O mundo desabando, corrupção, terrorismo, tragédias naturais, extremismo, ódio, machismo, desemprego, poluição, desmatamento, desesperança… e os caras falando em viajar? Que sempre teremos Paris? Que os outlets de Miami estão incríveis? Dez praias paradisíacas do Caribe? Por mais deslumbrante que seja o cenário, parece que tem algo que não tá ornando. Ainda faz sentido falar de turismo com toda essa crise?
Venho pensando em escrever sobre isto há alguns meses, mas estava esperando encontrar uma resposta antes de formular o texto. Não encontrei. Alimentar o blog também tá ficando agridoce, pois de um lado quero deixar registrado e passar adiante minhas experiências e contar as histórias que me inspiraram, mas sinto às vezes estar lutando contra um tsunami com apenas dois remos.
Em Nova York, encontrei uma amiga e tivemos altos papos. Começou com as eleições municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, depois caiu pra Trump, machismo, até que ela perguntou como eu tava e elogiou os posts do Papetes (eba!). Agradeci e disse: pois é, mas no meio de tanta bagunça e notícias negativas, fico até sem graça de falar sobre viagens. Será que estou me fechando dentro de uma bolha?
E é fato, o número de pessoas fazendo grandes viagens internacionais caiu e muita gente já está sentindo o impacto da crise na hora de pensar nas próximas férias. De acordo com o World Travel Monitor, que monitora os deslocamentos feitos em países da Europa, América do Sul e Ásia, as viagens feitas por brasileiros ao exterior entre janeiro e agosto de 2016 já caíram 15% em relação ao mesmo período de 2015.
Porém, mesmo com todas as dificuldades, as pessoas ainda querem viajar. E ainda vão continuar viajando. Talvez fique mais difícil, teremos que apertar o cinto e rever algumas escolhas, repensar os lugares, a duração e a frequência de cada viagem, mas o desejo permanece. Outra pesquisa, feita pelo Ministério do Turismo, comprova isso: no mês de setembro, mesmo com a crise, a intenção de viagem dos brasileiros era de 24,3%, 8 pontos percentuais a mais em relação ao mesmo mês de 2015.
Viajar desperta alguma coisa além dentro de nós que chega a viciar! Uma vez que seu universo se expande e conhece outras culturas e outros mundos, você quer manter a toada, brincar de War e conquistar quantos territórios for possível. Tudo bem que depois de uma viagem nos EUA, talvez você não consiga ir tão logo pro Sudeste Asiático, mas o bichinho viajante vai te dar coceira. E aí meu amigo, um pulo ali no Pico do Jaraguá já vira uma aventura, te reabastece com a adrenalina de ver algo novo, de experimentar novos ares e mudar sua rotina.
Não é preciso ir tão longe ou ficar muito tempo fora para sentir os benefícios de uma viagem. É questão de mudar o olhar no dia-a-dia e ver beleza na tua própria cidade. É dar uma chance pro Masp depois de conhecer todos os museus da Europa. É explorar um café novo no bairro e curtir como se tivesse em Paris. É tentar encontrar algo que te transforme.
Por isso tudo, acho que sim, faz sentido falar de viagem no meio dessa crise, que não é a primeira nem a última que o mundo vai passar. Viajar é trazer um pouco do mundo na mala e se o mundo tá essa bagunça, talvez o papel do turismo seja de nos abastecer de informações para entender um pouco desse caos e expandir nossos horizontes. Se não servir para isso, que sirva para se desligar de tudo, refrescar a cabeça dos problemas e voltar para casa com as energias renovadas e pronto para a batalha 😉
Que todos tenham um 2017 com mais amor, força para encarar os desafios e muitas viagens, sejam próximas ou distantes, bate-volta ou sem data de retorno. Mas que te levem longe, te transformem e te inspirem sempre! ❤
Do alto do Mont Tremblant, vilarejo ao norte de Montreal, a variedade de cores era impressionante. Fotos do post: Débora Costa e Silva
De um lugar que nunca esteve na minha lista de destinos dos sonhos, o Canadá passou a ser a grande surpresa do ano. Eu nunca tinha tido vontade de visitar o país e não sei bem explicar o porquê. A imagem que eu tinha era de um lugar perfeito e certinho demais – o que poderia ser um ponto a favor, mas não despertava minha curiosidade.
Mas parece que são sempre nas situações em que temos pouca expectativa que somos fisgados por um lugar. Durante minha temporada em Nova York, resolvi ir para Montreal visitar amigos queridos que moram lá e fui surpreendida. Acabei apaixonada pela cidade e acho que uma das coisas que mais contribuiu para esse encantamento foi ter ido durante o outono.
Não bastasse toda a organização e a calmaria que reina por ali, Montreal é bastante arborizada e repleta de praças e parques. Em outubro, no auge da estação, tive a sorte de ver as árvores coloridas de laranja e vermelho e ainda curtir um friozinho com céu azul – claro que pra eles que têm um inverno com -25°C, ficar nos 4°C não é nada, mas em comparação com o Brasil já é bem mais gelado. Voltei depois para a cidade em novembro a trabalho e já vi outro cenário, com o amarelo predominando a paisagem e o chão ainda mais cheio de folhas secas.
Para mostrar um pouquinho do que foi essa beleza, separei aqui algumas fotos dos lugares mais bonitos para curtir o outono por lá ❤
A paisagem já era deslumbrante na estrada entre Nova York e Montreal:
Circulando pela cidade, era só olhar pra cima que você via mais cores…
… ou olhar para baixo, onde também há beleza nas folhas caídas no chão
No Parc Jean-Drapeau, passando entre uma ponte e outra, o visual é impressionante!
No Parc Du Mont Royal, onde há uma das vistas mais lindas da cidade, o caminho até o topo é todo arborizado – aliás, o paisagista do parque, Frederick Law Olmsted, é o mesmo do Central Park, em NY.
A 140 km de Montreal, o vilarejo Mont-Tremblant é uma estação de esqui durante o inverno, mas também fica aberta durante o outono. Há atividades para as crianças, bares e restaurantes abertos e uma trilha para subir a montanha.
