desde 2014 é a principal fonte de renda do trio, que continua viajando e se virando como nômade digital. A Natália hoje mora em Barcelona, na Espanha, mas já viveu também na Cidade do Cabo (África do Sul), em Chandigarh (Índia) e Buenos Aires. Depois de tantas andanças, resolveu tatuar algo que simbolizasse um pouco de suas histórias na estrada e seu amor por viagens.

Quais são as tatuagens que você tem e onde foram feitas?
Tenho apenas uma tatuagem no ombro. Diz Wanderlust [expressão derivada do alemão, que combina “wandern” (caminhar) e “lust” (desejo), que significa forte desejo de viajar e explorar o mundo] e tem um aviãozinho de papel. Fiz em 2013, em Belo Horizonte.

Qual o significado dela para você?
Não tem relação com nenhuma viagem específica, mas sim com o desejo de viajar sempre e conhecer lugares novos. Com essa vontade que nunca acaba de sair por aí com uma mochila nas costas.

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O que te inspirou a fazer? Marcou um momento da sua vida? 
É uma história engraçada. Na época, eu estava trabalhando em uma agência de comunicação e meu chefe chegou um dia e disse: “vamos todos fazer uma tatuagem hoje. Anima?”. É que o Atlético Mineiro tinha acabado de ser campeão da Libertadores e um grupo da agência tinha prometido fazer uma tatuagem se o time ganhasse.

Eu não tinha prometido nada, mas achei que era uma boa oportunidade para finalmente tatuar alguma coisa. Já tinha a ideia de tatuar a palavra Wanderlust e os designers da agência me ajudaram na escolha da letra. Fomos todos juntos na hora do almoço para fazer a tatuagem, umas cinco pessoas…

Tem planos de fazer outras relacionadas a viagem? Quais e por quê?
Quero fazer outras, mas ainda não tenho muito claro o desenho. 

Quais foram as maiores alegrias e os maiores desafio como viajante? 
Acho que o maior desafio é sempre ter que me despedir das pessoas. Da minha família e amigos no Brasil e dos amigos que faço quando viajo. Hoje posse dizer que tenho amigos em todos os continentes, mas estou sempre deixando eles para trás. Por outro lado, são essas relações que fazem as viagens valerem a pena. A maior alegria que eu tenho é quando eu estou em um lugar e penso “caramba, não acredito que eu estou aqui”. Seja porque é um lugar que eu queria muito ir ou porque nunca havia sonhado estar ali antes.

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E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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Travel Tattoo :: André de Carvalho

André curtindo o visual da Noruega, em uma das centenas de viagens que já fez a bordo de um navio de cruzeiro. Foto: Arquivo Pessoal

André curtindo o visual da Noruega, em uma das centenas de viagens que já fez a bordo de um navio de cruzeiro. Foto: Arquivo Pessoal

O André é uma das pessoas mais viajadas que eu conheço, do tipo que já perdeu a conta de quantos países visitou na vida. É que o trabalho dele é viajar – ou viaja para trabalhar. Ele é animador de cruzeiros há 7 anos e a bordo de um navio já visitou diversas praias da costa brasileira, países sul americanos, europeus e asiáticos, sem contar as pessoas das mais diversas nacionalidades com quem já fez amizade.

Depois de fazer um pouco de tudo e trabalhar em hotéis, eventos e até fazendo malabares nos semáforos de São Paulo, o André começou a fazer animação em navios inspirado pelo irmão mais velho, o Fausto, que já trabalhava com isso (que inclusive, já teve sua história contada aqui no blog, junto com a da Jacque, sua namorada <3).

Como o dom para o humor tá mesmo no sangue, ele também construiu sua carreira fazendo esquetes de comédia e animando os passageiros. Namora há 4 anos a Francesca, italiana que trabalha na mesma área e é sua companheira de viagem. Depois de ter sido promovido a chefe de animação, chegou a participar de viagens para lugares mais inusitados, como Rússia, Escandinávia e China.

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André em sua visita a Petra, na Jordânia

De sua primeira viagem pra cá muita coisa mudou. Quando começou, André mal falava inglês e hoje, além dessa língua, também fala italiano, espanhol, alemão, francês e chegou até a estudar mandarim! Ele aproveitava o tempo livre para fazer cursos ou, quando não conseguia, estudava por conta com ajuda de livros ou pela internet.

Para alguém como o André, nada mais natural do que marcar na pele um pouco das experiências que teve ao redor do mundo. Ele já fez três tatuagens que se relacionam com viagens – uma delas, inclusive, é um mapa-múndi. Leia abaixo a entrevista:

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Quantas tatuagens você tem? Quando e onde foram feitas?

Eu tenho três tatuagens: um mapa-múndi na costela do lado direito, um símbolo embaixo do peito, do lado esquerdo, e uma palavra em tailandês no pé direito. A do pé foi a primeira que fiz, na ilha de Koh Tao, na Tailândia, as outras duas fiz no Japão, na cidade de Fukuoka. A escolha dos lugares do corpo foi mais pensando onde poderia esconder, porque no meu trabalho não posso mostrar, então fica meio restrito. E cada uma delas representa um momento ou algo muito marcante na minha vida.

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Qual a história dessa que você fez na Tailândia? Foi feita com bambu?

Sim! A Tailândia é um dos lugares mais bonitos que eu já visitei na vida e percebi que meu sonho é poder levar minha família para lá um dia para verem tudo o que vi. Apesar da cultura deles ter uma coisa com o pé, não pode tocar porque eles veem como algo impuro, nós ocidentais não temos essa crença e escolhi fazer a tatuagem no pé mesmo, até por conta da limitação de locais do corpo para fazer isso. Escrevi Krop Krua, que quer dizer família em tailandês.

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A do mapa-múndi, você pensou em pintar os países que visitou?

Não, eu já pensei nela sendo só o contorno mesmo. A tattoo não é tão grande para pintar os países, ia ficar esquisito um pouco pintado e um pouco não. Então preferi fazer assim, além do que também fica mais bonita, mais delicada.

Qual o significado da terceira tattoo (símbolo no peito)?

