Estou de repouso em casa desde ontem, curtindo uma gripe adoidada, e comecei a pensar o quanto ficar doente estraga os planos do dia, do fim de semana… e de uma viagem. Sim, estraga, mas estraga ainda mais se você ficar pensando nisso amargurado (o que já fiz algumas vezes). Porque sempre é possível adaptar o programa e aproveitar o dia mesmo abatido por uma gripe ou torcicolo.
E sobre isso tenho experiência de sobra. Foram incontáveis gripes, gargantas inflamadas, febres, torcicolos, assaduras, pés e joelhos machucados. Não sei se é olho gordo, se sou eu que me auto-saboto ou se meu organismo é fracote mesmo e dei azar. Anyway, sem conclusões, mas quer saber? Todas elas me trouxeram boas histórias e risadas, me ajudaram a testar a paciência dos companheiros de viagem – e os serviços de primeiros socorros dos hotéis – e conhecer gente fofa que me ajudou a melhorar.
Ah sim, e a cada viagem que passa, a necessaire de primeiros socorros só engorda.
Gripe a la cubana

Em Cuba, minha primeira viagem de férias remuneradas, fiquei super doente por conta do choque térmico entre o calor da rua e o ar condicionado congelante dos ônibus rodoviários (sério, nunca passei tanto frio numa viagem de ônibus como esta de Havana para Trinidad). Chegando lá, eu e o Daniel, mi compañero de Cuba, nos hospedamos em uma casa particular de uma família bem católica. As anfitriãs eram uma senhorinha fofa e sua filha, Yaqueline (foto, ao lado do rango maravilhoso que ela cozinhava pra gente).
Sabendo que estava ruim da garganta, gripada e com febre, Yaqueline todo dia de manhã me oferecia uma colher de mel com limão. Lá não tinha remedinho e para ir ao hospital eu teria que enfrentar uma boa dose de burocracia. Fui levando da forma que dava, mas essas doces colheradas, cheias de carinho de mãe, me fizeram melhorar bem.
Perder eu não perdi quase nada, mas passei bem mal em um passeio de barco, porque estava com febre e estava muito calor, e perdi o pique para fazer as coisas – mas graças ao Daniel, eu ia – cambaleando de febre, mas ia. Chegou um momento da viagem que dei um basta: não ia parar tão cedo de assoar o nariz e tossir. A febre já tinha passado. Quer saber? Mojito nela! A bebida tem hortelã, rum e limão – mal não ia fazer, pelo contrário! O humor ficou ótimo e sobrevivi.
Um adendo importante: ficar gripada exige um grande volume de papel higiênico, certo? Agora pense passar por isso em Cuba, lugar em que você leva sabonetes para distribuir entre os cubanos porque o governo não fornece produtos de limpeza e higiene em abundância. Resultado: virei a ninja de estocar papel higiênico, mas também tive que me virar para subornar as faxineiras dos postos rodoviários que não queriam me ceder mais papel, nem me vender porque havia fiscalização. E, em alguns casos, eu simplesmente roubei, porque meu nariz escorria (mal ae Cuba).
Torcicolo no Rio Quente (GO)

Eu tenho uma certa facilidade de dar mau jeito no pescoço, nos ombros e nas costas. Já tive que usar algumas vezes aquela coleira de contenção no pescoço – inclusive ir para a escola com ela (ah, traumas, traumas). Mas quando fui a trabalho para o Rio Quente Resorts, em Goiás, fiquei dura – não sei se foi de dormir no avião, ou a cama, o que foi que me estragou, mas fiquei bem mal, incomodada o dia inteiro, ainda mais tendo que andar com uma câmera pesada pendurada no pescoço.
A descoberta feliz da viagem? Eu estava no lugar certo para quem sofre com dores musculares! Eu tinha a minha disposição dezenas de piscinas de águas quentes e relaxantes, e ainda por cima, uma delas oferecia uma queda d’água fortíssima, ultra recomendada para o meu caso. E lá fui eu disputar com os velhinhos um lugar debaixo da cachoeira de água quente. E passei o máximo de tempo possível da viagem dentro da piscina para amortecer as dores.
Aprendizado da vez: sempre coloco na mala minha “coleira” curadora de torcicolo, porque nunca se sabe…
Caribe rima com gripe