Enquanto subia a montanha, o céu foi abrindo e o sol dando as caras, fazendo valer a caminhada contra o vento. Sem dúvida, um dos lugares mais lindos que já fui ❤
André curtindo o visual da Noruega, em uma das centenas de viagens que já fez a bordo de um navio de cruzeiro. Foto: Arquivo Pessoal
O André é uma das pessoas mais viajadas que eu conheço, do tipo que já perdeu a conta de quantos países visitou na vida. É que o trabalho dele é viajar – ou viaja para trabalhar. Ele é animador de cruzeiros há 7 anos e a bordo de um navio já visitou diversas praias da costa brasileira, países sul americanos, europeus e asiáticos, sem contar as pessoas das mais diversas nacionalidades com quem já fez amizade.
Depois de fazer um pouco de tudo e trabalhar em hotéis, eventos e até fazendo malabares nos semáforos de São Paulo, o André começou a fazer animação em navios inspirado pelo irmão mais velho, o Fausto, que já trabalhava com isso (que inclusive, já teve sua história contada aqui no blog, junto com a da Jacque, sua namorada <3).
Como o dom para o humor tá mesmo no sangue, ele também construiu sua carreira fazendo esquetes de comédia e animando os passageiros. Namora há 4 anos a Francesca, italiana que trabalha na mesma área e é sua companheira de viagem. Depois de ter sido promovido a chefe de animação, chegou a participar de viagens para lugares mais inusitados, como Rússia, Escandinávia e China.
André em sua visita a Petra, na Jordânia
De sua primeira viagem pra cá muita coisa mudou. Quando começou, André mal falava inglês e hoje, além dessa língua, também fala italiano, espanhol, alemão, francês e chegou até a estudar mandarim! Ele aproveitava o tempo livre para fazer cursos ou, quando não conseguia, estudava por conta com ajuda de livros ou pela internet.
Para alguém como o André, nada mais natural do que marcar na pele um pouco das experiências que teve ao redor do mundo. Ele já fez três tatuagens que se relacionam com viagens – uma delas, inclusive, é um mapa-múndi. Leia abaixo a entrevista:
Quantas tatuagens você tem? Quando e onde foram feitas?
Eu tenho três tatuagens: um mapa-múndi na costela do lado direito, um símbolo embaixo do peito, do lado esquerdo, e uma palavra em tailandês no pé direito. A do pé foi a primeira que fiz, na ilha de Koh Tao, na Tailândia, as outras duas fiz no Japão, na cidade de Fukuoka. A escolha dos lugares do corpo foi mais pensando onde poderia esconder, porque no meu trabalho não posso mostrar, então fica meio restrito. E cada uma delas representa um momento ou algo muito marcante na minha vida.
Qual a história dessa que você fez na Tailândia? Foi feita com bambu?
Sim! A Tailândia é um dos lugares mais bonitos que eu já visitei na vida e percebi que meu sonho é poder levar minha família para lá um dia para verem tudo o que vi. Apesar da cultura deles ter uma coisa com o pé, não pode tocar porque eles veem como algo impuro, nós ocidentais não temos essa crença e escolhi fazer a tatuagem no pé mesmo, até por conta da limitação de locais do corpo para fazer isso. Escrevi Krop Krua, que quer dizer família em tailandês.
A do mapa-múndi, você pensou em pintar os países que visitou?
Não, eu já pensei nela sendo só o contorno mesmo. A tattoo não é tão grande para pintar os países, ia ficar esquisito um pouco pintado e um pouco não. Então preferi fazer assim, além do que também fica mais bonita, mais delicada.
Qual o significado da terceira tattoo (símbolo no peito)?
A história é longa rs, mas são traços que simbolizam o número 333. O número três está presente em várias culturas e religiões [muitos atribuem a trindade cristã – Pai, Filho e Espírito Santo – ou “começo, meio e fim”]. Eu acredito que todas as coisas estão conectadas, acho que está tudo interligado de algum jeito, a gente só não conseguiu ainda relacionar e encontrar o sentido. É meio doideira, mas é o que eu acredito.
Quando fui trabalhar na China, dei um rolê por outros países da Ásia e encontrei um amigo que é bem místico, faz meditação, viagem astral etc. Ele disse que tinha uma mensagem pra mim, que recebeu através de um sonho, e falou para eu guardar o número “333”. Uns dias antes, tinha comprado uma cerveja vietnamita que tinha esse número e fiquei de cara quando ele falou, achei muita coincidência! Sem contar que na hora que tivemos a conversa estávamos em três, meu irmão também estava.
Corta a cena e volta para uma outra história. Eu e mais dois amigos (3 novamente rs), tínhamos vontade de fazer uma tatuagem juntos e a gente tem uma ligação muito forte com as pirâmides, estudamos sobre e tal. Não sabíamos bem ainda o que fazer, se seriam três pirâmides, uma dentro da outra, enfim. Depois do lance do sonho do meu amigo, decidi marcar isso na pele e ele falou que seria bacana fazer no peito, por conta de um ponto energético. Também achei que fazer pirâmides ou os números não seria o ideal, então fiz os tracinhos. Uma tatuagem muito simples, mas com um mega significado e relaciona tudo isso.
Não sei se é uma piração minha, mas se for, é muita coincidência rs. E claro, a partir daí, comecei a reparar e ver o “333” em muitas coisas, até na data do meu aniversário (06/03)! [E acredite se quiser: nesse momento, durante a entrevista, olhamos pro lado e vimos da janela do café onde estávamos um carro com a placa 333!!! :O]
Ilhas Phi Phi, um dos paraísos que ele visitou na Tailândia
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E você, tem alguma tatuagem que tenha sido inspirada por alguma viagem? Conte a sua história também! Mande para papetespelomundo@gmail.com
Vista de Manhattan a partir de Long Island City, no Queens. Foto: Débora Costa e Silva
Os três meses em Nova York chegaram ao fim e eu ainda não consegui digerir tudo. A começar pela percepção do tempo: tem hora que parece ter durado uma semana, em outros momentos parece ter sido um ano. Isso porque quando cheguei em São Paulo, mesmo com algumas coisas diferentes em casa, senti como se nada tivesse mudado. Foi como ter dado um pause e soltado o play novamente, mas aos poucos estou percebendo que perdi alguns episódios daqui enquanto vivi outros lá.
Costumo dizer que, quando viajamos, demora uns dias para se desligar de São Paulo e abstrair toda a loucura, o stress e seu ritmo acelerado. Mas para voltar e ser engolido pela cidade o processo é bem rápido. Só que neste caso fui para um lugar ainda mais caótico e intenso e fiquei bem mais tempo do que estou acostumada. Então tanto na ida quanto na volta me senti absorvida pelas duas ao mesmo tempo.
