Memória :: Músicas de viagem

Músicos tocando na praça principal de Santiago de Cuba, em 2010 – Foto: Débora Costa e Silva

A trilha sonora é um elemento essencial em uma viagem e acaba sendo quase tão marcante quanto uma atração turística ou uma experiência gastronômica. Não importa se as músicas que embalaram o seu rolê eram de algum artista local, ou se faziam parte da seleção que você levou para ouvir (em K7s, CDs, MP3, playlist do Spotify) ou ainda um hit meio tosco da época. Uma coisa é fato: essas canções vão servir sempre como um portal para revisitar aquele lugar.

Uma das coisas que mais curto fazer nos preparativos é já ir ouvindo umas músicas da região ou país que vou visitar para entrar no clima. Afinal, se uma música é capaz de nos transportar para onde já estivemos, ela também deve ser capaz de nos levar para lugares que ainda não fomos. Foi assim com Cuba – aliás, boa parte da minha motivação de ir para lá foi por conta da música. Mergulhei nos clássicos do Buena Vista Social Club e do grupo Orishas e ouvia tudo quanto era salsa cubana.

Engraçado é que, entre uma “Guantanamera” e outra, a música que mais ouvi por lá não foi uma salsa nem um bolero, muito menos bossa nova (e olha que em quase todo bar com som ao vivo rolava um momento Brasil com “Garota de Ipanema”). O hit que marcou a viagem foi mesmo uma musiquinha bem pop, “We no Speak Americano”, da Yolanda B. Cool – também conhecida pelo refrão que diz “Papanamericano”, tocava em todas as festas 😊.

O hit do momento foi só a cereja do bolo para a miscelânea latina cheia dos batuques deliciosos que fizeram a trilha de Cuba – que era, de fato, extremamente musical como eu imaginava, com um conjuntinho tocando a casa esquina em Havana, Trinidad e Santiago de Cuba. Mas em uma viagem, sempre que é possível tento ir a algum show, festa ou bar que tenha um som ao vivo para conhecer a música regional.

Quando fui para a Espanha, foi a vez de outro clichê: o flamenco. Fui a uma apresentação em Barcelona e em outras três em Sevilha. Uma mais incrível que a outra, com músicos e dançarinos fantásticos, sempre em casas pequenas e charmosinhas. Queria ter visto mais castanholas e cajon, mas depois soube que esses instrumentos foram incorporados mais recentemente. Os shows que vi eram mais crus e tradicionais, apenas com violão, sapateado, palmas e só.

Flamenco em Barcelona, em 2011, só com violão, voz, sapateado e palmas – Foto: Débora Costa e Silva

Mas apesar desse mergulho no flamenco, o lado B das minhas memórias espanholas guarda outros estilos que nada têm a ver com a música feita na Espanha (até onde eu sei). Foi em Barcelona que conheci a banda Baiana System, apresentada pelos meus amigos Fernando e Milena, e Madri ficou marcada pelas músicas da Whitney Houston e do Daniel (sim, o sertanejo), que eu e meu amigo Fellipe vivíamos cantando por lá.

Os clássicos da Madonna me lembram as viagens de carro que fazia para o interior ou litoral de São Paulo com a minha mãe; o álbum acústico dos Titãs e o “Pulse” do Pink Floyd as viagens pelo interior do Rio de Janeiro com o meu pai; uns reggaes ruins embalaram minhas idas e vindas para Floripa com as amigas de infância e nem vou mencionar quais axés marcaram minha viagem para Porto Seguro, deixa pra lá 😛

Mesmo quando fui para Londres e Liverpool com a minha irmã e fizemos um tour temático dos Beatles, acabamos ouvindo o que? John Mayer. Foram as músicas dele que embalaram a viagem, nada de “Eleanor Rigby”. Rolou algo assim também em Bariloche, na Argentina, com o cantor uruguaio Jorge Drexler. Tocou o álbum “Eco” inteiro em uma noite num bar (e ainda repetiu, acho que só tinham esse). Agora, quando toca Jorge Drexler, já me transporto para Bariloche, e não pro Uruguai – talvez também porque nunca estive lá rs.