Porque não é possível! Fui para a Aruba dois anos depois de Cuba e adivinha? Uma gripe forte me atacou. Quando eu digo gripe, não é um nariz com coriza apenas, é todo o pacote: fico sem voz, mal consigo engolir, minha cabeça e meu corpo doem, tenho febre e não respiro direito.
De novo, acho que foi culpa do choque térmico. Acho que no Caribe o pessoal não tem muita noção da temperatura do ar condicionado e exagera na dose. Eu entrava no hotel e sentia meu cabelo balançar com o vento de tão frio que estava!
A gripe pegou de vez depois de um jantar maravilhoso, em um restaurante com um jardim com piscina no meio, tudo muito chique. Mas o glamour durou 15 minutos, porque começou a chover. Caiu uma tempestade mesmo, os garçons corriam de um lado para o outro tentando improvisar guarda-chuvas. a nossa mesa tinha umas oito pessoas e nos deram só dois. Foi hilário, os pratos transbordavam água da chuva, a turma deu muita risada.
E tava tão quente, tão calor, que nem liguei de tomar chuva. Junte isso aos choque térmicos e violá: gripada. Minha sorte (que ironia) é que nessa semana em Aruba, apenas um dia fez sol de rachar. Nos outros, apesar do calor insuportável, o céu estava nublado – o que facilitou minha vida, já que passei uns dias com febre e o sol acabaria comigo.
A participação especial ficou por conta da guia Amayra (foto), uma típica arubana bem humorada, espirituosa, gordinha, às vezes meio brava – mas durava pouco, só para no final da bronca ela abrir um sorriso enorme e gargalhar. Basicamente ela parecia a mãe da Lilo, do filme Lilo & Stich. E ela se mostrou uma maezona me dando pastilhas, remedinhos, dicas e até um protetor labial. Tá tudo dando errado e vem uma pessoa dessa… como não amar? ❤
Doidona de altitude

De uns anos para cá, a frequência de gripes e acidentes até que deu uma diminuída. Claro que aí fui ganhando confiança e me achando imune a tudo – inclusive em relação ao esqui, esporte que descobri ser minha verdadeira vocação. É um pouco perigoso e para ter uma queda daquelas não precisa de muito. E ainda assim volto para casa inteira? Pronto, acabou a ziquizira, né?
Hahaha bobinha! Aí é que fomos surpreendidos novamente! Não, eu não caí (to falando que eu mando bem no esqui! :P), foi quase, mas não por causa de uma manobra errada, mas por efeito da altitude elevada da montanha.
Era coisa de 3.000 metros – eu já tinha experimentado no Atacama algo assim e deu tudo certo. Só que dessa vez, em Lake Tahoe (Nevada/Califórnia), a subida no teleférico da estação Heavenly ia de uma vez só até o topo. Sem ter tomado um café da manhã adequado (com frutas, ovos, pão) nem ter me hidratado o suficiente, cheguei lá em cima cansada como se tivesse apanhado.
Não dei muita trela, era cedo, tinha o jetlag, os equipamentos de esqui são pesados, estava muito frio, enfim, motivos para explicar o meu cansaço não faltavam. Só que eu achei que ia passar e continuei em frente. Sofri muito, tudo o que eu fazia parecia ser três vezes pior do que era: andar até a pista, descer uma escadaria… só na hora de esquiar que foi gostoso, mas cheguei lá embaixo determinada a parar. Eu só queria deitar, podia ser na neve, qualquer coisa. E beber água, estava seca.
Entrei no restaurante e encontrei a Rosalie, representante da estação que nos acompanhava, que viu minha cara branca e me levou lá para o hotel de volta. Eu estava arrasada: ia perder um dia de esqui por… cansaço. Sua fraca! Mas eu não conseguia e obedeci ela. Cheguei lá e mal consegui tirar os esquis do pé e me arrastei até o quarto. Ela me garantiu que era efeito da altitude e que eu precisava descansar.
Acho que dormi das 10h até umas 16h. Acordei melhorzinha, mas quando levantei da cama, wow, tudo girava e eu parecia pior do que nunca. Mandei mensagem para a Rose, assumindo que tinha piorado. Eis que tocam a campainha do meu quarto, eu abro e são dois bombeiros com um tubo de oxigênio em mãos. Eles entraram no quarto como se algo estivesse pegando fogo e eu queria morrer de vergonha.
Logo me deram oxigênio e me perguntavam se eu estava melhorando. Menti – disse que estava, mas confesso que não senti a menor diferença, eu só queria acabar com aquela situação de ter uma galera no meu quarto me olhando com dó e cara de preocupação. Agradeci e eles foram embora, mas de fato, já não estava mais tão zonza quando ficava de pé.
Achei que era uma boa ideia almoçar, pois já estava escurecendo e eu não tinha comido nada. A Rose então me levou em uma lanchonete e eu pedi a clássica Ceasar Salad. Acho que foi a melhor que já comi, acompanhada de uma coca zero ultra gelada. A Rose foi uma fofa, ficou lá comigo, estava sempre à disposição para me ajudar e ainda me orientou na pista de esqui dia seguinte. Confesso que à primeira vista, ela me pareceu uma pessoa bem séria e fria, mas acho que é só uma coisa cultural – e, afinal de contas, ela estava ali com um grupo de jornalistas brasileiros a trabalho.
E sim, dia seguinte estava ótima e consegui esquiar bastante, enfrentei até uma pista intermediária o/. Me explicaram que o ideal era ter feito uma parada em um mirante no meio do caminho do teleférico, para ir se acostumando com a altura aos poucos. Fica a dica 😉
Fotos: Débora Costa e Silva