Ch-ch-ch-ch-changes!

tumblr_my4yysdoOH1t4wmn7o1_500

Para ler ouvindo: Changes, com David Bowie

Há duas semanas eu fiz uma viagem que estava planejando há tempos. Me faltava passagem e destino, mas o desejo já vinha se acumulando. Já havia feito cálculos e cogitado a possibilidade de cair na estrada sem rumo, só para sentir de novo aquele frio na barriga de estar prestes a embarcar rumo ao desconhecido.

Então, após fazer algumas buscas e passar por alguns períodos de desesperança, uma oportunidade surgiu e eu pude realizar a mudança que tanto queria. Depois de seis anos e meio trabalhando na mesma empresa, eu pedi as contas.

seinfeld-celebration

Mas calma! Não é o caso aqui de largar tudo para dar a volta ao mundo – não por enquanto rs. Estou começando um novo trabalho. Pode até não parecer tão life-changing sair de um emprego para entrar em outro se for comparar com os que saem por aí com uma ideia na cabeça e uma mochila nas costas. Mas para mim tem sido bastante transformador. E acho que no meio dessa crise jornalística e econômica que passamos, arrumar um emprego novo é sim um privilégio. Ainda mais se for para trabalhar com o que gosta 🙂

yUgEsHQ

O que mudou também foi minha perspectiva em relação a minha profissão. Sempre quis ser jornalista e atuar como repórter e assim foi nos últimos dez anos. Ir para o outro lado do balcão, em uma assessoria de imprensa, era algo impensável até há pouco tempo, antes dos veículos estarem fechando, os textos ficando mais e mais sucintos e as perspectivas de crescimento na área serem pífias. O que fazer então?

tumblr_m6hrehQGch1r7dqd1o1_500_large

Por sorte, nesses últimos seis anos me apaixonei por outra coisa: viajar. Então percebi que toparia fazer algo diferente do que eu sempre me propus contanto que eu estivesse envolvida com turismo. Melhor ainda se fosse em um lugar que eu já conhecesse e admirasse o trabalho, como foi o caso. Daí foi pura alegria e me joguei feliz nessa nova fase! \o/

9015

Em duas semanas já aprendi mais coisa do que nos últimos meses (ou anos), sem exagero. Só a mudança em si já refresca a nossa cabeça, né? E é interessante estar “desse lado”, estou tendo uma noção muito mais ampla de como funcionam as coisas no mercado de turismo, já que agora fico no meio de campo entre as redações e os destinos/hotéis/agências.

Que venham mais aprendizados, mais viagens, mais crescimento e que o processo de transformação continue a todo vapor!

giphy

Sobre ser livre para viajar – ou viajar para ser livre

aviao

Tem uma coisa em comum em todas as viagens que fazemos, seja sozinho ou acompanhado, para a Chapada Diamatina ou para Londres, de carro ou de avião, ficando em hostel ou em hotel: a sensação de liberdade.

Parece clichê, mas pense bem: o que te leva a viajar? Não interessa se você foi para Miami fazer compras, para o Machu Picchu contemplar a natureza, para Roma ver arte e arquitetura ou para a Nova Zelândia pular de bungee jump. No final das contas, todas essas viagens podem proporcionar a liberdade para diferentes tipos de pessoas.

E é aí que está a graça da história toda. Por isso que acredito que não se deve julgar a forma de cada um viajar. Saímos por aí em busca de novidades, de um novo mundo e de se transformar com determinada experiência. Conhecer nossos limites – e extrapolá-los. Se arriscar – mesmo que com mala de rodinhas 😛

retrovisor

Se for para um hotel cinco estrelas, com direito a jacuzzi e champanhe, estarei me permitindo ir além do meu estilo de vida comum, bem como se for acampar no meio do mato, com direito a chuva e insetos. Nas duas formas eu saio da zona de conforto – uma com falta, outra com excesso, mas em ambas cruzarei limites.

