Toda vez que falo sobre a sensação de “voltar no tempo” que Cuba traz para os visitantes, me sinto um pouco mentirosa. É porque eu mesma esperava sentir isso assim que chegasse lá, mas demorou um pouco para isso acontecer.
Assim que chegamos ao Aeropuerto Internacional José Martí, em Havana, fomos dar uma olhada na rua para ver Cuba pela primeira vez e então veio o choque: carros novos. Nem um, nem dois: todos os carros eram novos. Onde estavam os Cadillacs, os Bel-Air e tantos outros (que eu nem sei os nomes)? A única coisa que eu conseguia pensar era: cheguei tarde demais.
E a sensação só se confirmou quando passamos na casa de câmbio do aeroporto. Na fila, à nossa frente, havia um cubano. Eis que o celular dele (!) toca e o ringtone era a música que tocava em todas as baladas do momento (!!!). Como assim um cubano tem um celular que toca música atual? Era muito pra minha cabeça.
Ok, eu era bem ingênua e muito do que eu lia sobre Cuba era referente ao passado (revolução) ou à cultura. E também sabia que a ilha já havia mudado bastante desde a abertura turística. Mas ainda assim! Essas duas cenas já me passaram de cara o recado de que ali nada seria tão previsível ou de acordo com os clichês que tanto ouvia sobre a ilha.
Depois encontrei, sim, os carros antigos e apesar de não ser vidrada em automóveis, era sempre emocionante entrar num carro e descobrir sua história – ou pelo menos de que ano era. Em Cuba, os carros são como imóveis, são patrimônio familiar, passados de geração para geração. Se quebrou, tem que arrumar, se vira.
Já os mais novos são destinados aos turistas que querem alugar um carro para circular pela ilha, ou ainda para quem trabalha de alguma forma na indústria do turismo. Nosso transfer mesmo não tinha nada de velho, era um veículo que podia ter visto em qualquer lugar do mundo.
Os antigos mais bonitões, conversíveis, coloridos e brilhantes, ficam nas áreas mais turísticas de Havana, como na Praça da Revolução e perto do Capitólio, ou ainda desfilando pelo Malecón. Mas viajando pelo interior do país pudemos ver os carros velhos-velhos mesmo, sem lá muito charme vintage e glamour. Em Santiago, do outro lado da ilha, as ruas chegam a ser esfumaçadas tamanha a poluição dos veículos.
Quanto à globalização (ou americanização) do povo, tivemos outros exemplos além da musiquinha do celular. Vimos vários cubanos usando camisetas e bonés de times de basquete e beisebol norte-americanos – provavelmente presentes de turistas ou de parentes que vivem em Miami. Encontramos lojas da Addidas e da Puma (que são alemãs, mas ainda assim me surpreendi) e achamos Coca-Cola em Santiago – depois em Varadero e em outros restaurantes mais caros também.
De qualquer forma, acredito que nada disso tenha comprometido a identidade cubana – pelo menos não até 2010, ano em que estive por lá. Hoje a influência dos EUA e da Europa deve ser ainda maior. Com a abertura política a caminho, então, a tendência é só aumentar. Provavelmente Cuba não trará mais a sensação de volta ao passado. Mas se vai melhorar, ou piorar, não dá pra saber. Vai ser só mais um capítulo da história que eu quero continuar acompanhando.
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Oi Debs! Tou indo pra Cuba em janeiro e já ia te pedir dicas quando lembrei de olhar teu blog! Tou adorando os textos!!! Sinceros e práticos!