Acho que é uma espécie de jet lag emocional, quando não só nosso corpo sente o baque da mudança de horário e local, mas nossa cabeça também fica confusa. Facilita não ter uma diferença grande de fuso horário (eram só 2 horas a menos), mas ainda assim não me sinto nem lá nem cá. Estou meio perdida num limbo de tempo e espaço tentando entender o que vivi e como será daqui pra frente após essa experiência.
Balanço prévio
Central Park começam a ficar colorido no outono. Foto: Débora Costa e Silva
É bem difícil sintetizar tudo o que conheci e aprendi nessa temporada em Nova York, mas acho que o ponto principal é que voltei em paz e satisfeita com tudo, inclusive com as coisas que não saíram do jeito que eu queria ou imaginava. Aprendi a aceitar os imprevistos e limitações sem mágoas rs, afinal o saldo final continua sendo positivo por um simples motivo: eu fui. Já é uma conquista e tanto ter enfrentado alguns receios – desde financeiros até emocionais – para realizar um sonho. O resto é lucro 😛
Curti muito as coisas que planejei, como o curso de inglês que fiz no mês de agosto (em breve farei um post só sobre isso) e a viagem a Montreal, no Canadá, em outubro, mas foi uma delícia também ser surpreendida por amigos improváveis, festas inimagináveis, cursos e festivais que encontrei por acaso, encontros com pessoas queridas que passaram por lá, lugares e atrações que nem cogitava ir, descobertas gastronômicas e até ter feito um job de cat sitter para uma amiga :-).
Outro fator que fez toda a diferença foi ter viajado sozinha. É importantíssimo pra se conhecer e descobrir o seu jeito de curtir as coisas, respeitar seu próprio ritmo e o básico “apreciar a própria companhia”. É maravilhoso e libertador, mas se isolar demais também pode ser prejudicial, pois tem sempre uma hora que as reflexões dão espaço pra pensamentos deprês. Durante a viagem, variei muito nesses dois extremos e acho que aos poucos fui encontrando um equilíbrio legal entre os dois.
Por fim, compreendi que Nova York é praticamente infinita e é impossível devorá-la por completo, mesmo ficando um mês, três meses e até anos, como percebi conversando com gente que está lá há mais tempo. Conforme o tempo vai passando, a lista de lugares para visitar só aumenta porque sempre tem algum evento novo, um restaurante que inaugurou, uma festa que só acontece em determinado mês.
Parei de me censurar por repetir lugares, como a Brooklyn Bridge, que tanto adoro. Foto: Débora Costa e Silva
Além disso, tem as experiências que não entram na categoria “atração”, tipo caminhar pela ilha de Manhattan de ponta a ponta, entrar em alguma rua que você cruzou por acaso para dar uma olhada em livrarias e lojas, andar de bicicleta no Hudson River Park, conhecer as igrejas do Harlem com os locais, pingar de balada em balada no East Village ou mesmo passar uma tarde lendo e ouvindo música em algum café.
No começo eu estava um pouco aflita para dar conta de tudo e me sentia culpada por passar uma tarde meio à toa. “Perdi um dia”, eu pensava. Minha amiga Mirella me visitou bem nessa época e cantou a bola: “fazer nada” também faz parte do pacote de quem mora em NY. É diferente de ir como turista, é vivenciar a cidade de outro jeito. Mais um item pra lista de aprendizados sobre equilíbrio – até porque tinham dias que não parava quieta, então nada mais natural do que ter um dia seguinte de folga 😉
O resto é só com o tempo que vou assimilar. A cidade continua sendo meu cantinho preferido no mundo porque me permite conhecer tantos outros mundos de uma só vez. É barulhenta e caótica, mas tem espaço pra parques e bairros que são quase vilarejos. O clima é louco e extremo, não tem meia estação (pelo menos pra quem vem do Brasil, o frio do outono é o nosso inverno). Tem gente apressada, mas que não nega ajuda quando tem alguém perdido – afinal, quase todos ali um dia já foram recém-chegados de algum lugar.
Em breve farei mais posts sobre outros detalhes da temporada em NYC, agora já com a cabeça no Brasil e com calma para caprichar ainda mais. Se tiverem dicas, dúvidas e sugestões mandem também que serão muito bem-vindas 🙂
Varanda de uma casa em Long Island City, no Queens. Família toda esperando para festejar o Halloween. Fotos do post: Débora Costa e Silva
Não bastasse o clima ameno e a beleza do outono com suas folhas alaranjadas, visitar Nova York durante o mês de outubro também vale super a pena por causa do Halloween, celebrado no dia 31. É uma oportunidade única de observar casas, vitrines, bares e até parques decorados com abóboras, fantasmas, bruxas, teias de aranha, monstros e tudo mais que remete ao universo do terror.
Logo no início do mês muitos estabelecimentos já colocam as abóboras em sua decoração, mas é na semana anterior ao dia 31 que a cidade realmente se transforma. Fantasias e acessórios são vendidos até nas farmácias, os restaurantes preparam receitas e drinks com abóbora, cafeterias fazem o Pumpking Late e, claro, a programação de festas temáticas é imensa. A mais tradicional ainda é a Village Halloween Parade, em que milhares de pessoas caminham pela 6ª avenida fantasiadas.
A data é super especial pra mim porque sempre festejei o “Dia das Bruxas” com as amigas, com direito a fantasia, decoração caprichada e até “trick or treat”. Por aqui já estou curtindo desde sexta-feira (28) – até passei um pouco de vergonha porque saí de peruca achando que todo mundo ia estar no clima, só que não rs, demorei até encontrar um pessoal caracterizado. No sábado é que as ruas ficaram cheias de gente fantasiada de tudo quanto era personagem – uma das cenas mais engraçadas foi quando vi dois caras vestidos de dinossauros andando de bicicleta (!).
Pra entrar no clima, cliquei as decorações mais legais (algumas fofas, outras assustadoras) que encontrei aqui em Nova York:
Em Long Island City, no Queens, os moradores capricharam ❤
Nas vitrines de lojas, bares e restaurantes…
Não precisa de caveira, só as abóboras já ditam o clima
Mas é claro que tem gente que vai além e arrasa 😉
Aqui na residência onde eu moro, o pessoal também foi bem criativo:
Na Jackson Square, perto da estação 14th Street, o clima tá bem macabro:
Sabe aqueles encontros por acaso que te tiram do prumo? Em que a pessoa vai te ganhando aos poucos e quando você se dá conta, já está totalmente encantada? Pois então, foi o que aconteceu comigo quando conheci o Hudson River Park. Nem era um lugar que eu vislumbrava visitar, mas depois de “trombar” algumas vezes acabou se tornando um dos mais especiais dessa minha temporada em Nova York.