Claro que em algumas viagens nos sentimos mais livres que outras – tudo depende do quão novo e intenso é aquilo que se vive. Todo dia mudamos um pouquinho, mas ao viajar parece que esse processo se acelera, pois além de viver coisas novas, com a distância também conseguimos ver nossa vida um pouco de fora. Em maior ou menor grau, sempre voltamos diferente de uma viagem.

Portanto, sem julgamentos e nada de criar barreiras para ninguém, muito menos a si mesmo, quando for viajar. Se jogar faz parte do modus operandi – da forma que for, para onde for. É essa a delícia de cair na estrada ❤

citacao

Fotos: Débora Costa e Silva, via Instagram

Cuba :: O primeiro impacto e os clichês

Toda vez que falo sobre a sensação de “voltar no tempo” que Cuba traz para os visitantes, me sinto um pouco mentirosa. É porque eu mesma esperava sentir isso assim que chegasse lá, mas demorou um pouco para isso acontecer.

Um dos carros

Um dos carros “novos” que vimos circular por Cuba. Foto: Débora Costa e Silva

Assim que chegamos ao Aeropuerto Internacional José Martí, em Havana, fomos dar uma olhada na rua para ver Cuba pela primeira vez e então veio o choque: carros novos. Nem um, nem dois: todos os carros eram novos. Onde estavam os Cadillacs, os Bel-Air e tantos outros (que eu nem sei os nomes)? A única coisa que eu conseguia pensar era: cheguei tarde demais.

E a sensação só se confirmou quando passamos na casa de câmbio do aeroporto. Na fila, à nossa frente, havia um cubano. Eis que o celular dele (!) toca e o ringtone era a música que tocava em todas as baladas do momento (!!!). Como assim um cubano tem um celular que toca música atual? Era muito pra minha cabeça.

Ok, eu era bem ingênua e muito do que eu lia sobre Cuba era referente ao passado (revolução) ou à cultura. E também sabia que a ilha já havia mudado bastante desde a abertura turística. Mas ainda assim! Essas duas cenas já me passaram de cara o recado de que ali nada seria tão previsível ou de acordo com os clichês que tanto ouvia sobre a ilha.

O velho e o novo:  tem carro de tudo quanto é idade em Cuba. Foto: Daniel Ribeiro

O velho e o novo: tem carro de tudo quanto é idade em Cuba. Foto: Daniel Ribeiro

Depois encontrei, sim, os carros antigos e apesar de não ser vidrada em automóveis, era sempre emocionante entrar num carro e descobrir sua história – ou pelo menos de que ano era. Em Cuba, os carros são como imóveis, são patrimônio familiar, passados de geração para geração. Se quebrou, tem que arrumar, se vira.

Já os mais novos são destinados aos turistas que querem alugar um carro para circular pela ilha, ou ainda para quem trabalha de alguma forma na indústria do turismo. Nosso transfer mesmo não tinha nada de velho, era um veículo que podia ter visto em qualquer lugar do mundo.

Carros antigos estacionados perto do Capitólio, em Havana Velha. Foto: Débora Costa e Silva

Carros antigos estacionados perto do Capitólio, em Havana Velha. Foto: Débora Costa e Silva

Os antigos mais bonitões, conversíveis, coloridos e brilhantes, ficam nas áreas mais turísticas de Havana, como na Praça da Revolução e perto do Capitólio, ou ainda desfilando pelo Malecón. Mas viajando pelo interior do país pudemos ver os carros velhos-velhos mesmo, sem lá muito charme vintage e glamour. Em Santiago, do outro lado da ilha, as ruas chegam a ser esfumaçadas tamanha a poluição dos veículos.

Lojas da Adidas e da Puma no centro de Havana. Foto: Débora Costa e Silva

Lojas da Adidas e da Puma no centro de Havana. Foto: Débora Costa e Silva

Quanto à globalização (ou americanização) do povo, tivemos outros exemplos além da musiquinha do celular. Vimos vários cubanos usando camisetas e bonés de times de basquete e beisebol norte-americanos – provavelmente presentes de turistas ou de parentes que vivem em Miami. Encontramos lojas da Addidas e da Puma (que são alemãs, mas ainda assim me surpreendi) e achamos Coca-Cola em Santiago – depois em Varadero e em outros restaurantes mais caros também.