A história é longa rs, mas são traços que simbolizam o número 333. O número três está presente em várias culturas e religiões [muitos atribuem a trindade cristã – Pai, Filho e Espírito Santo – ou “começo, meio e fim”]. Eu acredito que todas as coisas estão conectadas, acho que está tudo interligado de algum jeito, a gente só não conseguiu ainda relacionar e encontrar o sentido. É meio doideira, mas é o que eu acredito.

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Quando fui trabalhar na China, dei um rolê por outros países da Ásia e encontrei um amigo que é bem místico, faz meditação, viagem astral etc. Ele disse que tinha uma mensagem pra mim, que recebeu através de um sonho, e falou para eu guardar o número “333”. Uns dias antes, tinha comprado uma cerveja vietnamita que tinha esse número e fiquei de cara quando ele falou, achei muita coincidência! Sem contar que na hora que tivemos a conversa estávamos em três, meu irmão também estava.

Corta a cena e volta para uma outra história. Eu e mais dois amigos (3 novamente rs), tínhamos vontade de fazer uma tatuagem juntos e a gente tem uma ligação muito forte com as pirâmides, estudamos sobre e tal. Não sabíamos bem ainda o que fazer, se seriam três pirâmides, uma dentro da outra, enfim. Depois do lance do sonho do meu amigo, decidi marcar isso na pele e ele falou que seria bacana fazer no peito, por conta de um ponto energético. Também achei que fazer pirâmides ou os números não seria o ideal, então fiz os tracinhos. Uma tatuagem muito simples, mas com um mega significado e relaciona tudo isso.

Não sei se é uma piração minha, mas se for, é muita coincidência rs. E claro, a partir daí, comecei a reparar e ver o “333” em muitas coisas, até na data do meu aniversário (06/03)! [E acredite se quiser: nesse momento, durante a entrevista, olhamos pro lado e vimos da janela do café onde estávamos um carro com a placa 333!!! :O]

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Ilhas Phi Phi, um dos paraísos que ele visitou na Tailândia

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E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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Gente que viaja :: Carolina Owsiany, a worldpacker

Carol entre Israel e Jordânia, em viagem de 2014. Foto: Arquivo pessoal

Carol entre Israel e Jordânia, em viagem de 2014. Foto: Arquivo pessoal

Por que não? Essa expressão simples, e bastante desafiadora, foi repetida diversas vezes durante a conversa que tive com a mochileira profissional Carolina Owsiany. Ela viaja o mundo há mais de 10 anos, trabalhando em hostels, restaurantes e bares, e já fez e refez sua vida de diferentes formas desse meio tempo. A história parece sempre ter sido essa: vai para um lugar novo, curte, vive, cansa e resolve mudar. Na dúvida, se pergunta “por que não?”. E a resposta vem tranquilamente.

Conheci a Carol durante um evento corporativo. Ela vestia terninho preto e salto alto e me impressionou com seu inglês fluente e a postura séria e profissional. Dois meses depois, a encontrei num contexto completamente diferente: era uma noite fria de maio, ela estava enrolada em uma coberta sentada em uma poltrona, super à vontade com amigos e colegas do WE Hostel, em São Paulo, onde ela estava vivendo e trabalhando.

As versões corporativa e mochileira coexistem – na verdade, uma não existiria sem a outra. Há mais de um ano ela trabalha em hostels no esquema do Worldpackers, uma plataforma em que viajantes podem encontrar vagas de trabalho em troca de hospedagem. Vale de tudo: há opções para ficar na recepção, fazer faxina e até colocações mais cool, como chef de cozinha, DJ, fotógrafo de eventos ou gerente de redes sociais. É um jeito novo e bastante interessante de viajar, garantir a hospedagem e ter uma troca intensa de cultura e experiências.

La vie en Hostel, em Londres, 2013. Foto: Arquivo pessoal

La vie en Hostel, em Londres, 2013. Foto: Arquivo pessoal

No entanto, a maioria dos trabalhos do Worldpackers não são remunerados. O pagamento é a hospedagem em si, às vezes inclui café da manhã e outros benefícios, mas só. O esquema já ajuda a economizar, mas não dá para viver só disso por muito tempo sem nenhuma reserva. O jeito é fazer como a Carol: aproveitar o tempo livre para fazer outros bicos – daí que surge sua versão corporativa ;-). “Nos próprios hostels às vezes tem oportunidades, como trabalhar em festas promovidas no local. Mas eu faço trabalhos paralelos, como traduções e eventos”.

No caso dela, o Worldpackers só facilitou o processo do que já vinha fazendo há anos: rodar o mundo trabalhando com hospitalidade – seja em albergue, hotel, restaurante, pub ou balada. Depois de se formar em Comunicação, há mais de 10 anos, ela saiu de Minas Gerais e foi passar um tempo na Espanha, em sua primeira viagem internacional. Foi para a região da Galícia, se hospedando na casa de familiares, depois seguiu para Barcelona meio na loucura, sem planejamento nenhum. Chegou em pleno feriado, durante a festa La Mercè, quando a cidade estava lotada, e por pouco não ficou sem lugar para dormir.

Após conseguir a hospedagem, tudo foi acontecendo naturalmente. Logo arrumou um trabalho em uma balada, encontrou um apartamento e assim as coisas foram rolando. “Hoje eu já digo que as coisas dão certo porque me planejo, mas no começo foi sorte e acredito também na proteção divina espiritual. Acho que é essa confiança que me fortalece para encarar desafios e estar segura, por isso tudo sempre fluiu pra mim”, conta. Foi desse jeito leve e fluído que acabou indo pra Bélgica depois: fez amizade com belgas, ouviu falar bem e pronto, resolveu ir pra lá.