Vista de New Jersey a partir do Hudson River Park. Fotos do post: Débora Costa e Silva
O Hudson River Park é o maior parque a beira-mar dos Estados Unidos, às margens do rio Hudson, como o próprio nome já diz. Possui mais de 4 milhas de extensão que vão da altura da rua 57th até o sul da ilha da Manhattan. O projeto de paisagismo e urbanismo na região transformou píeres decadentes e estacionamentos em jardins, quadras, praças, ciclovias e pistas para corrida.
A primeira vez que visitei o parque foi após um passeio pelo High Line, na altura da rua 34th, onde há um extenso mirante com vista para o rio Hudson. Saí de lá e fui ver o pôr do sol na beira do rio. Nesse trecho há apenas um calçadão com pessoas correndo e andando de bicicleta, então sentei em um banco e fiquei ali contemplando o fim da tarde. Só de ter aquela vista e um cantinho na sombra já estava de bom tamanho – mal sabia eu que essa área fazia parte de um parque e que oferecia tantas outras coisas.
Curtindo o pôr do sol, sem conhecer ainda as áreas mais bonitas do parque. Foto: Mirella Nascimento
Acabei de novo indo ao seu encontro meio sem querer no dia em que visitei o Memorial 9/11. Estava andando sem rumo até que vislumbrei uma área verde cheia de crianças brincando e um pessoal deitado na grama tomando sol.
Comecei a explorar o lugar e além de vários jardins e alguns cafés e restaurantes nos píeres, também encontrei parquinhos, quadras de tênis, basquete, vôlei, gente praticando todo tipo de esporte, muitos fazendo piquenique e outros tantos andando e curtindo a tarde assim como eu.
Há diversas atividades oferecidas ao público por lá, principalmente no verão. Um exemplo é a prática de caiaque, em que o pessoal da Manhattan Community Boathouse oferece remos e coletes salva-vidas e ensina os movimentos básicos.
Mesmo sem ter a menor experiência com o esporte, eu experimentei e foi incrível! As águas do rio Hudson são calmas, ótimo para quem está remando pela primeira vez, além do visual ser fantástico durante o pôr do sol.
Eu já estava fascinada pelo parque, mas me rendi de vez quando o percorri de bicicleta. É tudo plano e muito bem sinalizado, sem contar que o visual da cidade de um lado e o rio emoldurado pelas árvores de outro não tem pra ninguém.
Um dos dias mais especiais da minha estada em Nova York, inclusive, foi quando resolvi pedalar de noite por lá, no ímpeto de me reanimar em um dia meio deprê. Fui até o sul da ilha observando “as luzes da cidade acessas”, gente namorando, gente jogando bola nas quadras, outros muitos pedalando também, e enfim, não teve remédio melhor <3.
Nova York e a arte de rua, até mesmo no chão. Foto: Débora Costa e Silva
A famosa frase “quem converte não se diverte”, proferida por 10 entre 10 turistas de férias no exterior, fazia mais sentido e tinha mais graça quando o real valia 2 por 1 em comparação com o dólar. Ultimamente eu invoco esse pensamento em raros momentos quando me convenço de que pequenos luxos valem a pena em uma viagem. Mas fora uma ou outra exceção, a minha regra número 1 aqui em Nova York é economizar ao máximo e buscar sempre as promoções e atrações gratuitas.
Vir para a cidade mais cara do mundo em plena crise econômica no Brasil é meio loucura – uma loucura boa, que faz valer cada centavo, eu juro – mas também não é preciso viver aqui no estilo Carrie Bradshaw, gastando fortunas em drinks e sapatos, né? É super possível economizar por aqui – inclusive o que não faltam são passeios e atrações gratuitas. Algumas dicas simples já podem mudar a sua estada em Nova York e te impedir de decretar falência, quer ver?
Time Out
A revista Time Out Nova York é semanal e gratuita. Foto: Reprodução/Time Out
As coisas mais divertidas e inusitadas que fiz por aqui foram dicas da revista <3. A publicação é gratuita e semanal e traz um catálogo bem completo de atrações culturais, bares, festas, restaurantes, além de entrevistas, dicas LGBT e de paquera. Fique ligado na seção “To Go Free”, onde ficam os destaques de atividades gratuitas no período. Eu dou uma olhada geral com atenção porque muitas vezes têm indicações gratuitas dentro de outras seções ou mesmo atrações não muito caras.
A revista impressa sai todas as quartas-feiras e há diversos pontos de distribuição por Manhattan (veja aqui o mapa), mas caso você prefira a versão digital, o site deles é muito bom e oferece várias possibilidades de pesquisa e arquivo de matérias antigas. Para completar, recomendo também baixar o aplicativo da Time Out. Faço buscas selecionando “When” (Today) + “Price” (Free + $) para ver o que tá rolando quase todos os dias e isso ajuda muito a incrementar o roteiro. Já descobri festa temática da Madonna, filmes gratuitos nos parques, passeio de caiaque e a lista segue :-).
Walking Tour
Mural grafitado na E Houston Street, na esquina com a Bowery, em Manhattan. Foto: Débora Costa e Silva
Para quem não quer só andar a esmo e prefere conhecer a cidade com um guia, indo direto ao ponto, a melhor dica é participar dos walking tours. Na Europa eu já fiz alguns desses passeios e adorei! Funcionou bem para os primeiros dias, quando ainda estava me situando, além de que os guias sempre contam histórias bacanas e curiosas sobre as atrações. Aqui em Nova York tem a Free Tours By Foot, que oferece vários roteiros separados por temas e bairros, tanto em inglês quanto em espanhol.
A boa notícia? Você paga o quanto quiser pelo serviço. Faça a reserva pelo site com antecedência de no máximo um dia e,caso não consiga ir, avise-os o quanto antes (já levei bronca por não fazer isso rs). Afinal, não é porque é praticamente de graça que o esquema tem que virar bagunça, né? Inclusive, não seja deselegante e dê uma gorjeta bacana para o guia, o serviço é voluntário e fica chato não pagar nada-nada.