De qualquer forma, acredito que nada disso tenha comprometido a identidade cubana – pelo menos não até 2010, ano em que estive por lá. Hoje a influência dos EUA e da Europa deve ser ainda maior. Com a abertura política a caminho, então, a tendência é só aumentar. Provavelmente Cuba não trará mais a sensação de volta ao passado. Mas se vai melhorar, ou piorar, não dá pra saber. Vai ser só mais um capítulo da história que eu quero continuar acompanhando.

Vista a partir do Capitólio de Cuba, em Havana - uma das cenas que me fizeram

Vista a partir do Capitólio de Cuba, em Havana – uma das cenas que me fizeram “voltar no tempo”. Foto: Débora Costa e Silva

Por que escolhi ir para Cuba

DSC_0750

Ministerio del Interior na Plaza de la Revolución, em Havana

É difícil encontrar alguém que queira ir para Cuba que não tenha tido um pé na cozinha do Karl Marx. Caribe por Caribe, tem um monte de ilhas ali muito mais famosas pelas praias paradisíacas de mar azul. Ou pelo menos uma curiosidade saudável sobre como as coisas funcionam no país – acho difícil alguém de extrema direita querer ir para lá. Se não for minimamente simpatizante da revolução, pra quê ir? (Se for o seu caso, me conte!)

Comigo pelo menos foi assim. Eu nem lembro quando começou essa fissura por Cuba. Sei que na sétima série tinha um casal de professores que havia ido para lá – e isso era em 1999 – e eu achei incríveis as histórias que eles contavam – principalmente aquela coisa clássica de sentir que “voltou no tempo”. Talvez tenha sido neste momento que Cuba entrou para o meu radar.

No ano seguinte, fiz um seminário para a aula de História e meu grupo pegou os temas Revolução Russa e Chinesa, ou seja, fui me familiarizando com o socialismo. A professora era bem boa, estimulava discussões e provocava a galera nas aulas. E, claro, era pra lá de esquerda. Me identifiquei muito com os conceitos de igualdade social e comecei a me interessar por política. Virei vermelhinha.

DSC_0333

Da esq. para a dir.: estátuas de Camilo Cienfuegos, Fidel Castro e Che Guevara no Museu de la Revolución, em Havana

Sim, eu era dessas que defendia o PT, queria estar ao lado dos fracos e oprimidos e mudar o mundo. Usava camiseta do Che Guevara e lia Caros Amigos. Por um lado até que foi legal essa fase, eu era bem engajada. Ah, e na adolescência acho válido sonhar e ser idealista – já basta a vida adulta para te jogar doses diárias de baldes de água fria né?

Mas não foi só isso que me levou a ilha de Fidel. Tinha a música também, obviamente. Eu fazia aula de percussão, tocava de chocalho a atabaque, e o Mingo, meu professor, era mestre nos ritmos latinos. Fui aprendendo a base de vários estilos: salsa, rumba, chachacha, bolero e outros. Quanto mais ouvia, mais eu pirava.

Daí, naturalmente, veio a vontade de dançar salsa (ok, eu já estou morrendo de vergonha de contar tudo isso e quero desistir, mas vamos lá). Aprendi o básico e saía direto aqui em São Paulo para umas baladas latinas. A essa altura, não tinha como eu não ser obcecada por Cuba! Só precisava juntar dinheiro, ter férias e tava mais que decidido.

Músicos em cada esquina: um mito real de Cuba. Foto feita em Trinidad

Músicos em cada esquina: um mito real de Cuba. Foto feita em Trinidad

O mais louco é que voltei de saco cheio do Che Guevara e desse papo de revolução. Não que eu seja contra, o que passou, passou, ainda acho interessante toda a história. Mas lá você tem uma overdose sobre o tema e cansa falar e ouvir sobre isso. Sem contar que a maioria vive em condições precárias – apesar dos inegáveis benefícios na área de saúde e educação, ok.