Romance 

Olhar apaixonado entre Carol e Anthony, em Barcelona, 2010. Foto: Arquivo Pessoal

Olhar apaixonado entre Carol e Anthony, em Barcelona, 2010. Foto: Arquivo Pessoal

E quando menos esperava, no auge do seu desprendimento, acabou se apaixonando. Conheceu o Anthony, chef de cozinha inglês que, assim como ela, estava dando suas voltas pelo mundo. Logo depois que começaram a ficar, ela embarcou para a Grécia para cumprir um compromisso de trabalho que já tinha sido combinado antes do romance surgir. “Na Grécia eu tive o time of my life, trabalhava em bares, era incrível. Mas a gente continuou se falando e eu não tava afim de ter um relacionamento a distância. Um dia pensei: eu gosto dele, não dá mais. Em um impulso, comprei uma passagem e voltei para Bruxelas”, lembra.

A viagem de volta foi uma loucura, tudo às pressas, quase como se fosse questão de vida ou morte. “Cheguei às 2h da manhã e liguei pra ele do lado de fora do pub onde ele estava. Falei como se estivesse na Grécia ainda, dizendo que estava com saudades. Quando resolvi me declarar, eu que queria fazer uma surpresa, tive uma: ele apareceu na janela e me viu do lado de fora bem na hora que disse ‘te amo”. Foi muito emocionante, ele gritou, ficou louco. Pra mim, foi naquele momento que a gente casou”.

Tudo isso aconteceu há 9 anos. Desde então não se desgrudaram mais e são grandes companheiros de vida, aventuras e viagens. “A gente é muito flexível. Com uma graninha no banco, já nos programamos para cair no mundo e acaba dando certo. Sempre me planejei, mas não precisamos de muito dinheiro. Quando chegamos num país novo conseguimos trabalho fácil”, explica ela.

Casal em estação de esqui em Andorra, país europeu localizado entre o nordeste da Espanha e o sudoeste da França. Foto: Arquivo pessoal

Estação de esqui em Andorra, país localizado entre o nordeste da Espanha e o sudoeste da França. Foto: Arquivo pessoal

A trajetória do casal é inspiradora. Eles moraram 2 anos na Bélgica, depois quase 4 anos na Espanha e mais 3 na Inglaterra, sem contar as viagens para Israel, Jordânia e alguns países da África. A última temporada do casal tem sido no Brasil. Carol não morava aqui desde que saiu de Minas e, junto com o Anthony, tem explorado hostels de diversos cantos do país no esquema Worldpackers. O melhor é que eles conseguem encontrar trabalho para os dois no mesmo estabelecimento. “Assim que entro em contato com o proprietário, já aviso que meu marido é chef e geralmente conseguimos duas vagas”.

É claro que para quem vê de fora, é fácil pensar que esse tipo de vida é encantador e cheio de glamour – afinal, quem é que não sonha em rodar o mundo? Mas só quem vive é que sabe que morar em hostel não é um mar de rosas. “Tem que ter cabeça aberta, ser flexível para dividir o quarto e a vida com outras pessoas. E cada um tem um momento, então eventualmente saem faíscas. Tem que ser maduro o suficiente para pedir desculpas e ser humilde”, alerta Carol.

Desapego

Os viajantes e suas mochilas chegando em Caraíva, na Bahia, em 2016. Foto Arquivo pessoal

Os viajantes e suas mochilas chegando em Caraíva, na Bahia, em 2016. Foto Arquivo pessoal

Estar aberto a mudar de emprego, de cidade e de país mostram um desprendimento em relação a vida, aos lugares e às pessoas. Para passar por tantas transformações radicais é necessário permitir que as mudanças aconteçam e também provocá-las. No caso da Carol e do Anthony, isso também se reflete no estilo de vida deles em relação aos bens materiais. Quando perguntei “onde ficam suas coisas?”, ela falou: “então, não tem coisas“. Oi?

Pois é. Em sua última grande mudança – da Inglaterra para o Brasil – o casal fez uma limpeza pesada e se livrou de tudo – livros, roupas, móveis, acessórios etc. “Com o tempo, fomos acumulando coisas, é claro, mas o que facilita é que na Europa os apartamentos já são mobiliados. É um mundo que faz você ser mais desapegado e a ter flexibilidade”.

O mochilão em que levou suas roupas do Brasil para a Europa em sua primeira viagem é o mesmo que utiliza até hoje – “só que agora está bem mais vazio”, ressalta. “Você aprende, a vida te ensina que você não precisa de muito para viver. Todo o resto ficou pelo caminho. O dia que tiver que recomeçar de novo a gente recomeça, o que vale é o que a gente leva no coração”, conclui.

Carol na janela ao lado de uma estátua "namoradeira" em algum canto do Brasil, em 2007. Foto: Arquivo pessoal

Carol na janela ao lado de uma estátua “namoradeira” em Ouro Preto (MG), em 2007. Foto: Arquivo pessoal

Travel Tattoo :: Marcel Melfi

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Marcel é designer, ilustrador e empreendedor: criou a Toonicado, estúdio de arte que faz desenhos personalizados que podem estampar presentes criativos. Apesar de trabalhar com imagens e desenhar todo dia, até há pouco tempo ele ainda não tinha nenhuma tatuagem. Foi só depois de ter feito uma viagem especial para Tailândia que ele se inspirou a marcar na pele essa experiência e fez uma tatuagem de bambu, método pouco convencional no Brasil, mas bastante difundido por lá.

Há um ritual tradicional, o Sak Yant, em que você é tatuado por um monge e não escolhe o que será desenhado, mas hoje em dia há diversos estúdios em que fazem tatuagens assim de forma mais comercial, inclusive para turistas. São utilizadas agulhas um pouco maiores do que as da máquina e elas são conectadas a um graveto de bambu. O processo não envolve máquina e a pressão feita na pele é dada pelo tatuador. Leia mais sobre a tatuagem do Marcel:

Quantas tatuagens você tem? Quando e onde foram feitas?
Tenho somente uma, na parte interna do braço. Eu a fiz em abril de 2015 em Koh Tao, na Tailândia.

Qual o significado dela? Tem relação com viagens que você fez? 
Eu nunca tive vontade de fazer tatuagem, mas em 2014 fiz um mochilão onde viajei por Dubai, Tailândia e terminei na Índia. Fiz essa viagem com um dos meus melhores amigos, e foi daquelas viagens que mudam a maneira de ver as coisas. Passava por uma fase, pré 30 anos, sem grandes expectativas, sem grandes alegrias.