Dica extra: se você não curte fazer passeios guiados ou caminhar, vale entrar no site mesmo assim pois alguns tours são selfie-guided, ou seja, você pode ser seu próprio guia, é só seguir os passos indicados por eles. Os mais legais são os que passam por locações de séries e filmes, pra quem gosta vale a pena 🙂
Museus
Um dos pátios do Whitney Museum, no Meatpacking District, em Manhattan. Foto: Débora Costa e Silva
Não deixe de visitar museus porque você precisa economizar! Aqui em Nova York, quase todos os espaços oferecem entrada gratuita (no esquema “pague o quanto quiser”) em dias e horários específicos. Ficam mais lotados? É óbvio, mas ainda assim dá para aproveitar bastante. Veja abaixo a lista de dias e horários em que a entrada é livre nos seguintes museus:
Biblioteca Pública de Nova York oferece aulas de inglês gratuitas. Foto: Débora Costa e Silva
Se você vai passar um tempo mais longo em Nova York e quer dar uma melhorada no seu inglês, recomendo testar as aulas gratuitas na Biblioteca Pública de Nova York. Há estudantes de diversos níveis e aulas todos os dias. Além de praticar o idioma, você pode conhecer outras pessoas e aproveitar para visitar o edifício, que é lindíssimo e já serviu de cenário para inúmeros filmes e séries. Caso fique longe, dê uma olhada qual a biblioteca pública mais próxima e veja se lá também tem.
Comer e Beber
Baz Bagel é uma delícia e foi um dos achados daqui. Foto: Débora Costa e Silva
Ok, agora o negócio começa a complicar. Não é tão simples e fácil assim achar um cantinho legal para comer bem pagando pouco por aqui. Claro que há muitas opções e sempre têm aqueles lugares escondidos, uma portinha que te leva para o melhor restaurante de comida etiópia ou algo do tipo. Mas às vezes com tempo curto e no auge da fome fica difícil encontrar tais preciosidades.
Além de pesquisar antes, recomendo também utilizar apps que catalogam bares e restaurantes. Aqui nos EUA usam muito o Yelp, onde os estabelecimentos podem ser filtrados por preço, distância, avaliação dos usuários e você consegue ver se estão abertos no momento da pesquisa. É uma mão na roda! Para beber, a dica é aproveitar as promoções de happy hour dos bares daqui, pois muitos oferecem bebidas pela metade do preço nesse período, algo como “2 por 1”.
Parques e atrações
Hudson River Park, com vista para New Jersey. Foto: Débora Costa e Silva
Não importa a estação do ano: em todas elas os parques de Nova York estarão lindos, seja por estarem cobertos de flores ou de neve (own <3). E, claro, todos são abertos ao público e gratuitos. O Central Park é o maior e mais conhecido, e dentro dele há diversas outros atrativos, como o Strawberry Fields (homenagem ao John Lennon), o Castelo Belvedere, o Observatório Meteorológico e o Zoológico.
Além dos parques, há ainda diversas atrações clássicas de Nova York que são gratuitas, como a belíssima Brooklyn Bridge (com as melhores vistas de Manhattan), o Grand Central Terminal, que impressiona pela arquitetura, o Chelsea Market, cheio de lojinhas e restaurantes bacanas, a já citada Public Library e, claro, a Times Square.
Vá a pé ou de metrô
Estação Broadway Lafayette, em Lower Manhattan. Foto: Débora Costa e Silva
Não custa frisar a dica mais básica e batida de todas: utilize transporte público e vá a pé. O metrô de Nova York tem linhas que levam para todos os bairros de Manhattan, muitas vezes com mais de uma opção para uma mesma região, chega até o Brooklyn, o Queens e o Bronx, funciona 24 horas, enfim, não faltam vantagens. Caminhar também é ótimo, principalmente por Nova York ser plana. São nessas andanças que encontramos uma lojinha legal, um bar diferente e é a melhor forma de sentir a cidade.
Pegar um táxi aqui pode até ser bacana pela experiência e curiosidade de entrar em um dos amarelinhos, mas se quiser economizar mesmo, evite. Uber aqui também é bastante popular e mais barato que táxi, mas ainda assim recomendo deixar para usar em situações especiais.
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Para favoritar: Recomendo acompanhar o projeto #NYC10orless, da Talita Ribeiro, também publicado no Catraca Livre, com os melhores achados por até US$ 10. Veja também os vídeos bem humorados do Amigo Gringo, que mostram como passear pela cidade de um jeito menos convencional e eventualmente gastando pouco, e ainda o blog da Rogéria Viana, Vem Pra NY, meu guia preferido daqui. Traz inúmeras dicas de atrações, festivais e restaurantes bacanas, todos testados e aprovados por ela.
Patti Smith se apresenta na Congregation Beth Elohim, no Brooklyn. Fotos do post: Débora Costa e Silva
Essa última quinta-feira tive a sorte e a honra de ir ao evento Brooklyn By The Book, com a cantora e escritora Patti Smith. A noite foi incrível e definitivamente foi um dos pontos altos da minha temporada em Nova York. Até então, estava tendo um dia meio esquisito. Tava com a cabeça cheia e acabei me atrapalhando e me atrasando para ir. Entrei no metrô completamente dispersa e apressada, equilibrando nas mãos um copo de café, a bolsa da câmera, o casaco, o celular e o livro “Linha M”, o único que trouxe para ler aqui em Nova York.
O evento aconteceu no Congregation Beth Elohim, uma congregação judaica próxima a estação Grand Army Plaza. Assim que soube, uma semana atrás, logo entrei no site para garantir meu ingresso, mas já estava esgotado. Não me dei por vencida: entrei em contato com a organização e me informaram que haveria um segundo lote à venda. E deu certo! 🙂
Ao me aproximar do local me assustei com a fila, que literalmente dobrava o quarteirão e ia longe. Mesmo com ingresso garantido, cheguei a ficar preocupada, pois não imaginava tanta gente – muitos inclusive com mais de 60 anos, provavelmente da geração que viu a jovem Patti ler poemas e cantar em Nova York no início da carreira. As luzes amareladas da congregação já estavam acesas e iluminavam a calçada e as árvores, dando um tom romântico para o início da noite.
Como todos que estavam ali, recebi um exemplar do livro “M Train” assim que entrei. Fui para a parte de cima do salão para tentar garantir uma boa visão do palco e, após alguns minutos, ela apareceu acompanhada pelo guitarrista Lenny Kaye. Os aplausos pareciam não ter fim, Patti foi ovacionada. No maior bom humor, fazendo comentários hilários sobre si mesma, logo se desculpou por estar com um pouco de dor de garganta e explicou que não poderia dar autógrafos pois estava com tendinite (ou algo parecido).