E as paisagens, que antes eu nem dava bola, estão entre as coisas que mais me impressionaram. Não só a beleza das praias, mas também das construções históricas de Havana e Trinidad. Recomendo bem mais do que algumas ilhas caribenhas que de tão lotadas de resorts acabaram ficando quase sem identidade.

cuba2

Pôr do sol no Malecón, calçadão a beira do mar em Havana

Fotos: Débora Costa e Silva

Visconde de Mauá :: Unplugged

Chalé no Vale das Flores, onde ficamos bem isolados. Foto: David Santos Jr

Chalé no Vale das Flores, onde ficamos bem isolados. Foto: David Santos Jr

Uma amiga voltou de uma viagem em que teve que ficar sem internet, telefone e televisão por quase uma semana e estava feliz por ter “sobrevivido”. Mais que isso: tinha se sentido incrivelmente melhor, menos refém do feed do Facebook e mais livre para viver o presente.

Você leu o parágrafo anterior e achou exagerado o termo “sobreviver”? Julgou e pensou “que besteira, antigamente todo mundo vivia sem isso, eu não sou dependente dessas coisas”? Pois é, eu julgaria assim também se não tivesse passado por isso recentemente.

No ano passado, fui para Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, com meu namorado. Ficamos na casa do irmão dele, no Vale das Flores, bem no meio do mato mesmo. O centrinho mais próximo ficava a meia hora dali, depois de muito cavalgar no banco do carro por conta dos buracos da estrada.

Antes de chegar, quando passamos por Penedo, meu namorado já me falou para ligar para minha mãe porque dali em diante não haveria mais sinal. Nenhum. Ok, eu pensei, do que mais eu preciso? Uma boa companhia, natureza, amor, silêncio… E de tempos em tempos me flagrava dando aquela checadinha no combo email-face-instagram e a única informação que eu obtinha do aparelho eram as horas. Le-gal, 10h33, já passaram 10 minutos, e aí? E agora?

E aí que os intervalos que eu ficava sem olhar o celular foram ficando maiores, até que passei a mexer realmente só quando queria tirar uma foto. A ansiedade baixou, a necessidade sumiu. Não senti calafrios de abstinência, meus olhos descansaram da luz da tela, meus ouvidos se abriram pro sons da natureza e… ok, parei, tá muito hippie isso aqui.

Cachoeira Véu de Noiva, na Vila de Maromba. Foto: Débora Costa e Silva

Cachoeira Véu de Noiva, na Vila de Maromba. Foto: Débora Costa e Silva

Mas o fato é que não sofri muito – só um pouquinho, mas bem menos do que eu esperava. O lance é que no início fiquei entediada, afinal, no celular tenho trilhões de informações (a maioria inútil, claro) e ali, em Mauá, eu tinha basicamente uma por vez. Mas foi uma bela troca, de quantidade por qualidade. Eu via uma cachoeira e era incrível. Se for parar para ver, ali também contém zilhares de “informações”: a vegetação ao redor, o movimento da água, o barulho da água, as pedrinhas do fundo do rio, o cheiro do mato e por aí vai.

Ou seja, na teoria, todos sabemos que vale a pena dar uma desligada, mas só desconectando é que nos damos conta (ou pelo menos eu me dei) do quanto o celular e a internet dominam nossa atenção no dia a dia. E foi voltar a ter sinal 3G que a ansiedade deu as caras de novo. Vira e mexe sinto falta da sensação de ficar desconectada como dessa vez em Mauá. E por que então não diminuir?

Daí que entra a parte da viagem. Quando viajamos nos permitimos experimentar mais situações incomuns. E nem sempre conseguimos manter na rotina aquilo que fizemos enquanto estivemos fora. Se conseguir adaptar um pouquinho, a viagem já cumpriu sua missão.