Vi o filme “Her” e numa passagem o personagem fala: “Sinto como se já tivesse vivido todas as emoções que podia experimentar, daqui para frente só sentirei versões menores dessas emoções“. Só que toda essa viagem, principalmente na Tailândia, acenderam alguma coisa aqui dentro. E eu estava feliz como nunca tinha me sentido antes.

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Marquei com esse amigo o retorno para exatamente um ano depois e dessa vez, já fui com a ideia da tatuagem. Lá achamos um lugar onde tatuavam com bamboo, cada um escolheu uma arte e fizemos.

Fiz essa tatuagem para sempre que estiver desanimado, conformado com a rotina, me lembrar que tem algum lugar esperando uma aventura nova. Quanto ao significado real dela, é uma oração budista escrita em Khmer, a língua do Camboja. A Angelina Jolie tem essa mesma tatuagem nas costas.

São símbolos budistas sânscritos, de uma reza tailandesa, que dizem algo como: “Mantenha seus inimigos longe de você. Se você adquirir riquezas faça com que elas continuem sendo sempre suas. Sua beleza será aquela de Apsará. Onde quer que você vá, muitas pessoas irão assistir, servir e proteger, cercando você por todos os lados”.

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Como que foi a sensação? Dói absurdamente?
Como essa é a minha única tatuagem eu não tenho base, mas o Micky [amigo que fez a viagem junto] que tem outras, disse que além de doer mais, o processo é mais lento o que aumenta a dor. A minha durou quase uma hora.

E o lugar onde você fez, era muito tradicional ou é bastante comum fazer esse tipo de tatuagem lá?
Lá na Tailândia você vê um estúdio de tatuagem a cada 5 passos, mas a maioria não tinha desenhos legais, então procuramos na internet algum estúdio que os turistas recomendaram e chegamos em um. Era um estúdio normal com as artes expostas nas paredes. Eu pedi uma sugestão e eles mostraram várias artes e curti bastante essa.

Tem planos de fazer outras? Quais e por que?
Tenho sim, pretendo fazer outras nas viagens que realmente me inspirarem.

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E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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Travel Tattoo :: Daniel Ribeiro

Daniel em Havana, ainda virgem de tatuagens. Foto: Débora Costa e Silva

Daniel em Havana, ainda virgem de tatuagens. Foto: Débora Costa e Silva

O Daniel foi uma das pessoas que me ensinou muito sobre viagens. Poliglota, sempre foi um cara interessado em outras culturas e acho que esse é um dos motivos que fazem ele viajar de forma tão intensa. Ele foi meu companheiro de aventuras em Cuba e foi quem me deu a dica de comprar as papetes que até hoje me acompanham <3.

Já foi para muitos outros cantos, principalmente pelo Brasil: Chapada Diamatina, Chapada dos Veadeiros, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraty, Rio de Janeiro, Minas Gerais… Pra fora já foi pro Equador e Venezuela e continua a dar suas voltas. Estreou um blog no Estadão, o Viagem sem Fim, mas além dos registros de lá, tem os que gravou na pele. Veja algumas das tatuagens que revelam seu amor por viagens.

Texto “Selado”, do Daniel Ribeiro, espalhado pelo corpo em trabalho fotográfico/artístico da Mariana Lacanna

Calma, não é tudo tatuagem! 😛 É um trabalho artístico da Mariana Lacanna, com o texto “Selado”, do Daniel Ribeiro, espalhado pelo corpo

Quantas e quais são as tatuagens que você tem? 
Tenho atualmente sete tatuagens, mas tudo indica que em breve isso vai mudar! Tenho um barco de papel, um anjo meio gótico suave, duas frases (uma em português, outra em árabe), uma roda, dois búzios e um ourobouros (símbolo representado por uma serpente, que morde a própria cauda).

Quando e onde foram feitas? 
Todas foram feitas em São Paulo. O barco e a roda foram feitas pelo Victor Otaviano em 2012. O anjo e a frase do Caetano no ombro foram feitas em 2013, pelo Rafael Horvat. Os búzios e a frase em árabe foram de 2014 pelo Lincoln Silva. A Ouroboros foi feita em 2015 pelo Alessandro do estúdio DaTribbo Tattoo.

São em quais partes do corpo?
O barco fica na costela, o anjo no peito, a frase no ombro. A roda, a ouroboros e os búzios são no braço direito. A frase em árabe é onde o sol não bronzeia.

Barquinho de aquarela nas costelas do Daniel foi a primeira tatuagem.

Barquinho de aquarela nas costelas do Daniel foi a primeira tatuagem.

Qual o significado de cada uma? Tem relação com viagens que você fez? 
O barco foi porque as viagens que mais me fizeram feliz foram para ilhas. Eu sempre tive uma piração com ilhas, acho bem interessante a ideia de estar meio isolado do mundo e de depender de forças alheias à nossa intervenção para sair de lá. Eu já quase perdi um voo porque estava em Alcântara e não tinha maré para chegar em São Luís do Maranhão.

Eu fiquei pensando muito nisso: em como eu não podia fazer absolutamente nada a respeito. Tinha que esperar. As ilhas têm essa coisa de ter que esperar. Eu quis fazer um barco de papel porque gosto de viajar e gosto muito quando é de barco, como as que fiz como repórter de viagem, foram super especiais.

A outra tatuagem relacionada às viagens é a roda que tenho no braço. É a mesma roda que tem na bandeira dos ciganos e tem a ver com a possibilidade do nomadismo, de mudanças. Nos meus 30 anos, já mudei de casa 14 vezes! Não só gosto de viajar, ou seja, das mudanças temporárias, mas também das definitivas. Que, no meu caso, nunca são tão definitivas assim.

