Uma amiga voltou de uma viagem em que teve que ficar sem internet, telefone e televisão por quase uma semana e estava feliz por ter “sobrevivido”. Mais que isso: tinha se sentido incrivelmente melhor, menos refém do feed do Facebook e mais livre para viver o presente.
Você leu o parágrafo anterior e achou exagerado o termo “sobreviver”? Julgou e pensou “que besteira, antigamente todo mundo vivia sem isso, eu não sou dependente dessas coisas”? Pois é, eu julgaria assim também se não tivesse passado por isso recentemente.
No ano passado, fui para Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, com meu namorado. Ficamos na casa do irmão dele, no Vale das Flores, bem no meio do mato mesmo. O centrinho mais próximo ficava a meia hora dali, depois de muito cavalgar no banco do carro por conta dos buracos da estrada.
Antes de chegar, quando passamos por Penedo, meu namorado já me falou para ligar para minha mãe porque dali em diante não haveria mais sinal. Nenhum. Ok, eu pensei, do que mais eu preciso? Uma boa companhia, natureza, amor, silêncio… E de tempos em tempos me flagrava dando aquela checadinha no combo email-face-instagram e a única informação que eu obtinha do aparelho eram as horas. Le-gal, 10h33, já passaram 10 minutos, e aí? E agora?
E aí que os intervalos que eu ficava sem olhar o celular foram ficando maiores, até que passei a mexer realmente só quando queria tirar uma foto. A ansiedade baixou, a necessidade sumiu. Não senti calafrios de abstinência, meus olhos descansaram da luz da tela, meus ouvidos se abriram pro sons da natureza e… ok, parei, tá muito hippie isso aqui.
Mas o fato é que não sofri muito – só um pouquinho, mas bem menos do que eu esperava. O lance é que no início fiquei entediada, afinal, no celular tenho trilhões de informações (a maioria inútil, claro) e ali, em Mauá, eu tinha basicamente uma por vez. Mas foi uma bela troca, de quantidade por qualidade. Eu via uma cachoeira e era incrível. Se for parar para ver, ali também contém zilhares de “informações”: a vegetação ao redor, o movimento da água, o barulho da água, as pedrinhas do fundo do rio, o cheiro do mato e por aí vai.
Ou seja, na teoria, todos sabemos que vale a pena dar uma desligada, mas só desconectando é que nos damos conta (ou pelo menos eu me dei) do quanto o celular e a internet dominam nossa atenção no dia a dia. E foi voltar a ter sinal 3G que a ansiedade deu as caras de novo. Vira e mexe sinto falta da sensação de ficar desconectada como dessa vez em Mauá. E por que então não diminuir?
Daí que entra a parte da viagem. Quando viajamos nos permitimos experimentar mais situações incomuns. E nem sempre conseguimos manter na rotina aquilo que fizemos enquanto estivemos fora. Se conseguir adaptar um pouquinho, a viagem já cumpriu sua missão.
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Entre cachoeiras e história, Visconde de Mauá é ideal para o fim do inverno (diria até que é ideal para qualquer estação :-))
Foto MA-RA-VI-LHO-SA. E adorei o insight de que na cachoeira, como em qualquer lugar, também temos milhares de informações. Basta querermos consumí-las, prestar atenção nelas!
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