Leia Mais:
Entre cachoeiras e história, Visconde de Mauá é ideal para o fim do inverno (diria até que é ideal para qualquer estação :-))

Ficar doente em uma viagem – quem nunca?

df69bbdcc3bd1c3d26f27e7a848d47eaEstou de repouso em casa desde ontem, curtindo uma gripe adoidada, e comecei a pensar o quanto ficar doente estraga os planos do dia, do fim de semana… e de uma viagem. Sim, estraga, mas estraga ainda mais se você ficar pensando nisso amargurado (o que  já fiz algumas vezes). Porque sempre é possível adaptar o programa e aproveitar o dia mesmo abatido por uma gripe ou torcicolo.

E sobre isso tenho experiência de sobra. Foram incontáveis gripes, gargantas inflamadas, febres, torcicolos, assaduras, pés e joelhos machucados. Não sei se é olho gordo, se sou eu que me auto-saboto ou se meu organismo é fracote mesmo e dei azar. Anyway, sem conclusões, mas quer saber? Todas elas me trouxeram boas histórias e risadas, me ajudaram a testar a paciência dos companheiros de viagem – e os serviços de primeiros socorros dos hotéis – e conhecer gente fofa que me ajudou a melhorar.

Ah sim, e a cada viagem que passa, a necessaire de primeiros socorros só engorda.

Gripe a la cubana

DSC_0173c

Em Cuba, minha primeira viagem de férias remuneradas, fiquei super doente por conta do choque térmico entre o calor da rua e o ar condicionado congelante dos ônibus rodoviários (sério, nunca passei tanto frio numa viagem de ônibus como esta de Havana para Trinidad). Chegando lá, eu e o Daniel, mi compañero de Cuba, nos hospedamos em uma casa particular de uma família bem católica. As anfitriãs eram uma senhorinha fofa e sua filha, Yaqueline (foto, ao lado do rango maravilhoso que ela cozinhava pra gente).

Sabendo que estava ruim da garganta, gripada e com febre, Yaqueline todo dia de manhã me oferecia uma colher de mel com limão. Lá não tinha remedinho e para ir ao hospital eu teria que enfrentar uma boa dose de burocracia. Fui levando da forma que dava, mas essas doces colheradas, cheias de carinho de mãe, me fizeram melhorar bem.

Perder eu não perdi quase nada, mas passei bem mal em um passeio de barco, porque estava com febre e estava muito calor, e perdi o pique para fazer as coisas – mas graças ao Daniel, eu ia – cambaleando de febre, mas ia. Chegou um momento da viagem que dei um basta: não ia parar tão cedo de assoar o nariz e tossir. A febre já tinha passado. Quer saber? Mojito nela! A bebida tem hortelã, rum e limão – mal não ia fazer, pelo contrário! O humor ficou ótimo e sobrevivi.

Um adendo importante: ficar gripada exige um grande volume de papel higiênico, certo? Agora pense passar por isso em Cuba, lugar em que você leva sabonetes para distribuir entre os cubanos porque o governo não fornece produtos de limpeza e higiene em abundância. Resultado: virei a ninja de estocar papel higiênico, mas também tive que me virar para subornar as faxineiras dos postos rodoviários que não queriam me ceder mais papel, nem me vender porque havia fiscalização. E, em alguns casos, eu simplesmente roubei, porque meu nariz escorria (mal ae Cuba).

Torcicolo no Rio Quente (GO)

rioquente

Eu tenho uma certa facilidade de dar mau jeito no pescoço, nos ombros e nas costas. Já tive que usar algumas vezes aquela coleira de contenção no pescoço – inclusive ir para a escola com ela (ah, traumas, traumas). Mas quando fui a trabalho para o Rio Quente Resorts, em Goiás, fiquei dura – não sei se foi de dormir no avião, ou a cama, o que foi que me estragou, mas fiquei bem mal, incomodada o dia inteiro, ainda mais tendo que andar com uma câmera pesada pendurada no pescoço.