Foto: Rodrigo Baroni

A roda no braço, em foto feira durante a viagem pela Argentina e Uruguai. Foto: Rodrigo Baroni

Tem planos de fazer outras? 
Agora quero tatuar uma tartaruga que tinha em um adesivo que trouxe de Galápagos. Foi uma viagem muito especial e eu estava louco para ver as tartarugas gigantes que deram origem ao nome do arquipélago. De novo, as ilhas, tá vendo? Eu ainda não fiz essa porque fiquei na dúvida se fazia uma tartaruga ou um pássaro que vive lá – o píquero de patas azules, que tem os pés azuizinhos.

E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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São Paulo :: Uma saudade

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Nossa amada Avenida Paulista a partir da ciclovia ❤ (Foto: Débora Costa e Silva)

Para quem vive em São Paulo, sufocado pela rotina estressante, poluição, metrô lotado, às vezes fica difícil pensar no lado bom daqui. Acho que muita gente cultiva uma relação de amor e ódio com a cidade: tem coisas incríveis e especiais, mas tem o caos também, que esgota e cansa.

Para ver São Paulo sob uma outra perspectiva em seu aniversário de 462 anos, convoquei amigos que viveram aqui e hoje estão em outros lugares do Brasil e do mundo pra dizer o que mais sentem falta da cidade. Confesso que por um momento pensei que ninguém fosse topar por acharem melhor onde vivem hoje – seja pela tranquilidade, qualidade de vida, ou qualquer outro motivo. Besteira minha: não só todos toparam como relataram várias saudades.

Algumas coisas foram praticamente unanimidade: a avenida Paulista, o combo pastel + caldo de cana e a praça Pôr do Sol foram as mais comentadas – junto com a saudade dos amigos e familiares, é claro. Outro ponto bastante destacado foi o clima, principalmente para os que estão no hemisfério norte em pleno inverno. Quem diria, esse tempo louco de São Paulo, com mil estações em um só dia, pode fazer falta!

Bacana mesmo é perceber que não só existe amor em SP, como por SP também! Um grande salve para essa nossa cidade louca, multicultural, gigantesca e surpreendente! Que a cada ano tenha mais espaços públicos, mais cultura nas ruas, mais verde e continue plural em todos os sentidos! ❤

Do que você sente falta de São Paulo?

 

Ricardo em Seul (Arquivo pessoal) e a Praça Roosevelt durante uma festa aberta (Foto: Raphael Tsavkko Garcia)

Ricardo em Seul e, ao lado, a Praça Roosevelt durante uma festa (Fotos: Arquivo pessoal + Raphael Tsavkko Garcia/Creative Commons)

Ricardo Pagliuso, 38 anos, sociólogo
Nascido no interior de São Paulo, viveu na capital por 20 anos. Passou um ano na Alemanha, voltou e, desde agosto de 2015, está em Seul (Coreia do Sul) fazendo pesquisas acadêmicas.

“Difícil dizer. Esta é minha segunda longa temporada longe de São Paulo, mas, como na primeira, tenho a perspectiva de voltar para a cidade que chamo de minha casa. Entre outras dezenas de pequenas e grandes coisas, sinto falta do clima louco de SP (frio no verão, calor no inverno), da “gentileza de estranhos” (como diz a personagem de Tennessee Williams) que se encontra em todo canto da selva metropolitana, da coxinha do BH, do café expresso do Floresta, dos bares da Roosevelt e das festas ao ar livre nas praças, do português com os vários sotaques, de comprar – e comer! – fruta na feira no domingo, de comer PF no boteco, de tomar cerveja na Augusta, dos izakayas da Liberdade. E agora, com o Carnaval batendo à porta, dos bloquinhos pela cidade.”

Natália em um parque em Melbourne e, ao lado, a movimentada Avenida Paulista. (fotos: arquivo pessoal + Artur Luiz)

Natália em um parque em Melbourne e, ao lado, a movimentada Avenida Paulista. (Fotos: arquivo pessoal + Artur Luiz/Creative Commons)

Natália Ballotin Hall, 31 anos, jornalista
De São Bernardo do Campo, mas viveu entre o ABC e a capital quase toda a vida. Está fora do Brasil há cinco anos, sendo os últimos 4 em Melbourne, na Austrália. Saiu para estudar e viver novas experiências – ficou, casou e tem dois filhos

“Pelo fato de estar longe há muito tempo, toda vez que lembro de São Paulo com saudades, tem a ver com os momentos que eu estava com os amigos. Para falar a verdade, eu não consigo pensar em um lugar X (um parque, shopping, restaurante, museu), pois para mim, o que faz o lugar ser especial são as histórias que eu vivi lá. E quando se trata de boas histórias, infelizmente as minhas sempre ocorriam no bar hahaha. Teve uma fase que eu sempre saía para beber  nos bares da Augusta e de vez em quando nos da Paulista, como o Opção e o Charme. Sinto falta dessa região de São Paulo.”

Consta naneve de Montreal (arquivo pessoal) e o bar Mercearia São Pedro (Foto: Facebook do bar)

Consta na neve de Montreal e o bar Mercearia São Pedro (Fotos: arquivo pessoal + Facebook do bar)

Constan Tino, 33 anos, engenheiro e agora estudante de Museologia
Natural de Aracaju (SE), morou em São Paulo por 9 anos e meio. Vive há seis meses em Montreal, no Canadá. Migrou para mudar de área e conhecer novas culturas.

“Sinto MUITA falta de duas coisas: boteco e padoca. E de compartilhar uma garrafa de cerveja de 600 ml, dividir as coisas na mesa do bar, o que não é nada comum por aqui. Eu gostava muito de comer em São Paulo hahaha. Adorava o Aska Lamen na Liberdade, ia muito no Empanadas e no Mercearia São Pedro na Vila Madalena também. Tipo, se eu estivesse no seriado ‘Friends’, esses dois lugares seriam o meu Central Perk. Ah, tem a Casa do Norte no Butantã – eu AMO aquele lugar. Enfim, aqui no Canadá tudo é bonitinho e tal, tem muitos bares e lugares bacanas para ir, mas acho que São Paulo é especial como poucos lugares no mundo.”