Ela apresentou a nova edição do livro, que agora conta com mais fotos e um posfácio, cujos trechos foram declamados ao longo da noite, com algumas canções intercalando as leituras. Me senti em um culto religioso: ao invés da bíblia, tínhamos em mãos o “M Train” e, ao invés de um pastor, lá estava Patti Smith, que assim como imaginava, tem uma presença muito forte, ao mesmo tempo em que fala de um jeito doce e sereno.
O público ainda teve a chance de fazer algumas perguntas à cantora. Em resposta a um dos fãs, Patti contou que está trabalhando em dois novos livros, um deles o “Sisters”, que fará um paralelo com “Just Kids” (“Só Garotos”), pois vai relatar histórias da mesma época sob outra perspectiva. Ela também fez várias revelações, algumas banais, como o seu inusitado gosto por crocs, mas outras que provocaram aplausos, como sua preferência política pela candidata Hillary Clinton e críticas ao concorrente Donald Trump. “Política é um assunto complicado, mas ele não é qualificado para ser presidente”.
Além de ser uma artista incrível, Patti ainda por cima foi simpática e bem humorada a noite toda, fazendo piadas, comentando assuntos corriqueiros e até dando spoilers de sua série de TV preferida, “The Killing”, ultra citada no livro. Para finalizar o encontro com chave de ouro, cantou “Because The Night” e, no meio da canção, desceu do palco e caminhou pela plateia, batendo palmas animada no ritmo da música.
Lá fora a noite continuava bastante agradável, agora ainda mais bonita com a lua cheia no céu. Fiquei emocionada, o tal culto surtiu efeito em mim. Apesar de não conhecer a fundo sua obra, admiro demais a Patti e saí desse encontro ainda mais encantada. Quando li “Só Garotos”, sua história em Nova York me inspirou muito, foi mais um dos empurrões que recebi para vir para cá. E agora, lendo o “Linha M”, tenho seguido o exemplo dela, indo de café em café para ler, escrever e observar o fluxo, e sinto que estou curtindo a cidade de forma mais leve.
Onde você estava no dia 11 de setembro de 2001? Eu estava voltando da escola mais cedo, porque era dia de prova. Cheguei na casa da minha avó e a TV estava ligada mostrando dois prédios explodindo. Fiquei vendo as imagens em looping por uma meia hora até que resolvi dar um pulo na banca de jornal. Comprei a Folha e o Estadão e comecei a ler tudo, em busca de algum fato do dia anterior que pudesse explicar os ataques terroristas. Àquela altura eu já queria ser jornalista, então, além do choque e da tristeza que senti, confesso que também fiquei imaginando como teria sido emocionante participar de uma cobertura dessas.
O que eu não poderia imaginar é que 15 anos depois eu estaria morando aqui em Nova York e visitaria o local da tragédia. A área recebeu o nome de Ground Zero, onde há um novo arranha-céu, o One Wolrd Trade Center, e o National September 11 Memorial & Museum, dedicado às antigas torres gêmeas e às vítimas do ataque terrorista. Ao lado de tudo isso está o imponente Westfield World Trade Center, shopping de arquitetura impressionante e que integra o complexo WTC.
A torre One World Trade Center (à esquerda) e parte do shopping Westfield WTC, que é todo branco
À princípio, achei que ir até o memorial seria importante, mas não poderia imaginar o quão interessante e tocante seria. O memorial me surpreendeu com sua arquitetura, organização e qualidade, além do vasto material exposto sobre a história dos prédios, os ataques (incluindo o atentado de 1993) e até sobre terrorismo. É uma história recente, que muitos de nós acompanhamos de perto, transformou drasticamente Nova York, os Estados Unidos e o mundo e tem desdobramentos até hoje, infelizmente.
Por sua importância e em respeito às vítimas, a primeira dica que dou para quem for visitar o local é: evite selfies! Por mais que você esteja emocionado e tenha a melhor das intenções, tente demonstrar isso com as atitudes também, pois pode parecer que quer apenas mostrar que esteve lá e não liga pra o que está ao seu redor. E tudo bem querer um registro, mas dá para fazer fotos de maneira mais discreta e menos ofensiva. Imagine alguém visitando o túmulo de algum parente querido e tirando uma selfie sorridente fazendo um hang loose. Você ia achar legal? Então.
Dito isso, vamos aos destaques da visita:
:: MEMORIAL & MUSEUM ::
Área externa
No entorno do museu, há um jardim e duas piscinas no lugar das torres gêmeas, cada uma com uma área de um acre e consideradas as maiores cachoeiras artificiais dos EUA. Em suas bordas de bronze, estão inscritos os nomes das vítimas dos atentados.
Achei interessante terem feito isso ao invés de construir algo que preenchesse o local, pois ao observar os dois vãos enormes sendo tomados por quedas d’água dá uma sensação de vazio que inspira reflexões.
É assustador ver a quantidade de nomes inscritos nas bordas de bronze, dá para ter uma pequena noção do tamanho da tragédia. Mas apesar de toda a tristeza, senti também um quê de esperança ali por ser tudo tão bonito.
Museu
Construído no subsolo da área afetada pelos ataques, o museu tem uma arquitetura especial pois aproveita algumas estruturas das antigas torres gêmeas. Para enriquecer a visita, recomendo o download do aplicativo gratuito do Memorial e ouvir o áudio-guia narrado pelo ator Robert De Niro. Você pode escolher qual trecho ouvir de acordo com o local que você está do museu, pois não há uma ordem certa de explorar o espaço.
Eu fiz a visita “de fora para dentro”, ou seja, vi primeiro as estruturas mais grandiosas e remanescentes dos prédios, como a escadaria dos sobreviventes (que serviu de rota de fuga para os sobreviventes), pedaços de aço, a última coluna (repleta de inscrições e colagens em homenagem às vítimas) e uma parede de contenção, além da antena de uma das torres e um caminhão de bombeiros destroçado.
Mas o que mais chamou a minha atenção foi o gigantesco mural com a frase do poeta romano Virgílio: “No day shall erase you from the memory of time” (Nenhum dia deverá te apagar da memória do tempo). O mais interessante é que utilizaram aço remanescente do WTC para esculpir cada uma das letras. E instalação azul que circunda a citação se chama “Trying to Remember the Color of The Sky on that September Morning” (Tentando recordar a cor do céu naquela manhã de setembro), do artista Spencer Finch.