A descoberta feliz da viagem? Eu estava no lugar certo para quem sofre com dores musculares! Eu tinha a minha disposição dezenas de piscinas de águas quentes e relaxantes, e ainda por cima, uma delas oferecia uma queda d’água fortíssima, ultra recomendada para o meu caso. E lá fui eu disputar com os velhinhos um lugar debaixo da cachoeira de água quente. E passei o máximo de tempo possível da viagem dentro da piscina para amortecer as dores.

Aprendizado da vez: sempre coloco na mala minha “coleira” curadora de torcicolo, porque nunca se sabe…

Caribe rima com gripe

amayra

Porque não é possível! Fui para a Aruba dois anos depois de Cuba e adivinha? Uma gripe forte me atacou. Quando eu digo gripe, não é um nariz com coriza apenas, é todo o pacote: fico sem voz, mal consigo engolir, minha cabeça e meu corpo doem, tenho febre e não respiro direito.

De novo, acho que foi culpa do choque térmico. Acho que no Caribe o pessoal não tem muita noção da temperatura do ar condicionado e exagera na dose. Eu entrava no hotel e sentia meu cabelo balançar com o vento de tão frio que estava!

A gripe pegou de vez depois de um jantar maravilhoso, em um restaurante com um jardim com piscina no meio, tudo muito chique. Mas o glamour durou 15 minutos, porque começou a chover. Caiu uma tempestade mesmo, os garçons corriam de um lado para o outro tentando improvisar guarda-chuvas. a nossa mesa tinha umas oito pessoas e nos deram só dois. Foi hilário, os pratos transbordavam água da chuva, a turma deu muita risada.

E tava tão quente, tão calor, que nem liguei de tomar chuva. Junte isso aos choque térmicos e violá: gripada. Minha sorte (que ironia) é que nessa semana em Aruba, apenas um dia fez sol de rachar. Nos outros, apesar do calor insuportável, o céu estava nublado – o que facilitou minha vida, já que passei uns dias com febre e o sol acabaria comigo.

A participação especial ficou por conta da guia Amayra (foto), uma típica arubana bem humorada, espirituosa, gordinha, às vezes meio brava – mas durava pouco, só para no final da bronca ela abrir um sorriso enorme e gargalhar. Basicamente ela parecia a mãe da Lilo, do filme Lilo & Stich. E ela se mostrou uma maezona me dando pastilhas, remedinhos, dicas e até um protetor labial. Tá tudo dando errado e vem uma pessoa dessa… como não amar? ❤

Doidona de altitude

heavenly

De uns anos para cá, a frequência de gripes e acidentes até que deu uma diminuída. Claro que aí fui ganhando confiança e me achando imune a tudo – inclusive em relação ao esqui, esporte que descobri ser minha verdadeira vocação. É um pouco perigoso e para ter uma queda daquelas não precisa de muito. E ainda assim volto para casa inteira? Pronto, acabou a ziquizira, né?

Hahaha bobinha! Aí é que fomos surpreendidos novamente! Não, eu não caí (to falando que eu mando bem no esqui! :P), foi quase, mas não por causa de uma manobra errada, mas por efeito da altitude elevada da montanha.

Era coisa de 3.000 metros – eu já tinha experimentado no Atacama algo assim e deu tudo certo. Só que dessa vez, em Lake Tahoe (Nevada/Califórnia), a subida no teleférico da estação Heavenly ia de uma vez só até o topo. Sem ter tomado um café da manhã adequado (com frutas, ovos, pão) nem ter me hidratado o suficiente, cheguei lá em cima cansada como se tivesse apanhado.

Não dei muita trela, era cedo, tinha o jetlag, os equipamentos de esqui são pesados, estava muito frio, enfim, motivos para explicar o meu cansaço não faltavam. Só que eu achei que ia passar e continuei em frente. Sofri muito, tudo o que eu fazia parecia ser três vezes pior do que era: andar até a pista, descer uma escadaria… só na hora de esquiar que foi gostoso, mas cheguei lá embaixo determinada a parar. Eu só queria deitar, podia ser na neve, qualquer coisa. E beber água, estava seca.