Jairo em um passeio em Sydney e o forró do Remelexo, em Pinheiros. Fotos: arquivo pessoal e Ricardo Galvão Fontes/Divulgação

Jairo em um passeio em Sydney e o forró do Remelexo, em Pinheiros. (Fotos: arquivo pessoal e Ricardo Galvão Fontes/Divulgação

Jairo Lacerda, 29 anos, empresário
Natural de São Paulo, mudou para a Austrália há seis anos, sendo 5 deles em Sydney e 1 em Melbourne, onde está hoje. Saiu do Brasil para realizar o sonho de criar sua própria marca de roupas, a COFD.

“Além da saudade da família e dos amigos, de São Paulo eu sinto muita falta da comida, do tempero e do gosto das frutas também. Saudades da minha época de forró, quando ia no Remelexo e no KVA (já fechado), e das baladas Club e Eazy.  Mas a maior saudade acho que é do pastel de frango com caldo de cana que eu comia na feira aos sábados.”

Juliana em frente ao Big Ben, em Londres e, ao lado, a Livraria Cultura, uma de suas paradas obrigatórias na Paulista (fotos: arquivo pessoal e Divulgação)

Juliana em frente ao Big Ben, em Londres e, ao lado, a Livraria Cultura, uma de suas paradas obrigatórias na Paulista (fotos: arquivo pessoal e Divulgação)

Juliana Gabos, 32 anos, desenvolvedora de Software
Atravessou o Atlântico há 2 anos e meio para fixar residência em Londres

“Morando em Londres não é difícil de sentir bastante falta do clima de São Paulo e todo o nosso estilo de vida que deriva dele. Quando morava aí, dava para combinar de fazer praticamente qualquer coisa em qualquer época do ano ou momento do dia. Gostava muito de sair para jantar, por exemplo. São Paulo tem restaurantes sensacionais, ideais para curtir o ar gostoso da noite.

Não são raros os fins de semana em que sinto falta de caminhar na avenida Paulista. É um dos meus lugares favoritos da cidade. É muito gostoso caminhar parando para olhar a feirinha que tem ali perto da Consolação (acho que no shopping Center 3, que espero que ainda esteja lá), dar um pulo na Livraria Cultura, tomar um sorvete ou um açaí (ou até mesmo um chocolate quente) enquanto se passa do lado de construções que marcam a história da cidade. Tenho boas recordações de passeios que fiz com família, amigos ou mesmo sozinha. Quando voltar à cidade para uma visita, tenho que dar uma passada lá de algum jeito! 🙂 Ah, e sinto falta de pizza!!!! São Paulo, pelo menos para mim, ainda tem a melhor pizza do mundo!”

Flávia no seu cantinho especial de São Paulo, a Praça Pôr do Sol (foto: arquivo pessoal)

Flávia no seu cantinho especial de São Paulo, a Praça Pôr do Sol (Foto: arquivo pessoal)

Flávia Fernandes, 31, jornalista
Natural de São Paulo, mora há seis meses na cidade de Abilene, no Texas (EUA), após um ano e meio indo e voltando por causa do namorado, hoje marido.

“Eu sinto falta de muitas coisas. Uma delas é andar na rua, explorar lugares a pé, como os bairros Perdizes, Lapa e a região da Av. Paulista. Eu sinto falta da vida 24 horas e que tem tudo o tempo todo. É impossível ficar entediado. Outra coisa que sinto falta é da diversidade de restaurantes. Dá pra explorar lugares e sabores sempre! Tem meus restaurantes favoritos no momento, que são Comedoria Gonzales (Peruano) e o Mori (Japonês). Outra coisa é o pastel com caldo de cana na feira – isso é delícia sempre! Meus lugares favoritos são a Praça Pôr do Sol e o Parque Vila Lobos. O bairro que amo é a Vila Madalena. Tem arte, bares, restaurantes, lojinhas, tudo.”

A ideia do post fez a Flávia a ir além desse depoimento e a inspirou a gravar um vídeo sobre o assunto para o seu canal no YouTube. Clique aqui para ver, tem ainda mais dicas! 🙂

Nadia e um de seus cantinhos preferidos de Sampa (fotos: arquivo pessoal + Erasmo Altimeri)

Nadia e um de seus cantinhos preferidos de Sampa: o Museu do Ipiranga (fotos: arquivo pessoal + Erasmo Altimeri/Creative Commons)

Nadia Moragas, 30 anos, jornalista
Nasceu em São Paulo e mora há cinco anos na Bahia. Passou por Salvador, Ilha de Itaparica e hoje vive em Porto de Sauípe. A mudança rolou após conhecer o marido, daí resolveu fazer mestrado na terra dele.

 Acho que o mais legal de Sampa é o fato de ser cosmopolita. Diferentes estilos e culturas encontram algum lugar na cidade para chamar de seu. Sinto falta dos parques, principalmente do Museu do Ipiranga (fechado para obras) e do Ibirapuera. Também sinto saudade da vida noturna agitada, com muitos lugares bacanas pra tomar uma cerveja. Adorava o Charme da Paulista e o Opção também. Adoro as feiras de rua, sempre tem uma em algum lugar próximo. Saudade do pastel e caldo de cana. A feira da Praça da República, de domingo, tem muita coisa bacana, roupa, artesanato, pinturas e comidinhas! Também curtia a feira da Benedito Calixto, com antiguidades e itens descolados.”

Amanda na avenida Paulista, durante reforma da ciclovia, e ao lado a Casa das Rosas, onde ela frequentava. (fotos: arquivo pessoal + Felipe Lange Borges)

Amanda na avenida Paulista, durante reforma da ciclovia, e ao lado a Casa das Rosas, onde ela frequentava. (fotos: arquivo pessoal + Felipe Lange Borges/Creative Commons)

Amanda Serra, 27 anos, jornalista
A paulistana está há 4 meses em Dublin, na Irlanda. Mudou para melhorar o inglês e aprender mais sobre si mesma.