Para mergulhar a fundo na história, é necessário entrar na área chamada Historical Exhibition, que divide os acontecimentos em três partes: Eventos do Dia, Antes do 9/11 e Depois do 9/11. Os visitantes vão poder rever capas de jornais e revistas do dia 11 de setembro para ter uma noção de como era o mundo antes do atentado, assistir aos telejornais matutinos noticiando o ataque, ver objetos das vítimas e sobreviventes, ouvir depoimentos, assistir um vídeo que conta um pouco sobre a história da Al-Qaeda, entre tantas outras coisas. Só atenção: essa área não pode ser fotografada.
Em um dos corredores do museu, há fotos e vídeos mostrando a reação das pessoas no dia do atentado
O valor da entrada para adultos é US$ 24. Por fim, se você têm uma história interessante relacionada aos ataques às torres gêmeas ou apenas lembra o que fazia no dia e horário em que soube do atentado, você pode contribuir com o acervo e gravar um depoimento no museu! 😉
:: PASSEIOS COMPLEMENTARES ::
St Paul’s Chapel
A capela é a mais antiga de Manhattan e incrivelmente não sofreu nenhum dano com a queda das torres gêmeas, mas serviu de refúgio e descanso para os profissionais que trabalharam no resgate das vítimas e na restauração do local. Na entrada, está o “Sino da Esperança”, um presente dado pelo prefeito de Londres em 11 de setembro de 2002 em homenagem ao atentado. No momento, a estrutura passa por uma restauração, mas é possível visitar o espaço externo.
Westfield WTC
O novíssimo shopping foi inaugurado em agosto de 2016 e substitui o antigo The Mall at the World Trade Center, que acabou destruído após os ataques terroristas. O complexo chama a atenção de longe por sua arquitetura arrojada.
Projetado pelo renomado arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o design foi inspirado na imagem de uma pomba sendo libertada nas mãos de uma criança. Todo branco por fora e por dentro, também permite a entrada de luz externa, o que torna o espaço ainda mais iluminado. Abriga mais de 100 lojas, como a Apple, MAC e Lacoste.
One World Observatory
Quem visitou Nova York pré 11 de Setembro deve saber que um dos passeios mais imperdíveis era subir até o topo do World Trade Center. Bom, agora a cidade conta com um novo arranha céu que toma conta da skyline e assume o posto de mais alto do país. O One World Trade Center, também conhecido como Freedom Tower, ocupa o local onde ficava o antigo WTC 6, tem 541 metros de altura e 104 andares. O observatório fica no 100º, com vista panorâmica de Manhattan, Brooklyn e New Jersey. A visita custa US$ 34 por pessoa.
:: COMO CHEGAR ::
O Ground Zero fica no extremo sul da ilha, na região chamada de Lower Manhattan. A estação de metrô mais próxima é a World Trade Center, da linha E azul.
Um dos lugares que já estavam na mira antes de vir para Nova York era Montauk, cidade praiana onde foram gravadas cenas do filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças“, com o Jim Carey e a Kate Winslet. O empurrão que faltava para marcar o dia da viagem veio quando soube que a banda Hiatus Kaiyote, que sou super fã, iria se apresentar lá. E o melhor: o show era de graça em um domingo, então não teria que gastar uma fortuna nem perder aula do curso de inglês. Perfeito! 🙂
Fotos do post: Débora Costa e Silva
Montauk é a última praia da região dos Hamptons, um grupo de vilas de luxo onde celebridades milionárias têm casas e passam os finais de semana. Porém, dizem que Montauk é mais frequentada por surfistas e pescadores. Uma coisa eu já sabia: era possível ir de trem, pois foi assim que os personagens do filme foram para lá.
Tudo lindo até aí, mas logo começou a complicar. Os novaiorquinos que conversei nunca tinham ido pra lá. Os comentários mais comuns eram “não conheço”, “é muito longe”, “ah mas tem que ir de trem, meio ruim né?”. Pra completar, nas buscas que fiz no Google, encontrei pouquíssimos relatos sobre como circular, onde ficar e o que fazer por lá. Achei estranho, mas ainda assim não desisti.
Para ir, deveria pegar o trem da Long Island Road Rail (LIRR) e logo vi que não havia muitas opções de horários para o domingo. Pela manhã sai um a cada hora praticamente, mas para a volta é que complicava. O último trem partiria às 20h30 e isso me preocupou, pois o show estava marcado às 18h30. Se tivesse um pequeno atraso eu já corria o risco de nem ver a apresentação inteira. Me hospedar na cidade também estava fora de cogitação. Não encontrei nada por menos de US$ 100 a noite, nada no AirBnb e ainda por cima algumas pousadas não oferecem quartos para a noite de domingo para segunda.
Enfim, mesmo com todas essas complicações e com previsão de chuva para o domingo, resolvi arriscar a viagem e encarar como uma aventura. No máximo seria uma furada que poderia render boas histórias depois. Mas no fim, mesmo com perrengues, foi um dos melhores dias que passei aqui em Nova York <3.
A viagem
Comprei os bilhetes de trem na hora mesmo, porque até o último momento estava com medo de algo não dar certo e deixei na mão do acaso. A viagem dura três horas e tem uma mudança de trem na parada da Jamaica Station, ainda em Nova York. Acompanhada por famílias e jovens surfistas (e aspirantes também), entrei no trem no maior clima de farofa bate-volta para a praia. Os bancos azuis me lembraram o filme e logo pus o fone para ouvir as músicas da trilha sonora.
Curioso é que, por mais que eu tenha tentado criar um clima melancólico para o passeio, não deu certo rs. Diferente do filme, que mostra Montauk durante o inverno com um céu cinzento, tive a sorte de estar lá em um dia ensolarado sem nuvens e ver a cidade em sua melhor forma. Ao invés de me deparar com uma estação de trem vazia, cheguei cercada de pessoas animadas, prontas para estender a canga na areia. Foi então que me toquei do óbvio: eu não tinha que reviver a história do filme, e sim me permitir viver minha própria experiência na cidade.
Para fugir do sol e planejar os próximos passos, entrei em uma casinha na beira da estação e uma senhora simpática veio me cumprimentar e me mostrar o local. Ali funciona a Montauk Artists Association e havia uma exposição de fotografia com imagens da cidade. Adorei os trabalhos, principalmente uma série de cascos de barcos de pescador da fotógrafa Michele Dragonetti. Foi legal para já conhecer um pouco de Montauk e entrar no clima.