Entrei no restaurante e encontrei a Rosalie, representante da estação que nos acompanhava, que viu minha cara branca e me levou lá para o hotel de volta. Eu estava arrasada: ia perder um dia de esqui por… cansaço. Sua fraca! Mas eu não conseguia e obedeci ela. Cheguei lá e mal consegui tirar os esquis do pé e me arrastei até o quarto. Ela me garantiu que era efeito da altitude e que eu precisava descansar.

Acho que dormi das 10h até umas 16h. Acordei melhorzinha, mas quando levantei da cama, wow, tudo girava e eu parecia pior do que nunca. Mandei mensagem para a Rose, assumindo que tinha piorado. Eis que tocam a campainha do meu quarto, eu abro e são dois bombeiros com um tubo de oxigênio em mãos. Eles entraram no quarto como se algo estivesse pegando fogo e eu queria morrer de vergonha.

Logo me deram oxigênio e me perguntavam se eu estava melhorando. Menti – disse que estava, mas confesso que não senti a menor diferença, eu só queria acabar com aquela situação de ter uma galera no meu quarto me olhando com dó e cara de preocupação. Agradeci e eles foram embora, mas de fato, já não estava mais tão zonza quando ficava de pé.

Achei que era uma boa ideia almoçar, pois já estava escurecendo e eu não tinha comido nada. A Rose então me levou em uma lanchonete e eu pedi a clássica Ceasar Salad. Acho que foi a melhor que já comi, acompanhada de uma coca zero ultra gelada. A Rose foi uma fofa, ficou lá comigo, estava sempre à disposição para me ajudar e ainda me orientou na pista de esqui dia seguinte. Confesso que à primeira vista, ela me pareceu uma pessoa bem séria e fria, mas acho que é só uma coisa cultural – e, afinal de contas, ela estava ali com um grupo de jornalistas brasileiros a trabalho.

E sim, dia seguinte estava ótima e consegui esquiar bastante, enfrentei até uma pista intermediária o/. Me explicaram que o ideal era ter feito uma parada em um mirante no meio do caminho do teleférico, para ir se acostumando com a altura aos poucos. Fica a dica 😉

Fotos: Débora Costa e Silva

O primeiro post – ou essa coisa difícil que as pessoas chamam de “começo”

Há tempos estou querendo começar este blog e fiquei emperrada por não achar um nome ideal. Besteira, né? Nome acho que é o de menos quando se tem vontade de fazer uma coisa. Às vezes ele acaba aparecendo no meio do caminho, mas sem começar a botar a mão na massa, fica difícil uma super inspiração bater a sua porta.

Trabalho como jornalista com o tema “turismo” há três anos e todo o universo relacionado a viagens me encanta, mas confesso que escrevo menos do que gostaria – daí veio o desejo de criar um blog para escrever o que eu quero, com maior frequência e do meu jeito (leia-se: mais descontraído, despretencioso e pessoal).

Até porque, em relatos de viagem, acredito que seja muito difícil não misturar as observações práticas e objetivas com as parciais e emocionais sobre os lugares visitados, as pessoas que marcaram o passeio, os sabores experimentados, as dores de cabeça que atrapalharam e os momentos emocionantes -que podem ser desde ver um pôr-do-sol excepcional no Atacama até se encantar por um cachorrinho vira-lata de alguma praça no interior de São Paulo.

O blog também vai servir como uma forma de reunir, junto às minhas lembranças de lugares e vivências, histórias e projetos interessantes relacionados ao mundo das viagens que eu encontrar por aí.

Espero que gostem! Ah, e fiquem a vontade para opinar e compartilhar suas histórias – afinal, o olhar de cada um é bem particular e a graça de querer viajar é justamente essa, conhecer e agregar novas sensações.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Fernando Pessoa)