“Com certeza o clima de São Paulo (minha cidade) é o que eu mais sinto falta atualmente. Sem falar na comida: aquela coxinha quentinha do Frangó, a pizza da Ritto… O centro velho de São Paulo é outra paixão, mas não há nada tão paulistano como caminhar pela avenida Paulista e se apropriar dela. Era um dos meus programas prediletos aos domingos, agora que ela está fechada para carros deve estar ainda melhor. A homogeneidade das pessoas ao redor, as feiras de artesanatos com roupas descoladas, os variados protestos, os shows dos artistas de rua, as lojinhas dos chineses, a atmosfera cultural, o simples caminhar em meio a tudo isso já fazia a viagem de Pirituba valer a pena. Vivia de olho nas programações gratuitas da Casa das Rosas, do Itaú Cultural e do Centro FIESP. Isso sempre me rendeu belos espetáculos e exposições. Essa é uma boa dica para quem gosta de teatro, exposição, literatura e quer economizar. ”

Munhoz na cozinha do bar O Pico, em Pinheiros, seu preferido em SP (Foto: arquivo pessoal)

Felipe Munhoz, 31 anos, jornalista
Nascido em São Bernardo do Campo, viveu entre o ABC e a capital boa parte da vida. Há 4 anos foi para o Rio de Janeiro. Segundo ele, o universo só mandou uma alternativa de mudança, ele aceitou e iniciou uma nova fase.  

“São Paulo, nos separamos, eu sei, mas vou te contar. Gosto mesmo é de te ‘namorar’ assim, distante. Ainda sinto saudades das nossas quintas dançantes no Teatro Mars. Daquela sensação de liberdade ao te amar dirigindo pela madrugada, com suas curvas desimpedidas, e caçar alguém que topasse levantar uns copos.  Lembra quando não ‘existia’ Vila Madalena? A gente ia, literalmente, de norte a sul, de leste a oeste. Eu sei, a praça do pôr-do-sol é um pedacinho marcante. Nossa, vivemos intensamente o nosso tempo. Tomamos os maiores porres no Pico, da Cardeal. Se quiser comer pastel na Mercearia São Pedro, tudo bem, mas já aviso que sem Xico Sá e Sócrates o lugar deve estar meio sem aura – dizem que até pegou fogo!

Chega de enrolação, vou dizer logo a verdade. Sua graça é nos deixar fugir da moda. Se todo mundo começa ir pra Vila, a gente vai para Augusta ou toma uma no Rossio ou num bar da Tiquatira; se lotam o Belas Artes, é hora de dar um pulo no Centro Cultural; se tem rolezinho gourmet em Moema, a gente vai visitar os amigos em Itaquera, ou em Pirituba, com o maior prazer; se a polícia sitiou a praça do pôr-do-sol, a gente faz música e fogueira no mirante de Santana.

Não posso negar, suas caronas sinceras me encantam. Mas, sinceramente, o nosso amor só existe assim, no campo das saudades. De qualquer forma, fica o meu “abraçaço” e a gratidão por me ajudar a amadurecer com tantas experiências. Meus parabéns, São Paulo.”

Travel Tattoo :: Bruna Caricati

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Fotos: Arquivo pessoal da Bruna

Há quem goste tanto de viajar que dá um jeito de transformar toda sua vida em função de suas andanças. Uma autêntica nômade digital, a jornalista Bruna Caricati, 26 anos, já morou em cinco países e não pretende parar tão cedo de rodar o mundo. As aventuras começaram já na faculdade: morou um tempo na Espanha e no final do curso foi para Guiana Francesa para escrever um livro-reportagem sobre o país. Depois de formada, mudou-se pra Londres, em seguida para Itália, Bélgica, Uruguai… ufa!

Há cinco anos ela mantém o blog Go to Gate, onde entre um relato e outro ela dá dicas ótimas e bem práticas de viagem, e agora escreve também para o site Brasil Post, ao mesmo tempo em que faz frelas e planeja os próximos embarques – e as próximas tatuagens também. Bruna tem duas relacionadas com viagens e conta aqui quais foram suas inspirações:

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Quantas e quais são as tatuagens que você tem?
Tenho duas: no ombro tenho uma rosa dos ventos com um avião de papel saindo dela e um on the road escrito no braço com letra de máquina de escrever.

Quando e onde foram feitas?
A primeira que fiz foi a rosa dos ventos. Fiz com o super tatuador Victor Octaviano, que conheci por causa de uma reportagem que fiz com ele. A ideia era fazer essa tatuagem naquele modo aquarela, mas ele me convenceu de que seria melhor não fazer assim. Confiei e deixei ele fazer do jeito que achava melhor. No fim, amei o resultado e saiu muito melhor do que a ideia que eu tinha em mente.

Essa tatuagem fiz quando voltei da Bélgica, onde morava no momento, e estava em São Paulo visitando minha família antes de me mudar para o Uruguai. Como eu estava numa fase de transição decidi fazer essa tatuagem para simbolizar minha vida, que, naquele ano, era nômade e eu estava sempre mudando de lugar.

A rosa dos ventos representa isso para mim, uma direção que me leva a uma nova vida. Uma direção aleatória e incerta – que é isso que me deixa feliz: não ter destino certo, não ter planos.  O aviãozinho de papel era só um chame a mais, pois foi um ano que peguei incontáveis voos.

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Já o on the road fiz quando voltei do Uruguai e me estabeleci de novo em São Paulo. Tem vários significados. Um: sim, é por causa do livro. Primeiro porque é um livro que gosto muito e sou meio viciada em Jack Kerouac no geral. Acho que o livro “On the Road” marcou uma geração de jovens aventureiros e é onde vejo a inspiração para cair na estrada sem rumo, sem planos, que é o que fiz.

A tipografia da minha tatuagem é imitando letras de máquina de escrever, porque, bom, sou jornalista e escrever faz parte da minha vida. E o outro significado é o literal: on the road, que é o que faço e quero fazer pro resto da minha vida.

Como foi a escolha do desenho que ia tatuar?
A rosa dos ventos eu vi em pesquisas no Google, mas pesquisei pelo desenho dela mesmo e não por tatuagens. Levei para o tatuador e ele trabalhou a ideia dele em cima da imagem que eu levei. Criamos um desenho novo, fugindo um pouco do formato real. Ele deu uma pirada na ideia e eu aceitei.

