Feminismo, emponderamento, sororidade, #vamosfazerumescândalo, #fightlikeagirl… são tantos termos e hashtags que começaram a pipocar na internet sobre o universo feminino, tantos movimentos, tantas vozes que passaram a ser mais ouvidas, que não há como negar que o girl power (meu termo preferido :P) têm crescido e ganhado cada vez mais força nos últimos anos.
Foi então que finalmente assisti o filme “Thelma & Louise”, o clássico dos clássicos – sim, beirando os 30, uma falha grave mas que acabei de corrigir. É tão maravilhoso e marcante que é até difícil falar sobre. Mas não dá para ter um blog de viagens, ser mulher e não fazer nenhuma menção a ele. Mais do que isso: o momento é oportuno, já que na última semana rolou muita discussão sobre mulheres que viajam sozinhas por conta desse triste episódio das turistas argentinas que foram mortas no Equador. E o mais incrível: foi lançado láaaa em 1991, muito antes do momento feminista que vivemos, décadas depois da queima de sutiãs dos anos 60 e quebra tudo!
Vamos ao filme: “Thelma & Louise” é um road movie dirigido por Ridley Scott e estrelado por Geena Davis e Susan Sarandon – e ainda conta com uma participação especial de Brad Pitt, no início da carreira. A história em si pode não parecer lá muito interessante: duas amigas resolvem passar um fim de semana juntas viajando, acabam cometendo um crime e começam a fugir da polícia – se metendo em altas confusões, como diria a chamada da Sessão da Tarde rs.
Tá, mas não é só isso. É muito mais. Diz muito sobre ser mulher e o que isso implica nas nossas relações amorosas, profissionais e sociais, na nossa auto-estima e na nossa segurança, pra dizer o mínimo. E como todo bom filme de viagem, tem a combinação de trilha sonora incrível, paisagens inspiradoras e personagens que se libertam ao cair na estrada – e é sobre isso que eu queria falar!
Thelma (Geena Davis) é casada, dona de casa, submissa, faz tudo pelo marido, que a trata mal e não a valoriza. Louise (Susan Sarandon) é garçonete, mais independente e despachada, mas tem um rolo com um cara que volta e meia some por aí. Daí elas resolvem sair para viajar juntas no fim de semana e já aparece um dos problemas: como a Thelma vai pedir ou avisar o marido que vai viajar?
Sem entrar em detalhes ou lançar muitos spoilers para quem ainda não viu (mas vejam, vejam!), elas caem na estrada e na primeira parada já rola a grande treta: em um momento de total descontração e libertação, Thelma dança com um cara em um bar, está lá, se divertindo horrores, até que ele a leva pra fora e tenta transar com ela. Não, ela não está afim, e sim, ele pega pesado e começa a estuprá-la. Até que Louise, que estava em busca da amiga que tinha sumido, tenta salvá-la, mas o cara continua forçando a barra e aí, meus amigos, ela atira nele. Se por um lado você vê isso como um ato heroico, por outro é inegável que elas terão problemas dali pra frente porque o cara morreu e elas decidem fugir e seguir viagem.
Ao longo do filme elas vão se encrencando cada vez mais durante a fuga e percebendo que será inviável voltar para a cidade e para suas próprias vidas – seja pelo crime, seja pelas transformações que as experiências da viagem foram causando. Ao encarar situações completamente diferentes, elas se redescobrem, se reinventam e se fortalecem. Tem sexo casual, DRs, brigas, mas as personagens também encontram uma na outra apoio e companheirismo – e essa é uma das maiores lições que saquei no filme e estou sacando na vida também com a ajuda do feminismo.
“Mulher não tem amizade, é só competição”, gostam de dizer por aí – e eu mesma já devo ter dito isso algumas vezes, infelizmente. É claro, fomos condicionadas a encarar a outra como a inimiga que pode chamar mais atenção que você e fisgar o teu cara. Porque, né, achar o amor da sua vida é o grande prêmio e ai de alguma biscate que tente roubá-lo. Pô, ter amigas mulheres não devia ser assim e não é se você conseguir enxergar a parceria rica que pode existir entre duas (ou mais) mulheres. Juntas somos mais fortes, sim! E em uma viagem, ter uma amiga como testemunha de tudo o que se está vivendo é maravilhoso.
O caso absurdo das meninas que morreram no Equador e que, mesmo após a morte, não foram poupadas e sim julgadas por estarem “sozinhas” me fez pensar em todas as vezes que deixei de fazer algo mais bacana durante uma viagem por medo de sofrer algum tipo de abuso e violência. Pegar carona, sair à noite sozinha em alguns lugares mais desertos, entrar numa trilha, estar de biquíni (sim, bizarro) e até mesmo decidir fazer uma viagem pode ser mais difícil, dependendo como e para onde. É injusto.
Quero ser livre para poder experimentar as coisas sem medo, sem sofrer represálias, correndo apenas o risco de viver o desconhecido à vontade e curtir o friozinho na barriga. Seja entre amigas ou não, merecemos ter esse direito. Viajar sozinha é tão incrível, a gente se descobre, aprende a saborear a própria companhia e a se amar. E é só se amando e fortalecendo a auto-estima que a gente consegue ter forças para superar as dificuldades e combater as injustiças com tudo, sem medo de parecer neurótica, fresca ou louca.
Pra fechar e inspirar, uma das minhas cenas favoritas do filme ❤ e alguns links com textos bacanas sobre mulheres e viagem. E que tenhamos todas um 8 de março cheio de girl power, respeito, parceria e amor.
Para ler mais:
Mas você vai sozinha? – Think Olga
O machismo nosso de cada viagem – Dentro do Mochilão
Sobre viajar sozinha – Delícia de blog
7 motivos para viajar sozinho – Mari Campos
7 relatos de mulheres para te inspirar a viajar sozinha – 360 meridianos
Mulheres viajantes: quebrando horizontes (e paradigmas) – Voopter
Que delícia de post, que sejamos livres para voar!!! Muito agradecida pela indicação!
♡♡♡
Que legal que curtiu, Cris! Eu adoro seu blog e esse texto que recomendei é um primor, um dos meus favoritos! ❤ Beijos e boa estrada sempre!
Que fofo, eu adorei esse filme. Para os amantes de viagem, com certeza, um ótimo filme para assistir 🙂