Perguntei para qual lado devia ir para chegar a praia e ela logo me alertou: “você não vai a pé debaixo desse sol, né? Você é louca? Pegue um táxi!”. Achei que estava sendo apenas fofa e protetora, mas ela começou a me explicar que ali as coisas ficavam todas longe umas das outras e que o ideal era circular de carro mesmo. Isso definitivamente não estava nos meus planos. Queria dar uma volta a pé, mas realmente, o centro ficava longe. As praias também, do contrário teria que andar pela beira da rodovia. Ao meio-dia, num calor de quase 40º C sem sombra no horizonte.
A boa notícia é que o The Surf Lodge, hotel onde aconteceria o show, estava próximo dali, então resolvi almoçar lá e depois ver o que fazer. Pensamos melhor de barriga cheia, né? Eis que quando estava saindo, uma elegante senhora, loira, sorridente e de batom vermelho, me falou: “Sei onde fica esse lugar, vem, eu te dou uma carona!” Obviamente aceitei a oferta 🙂
Tive que sentar no banco de trás do carro, pois o assento da frente estava ocupado por papéis, folhetos e uma câmera fotográfica. “Você é fotógrafa?”, perguntei. Ela disse que sim e começamos a conversar. Seu nome é Diane, mas disse que por pouco não se chamava Débora também. “Na minha família, todos têm nomes com a letra D. Como já tinham três Déboras na família, minha mãe preferiu variar e me chamou de Diane”.
Ela ficou empolgada quando contei que estava morando um tempo em Nova York e quando vi, já tínhamos chegado ao hotel. Nos adicionamos no Facebook e fizemos algumas selfies juntas. Foi um encontro bastante especial, fiquei encantada com essa mulher tão alegre, querida e cheia de histórias. Lamentei muito ter que me despedir.
The Surf Lodge e Hiatus Kaiyote
O hotel The Surf Lodge fica em uma casa de inspiração vitoriana, com tábuas de madeira – muitas construções seguem esse estilo nos EUA como um todo -, além de ter uma decoração toda temática de praia, com móveis em tons brancos e azuis, chão de madeira e um amplo espaço externo. Antes de explorar o local, porém, eu precisava almoçar. Comi um delicioso hambúrguer com queijo, alface e beterraba (e não é que tava bom?). Para refrescar, experimentei a Montauk, cerveja local, uma delícia!
Após o almoço, fui tomar sol numa área repleta de espreguiçadeiras e guarda-sóis, que imaginei ser a praia, mas… ledo engano. Apesar de ter areia no chão, o local fica na beira de um lago, não do mar. Pois é, caí na pegadinha e fiquei com cara de tacho sem entender porque recriar uma praia se estamos em uma cidade que tem praia…?!
Após esse balde de água fria, fui me informar quanto saía uma corrida de táxi até a praia mais próxima, mas de novo fui barrada no baile. O funcionário do hotel me falou que os shows que rolam ali costumam lotar e quem não é hóspede corre um alto risco de ficar de fora. “Se você não quiser perder o show, recomendo que já fique aqui, porque os convidados estão chegando”. Eram 15h e faltavam mais de três horas para começar o evento. Sem saber direito o que fazer, decidi ficar.
Longa espera, nada de passeio, muito sol, cerveja, reggae na cabeça e uma sensação esquisita de não pertencimento. O local é frequentado por gente phyna e rycah, que tem casa por ali nos Hamptons e um alto padrão de vida. Tiveram momentos que encarnei a personagem brasileira-rycah-de férias em Nova York, mas eu não conseguia sustentar longas conversas com ninguém, tava me sentindo meio intrusa rs.
Até que comecei a ver uma movimentação diferente. Um pessoal meio hippie foi chegando, sentando no chão em frente ao palco e tomando conta do espaço. Eram os fãs da Hiatus Kaiyote :-). Fiz amizade com uns músicos de Montreal, que vieram para Montauk só para ver o show. Eles iam acampar, enquanto outra turma ia dormir no carro. Foi um alívio ver que não estava sozinha no rolê groupie!
Após 40 minutos de atraso, a apresentação começou e eu tive a sorte de conseguir me manter bem em frente ao palco. Fotografei a cantora Nai Palm a uma distância absurdamente pequena e foi maravilhoso! Que vibe, que som! A turma de fãs estava em êxtase e até os artistas estavam impressionados com a empolgação geral. “Esse é o show mais intimista que já fizemos”, disse a Nai. Conforme o show se desenrolava, o sol ia se pondo e uma brisa fresca substituía o calor insano daquela tarde. Foi mágico ❤
O retorno
Felizmente, deu tempo de sobra para pegar o trem de volta para Nova York. Caminhei pela estrada até a estação de Montauk junto com outros fãs da banda. Entrei no trem e estava nas nuvens, ainda embalada pelo clima do show. Tudo ia bem até que no meio da viagem, em uma das paradas, anunciaram um problema técnico. Meia hora se passou e nada. Outro anúncio: ainda não tinham resolvido a situação.
O trem partiu, mas dez minutos depois parou de novo, dessa vez por uma hora. A essa altura já tinha atacado meu lanche de pão de forma com manteiga, tomado toda minha água e me enrolado ao máximo na canga de praia para me proteger do frio do ar condicionado. Não via a hora de jantar, tomar um banho, tirar a areia do corpo e dormir.
Resultado: a viagem acabou durando 5 horas no total e eu cheguei às 2 horas da manhã em casa. Ainda tivemos que trocar de trem na Jamaica Station e por conta do horário esperamos mais meia hora. Sem energia para andar mais do que os dois quarteirões previstos da estação de metrô até minha casa, comprei bolacha e refrigerante na farmácia e, após o “jantar”, desmaiei na cama.
Ainda assim valeu a pena? Claro! Em Montauk nada foi previsível – ok, isso porque também não me planejei o suficiente, mas a ideia era justamente me deixar levar. Paguei o preço dessa brincadeira, mas também ganhei alguns presentes do acaso. E não é assim o tempo todo na vida? Viagem boa é dessas em que mal você retorna e já sente saudades. Bônus: a promessa “Meet me in Montauk“, feita pelos personagens do filme, agora vai me trazer novas lembranças, menos melancólicas e mais ensolaradas.
Bonus Track: segue abaixo um dos vídeos do show da Hiatus Kaiyote em Montauk. Para ver os outros vídeos feitos no dia, clique aqui!