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O on the road veio da minha cabeça, não vi em nenhum lugar. O tipo de letra também (de máquina de escrever), mas o tatuador que pesquisou a tipografia e me mostrou algumas sugestões.

O que te inspirou a fazer?
Sempre quis fazer uma tatuagem, mas não sabia o que me inspirava, o que era uma motivação na minha vida. Morar forar, ser nômade por um tempo me transformou e eu vi que a minha vida é isso. Então, decidi que minhas tatuagens deveriam representar essa essência da minha vida.

Tem planos de fazer outras? Quais e por quê?
Sim! Em breve quero fazer uma outra, que também é escrita. Estou entre um poema do Robert Frost e um do Bukowski. Uma diz “Miles to go before sleep” e outra diz “If you’re going to try, go all the way. It’s the only good fight there is“. Mas não sei ainda. Acho que essas são bem batidas, porém, representam coisas importantes pra mim.

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E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com

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Gente que viaja :: Antonio da Patagônia

Seu Antonio, hoje guia e motorista na Patagônia, já viajou o mundo. Foto: Débora Costa e Silva

Seu Antonio, hoje guia e motorista na Patagônia, já viajou o mundo. Foto: Débora Costa e Silva

Quando entrei na van para sair da região de Torres del Paine, no Chile, e seguir rumo ao aeroporto de Punta Arenas em uma viagem de quatro horas, estava pronta para dar um cochilo, ouvir música e relaxar. Faria isso tranquilamente se não tivesse notado que o motorista chileno falava português super bem, quase sem sotaque. Fiquei instigada e comecei a puxar papo.

No começo foi difícil, porque a primeira impressão é de que ele era meio rabugento, sério, daqueles que não tá afim de conversar. Mas ele foi respondendo as minhas perguntas e quando me dei conta, ele já estava resgatando histórias e memórias por conta própria, empolgado de lembrar de seus tempos no Brasil.

Antonio dirigindo de Puerto Natales até Punta Arenas, onde mora há 4 anos. Foto: Débora Costa e Silva

Antonio dirigindo até Punta Arenas, onde mora há 4 anos. Foto: Débora Costa e Silva

Ele morou por quatro anos no Rio de Janeiro entre os anos 1981 e 1985 para fazer faculdade de Hotelaria – inspirado e incentivado por sua mãe, que trabalhou a vida toda em companhias aéreas, entre elas a extinta Varig. Segundo Antonio, ela o ajudou a fazer a transição para o Brasil para estudar, já que não havia esse curso ainda no Chile. Do tempo em que viveu no Rio, suas lembranças mais queridas e saudosas são dos carnavais que desfilou pela Mangueira. Ele participou de todos os ensaios, aprendeu até a tocar surdo e integrou a bateria.

Mas não parou por aí. Por conta da profissão, ele carimbou muito seu passaporte e sua carteira de trabalho. Antonio já viveu na Venezuela, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana e Trinidade, além das diversas vezes que foi aos Estados Unidos e para o Canadá. Nesses lugares, já foi guia turístico, guia de selva, instrutor de mergulho e parapente, trabalhou em hotéis e atuou como motorista-guia turístico inúmeras vezes – como agora na Patagônia, onde vive há 4 anos com a esposa.

“Sou ávido por informação. Estou sempre lendo, estudando e fazendo cursos – o último foi o da Conaf (Corporação Nacional Florestal), no Parque Torres del Paine”. Além da busca por conhecimento, fiquei curiosa para saber mais sobre o que o motiva a viajar e mudar tanto de um lugar para o outro. “Um ano inteiro fazendo um mesmo roteiro todos os dias cansa. Quando aparecia uma outra oportunidade, eu não pensava duas vezes. Eu me identifico com os cachorros. Aquela coisa de sair por aí andando sem rumo, meio vagabundo, sabe? Então, eu sou um deles”.

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Lago Sarmiento com vista para as Torres del Paine, na Patagônia Chilena. Foto: Débora Costa e Silva

Enquanto a paisagem na janela mudava e o vento ganhava mais força conforme avançávamos para o sul, seu Antonio foi mostrando cada vez mais seu lado sensível, sereno e filosófico. Questionei então o que queria saber desde o início: por que viver na Patagônia? Segundo ele, a escolha foi da mulher, que é apaixonada por glaciares e também é guia de turismo. Enquanto ele fala inglês, francês e português, ela complementa o currículo de idiomas do casal com alemão e japonês.

Eles moram há quatro anos em Punta Arenas, longe do filho mais velho, que estuda cinema em Santiago, mas ainda próximos ao caçula, que estuda teatro ali na região. “Fico aqui porque é cômodo e confortável. Agora com família, casado e filhos grandes, a vida está mais tranquila”, explica.

Mas não acha muito vazio? “Não, acho perfeito. Depois de morar em Santiago, qualquer lugar é gostoso. O pessoal que mora lá está sempre estressado, correndo, no metrô as pessoas ficam espremidas que nem sardinha em lata. Aqui estou muito bem. É uma das mil razões que viemos para cá”, defende.

A vida social é escassa na Patagônia. Se o tempo está bom, ele e a esposa fazem churrasco e recebem os poucos amigos que fizeram por aquelas bandas. Afinal, para um forasteiro, é difícil criar vínculos com quem nasceu e viveu na região a vida toda. Nas horas vagas, gosta de se dedicar ao jardim de sua casa, ler e pescar – e já está de bom tamanho.

Para encerrar, Antonio me falou uma das frases mais bonitas e melancólicas que já ouvi. “A solidão é impagável. Porque não há silêncio quando se mora em uma cidade tão grande, os pensamentos são praticamente compartilhados com os outros, estamos sempre cercados de gente. Quando se é jovem, é importante sair e ter vida social. Mas depois de um tempo, muito barulho já não dá mais. Muita poluição visual também não é bom. Por isso eu prefiro morar aqui”, concluiu.

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“A solidão é impagável”, diz o seu Antonio sobre escolher viver na Patagônia. Foto: Débora Costa e Silva