Enfim, é uma delícia viajar inspirada por música, como foi Liverpool, Cuba e mesmo Nova York – e outras que ainda quero fazer. Mas ainda que eu planeje fazer um tour musical, não necessariamente aquele determinado estilo vá compor a trilha sonora. Como em quase toda viagem, o elemento surpresa sempre dá as caras, nunca decepciona. E é ele que nos leva a vivências diferentes, apresenta músicas, relembra de outras e faz de cada viagem única.

Cuba :: Humans of Havana

Mais do que paisagens ou museus, uma das coisas mais interessantes de uma viagem são as pessoas locais que conhecemos e que influenciam completamente a percepção que temos de um lugar. Em Cuba, esse contato humano é ainda mais presente – no meu caso por dois motivos: a curiosidade que eu tinha em relação ao estilo de vida dos cubanos (como vivem, o que pensam etc) e a simpatia e alegria natural desse povo.

Claro que lá pro fim da viagem, eu e meu amigo Daniel começamos a cansar da abordagem excessiva feita pelos locais. Sacamos que muitos abusam dessa abertura dos turistas e da fama do “cubano simpático” para abordar os visitantes com insistência, oferecendo de charutos a dicas de passeio em troca de dinheiro, um prato de comida ou roupas usadas – são os chamados jineteiros.

Mas o saldo final foi ultra positivo: conhecemos pessoas increíbles que marcaram nossa viagem e nossa vida. Mesmo aquelas que cruzamos e trocamos poucas palavras ou só observamos passar nas ruas e nas praias. Tem aquelas que ficaram só na memória, mas muitas tive a sorte de registrar em fotos. Seguem algumas delas, feitas em Havana em novembro de 2010.

Flagra do cochilo do motorista da bicitáxi, em Havana. Foto: Débora Costa e Silva

Flagra do cochilo do motorista da bicitáxi, em Havana

Desfile carnavalesco nas ruas de Havana, com direito a banda de sopro e dançarinos em pernas de pau. Foto: Débora Costa e Silva

Desfile carnavalesco nas ruas de Havana, com direito a banda de sopro e dançarinos em pernas de pau

Cubana desfila pelas ruas de Havana

Barman do mítico La Bodeguita del Medio, em Havana, onde dizem ter o melhor mojito da ilha. Foto: Débora Costa e Silva

Barman do mítico La Bodeguita del Medio, em Havana, onde dizem ter o melhor mojito da ilha

Carroças ainda servem de transporte em Cuba

“Ai, Brasiiiil!” é o que ela estava falando na hora da foto. Chegamos em uma feirinha de artesanato no morro em frente a Havana e a turma que estava lá fez a festa ao saber que éramos brasileiros. Nosso amigo Jardiel até ensinou ela a sambar

Miguel, de 9 anos, gastou um tempão conversando com a gente, ensinando uns passos de reggaeton e posando para as fotos. Super querido. Foto: Débora Costa e Silva

Miguel, de 9 anos, passou um tempão conversando com a gente, ensinando uns passos de reggaeton e posando para as fotos. Super querido! Leia mais sobre o Miguel no relato do Daniel Ribeiro.

Músico de rua cego na porta do bar La Bodeguita del Medio

Um clássico de Cuba: músicos de rua que, não contentes em tocar o instrumento, também vão atrás de mulheres turistas entoando canções românticas e elogiosas. O jeito foi dar risada e fazer uma foto, porque o escândalo foi tanto que fiquei com vergonha! Deu vontade de pagar só para ele parar, coitado. Foto: Daniel Ribeiro

Um clássico de Cuba: músicos de rua que, não contentes em tocar o instrumento, também vão atrás de mulheres turistas entoando canções românticas e elogiosas. O jeito foi dar risada e fazer uma foto, porque o escândalo foi tanto que fiquei com vergonha! Deu vontade de pagar só para ele parar, coitado (Foto: Daniel Ribeiro)

Esse garotinho com sono me chamou a atenção no meio de uma multidão na fila da igreja para a missa. Achei lindo

Fotos: Débora Costa e Silva

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O que já rolou de Cuba aqui no Papetes:

O primeiro impacto ao chegar na ilha

Dicas de hospedagem em Cuba

Preparativos para ir a Cuba (moeda, agência, gastos etc)

Por que decidi ir a Cuba?