Cuba :: Humans of Havana

Mais do que paisagens ou museus, uma das coisas mais interessantes de uma viagem são as pessoas locais que conhecemos e que influenciam completamente a percepção que temos de um lugar. Em Cuba, esse contato humano é ainda mais presente – no meu caso por dois motivos: a curiosidade que eu tinha em relação ao estilo de vida dos cubanos (como vivem, o que pensam etc) e a simpatia e alegria natural desse povo.

Claro que lá pro fim da viagem, eu e meu amigo Daniel começamos a cansar da abordagem excessiva feita pelos locais. Sacamos que muitos abusam dessa abertura dos turistas e da fama do “cubano simpático” para abordar os visitantes com insistência, oferecendo de charutos a dicas de passeio em troca de dinheiro, um prato de comida ou roupas usadas – são os chamados jineteiros.

Mas o saldo final foi ultra positivo: conhecemos pessoas increíbles que marcaram nossa viagem e nossa vida. Mesmo aquelas que cruzamos e trocamos poucas palavras ou só observamos passar nas ruas e nas praias. Tem aquelas que ficaram só na memória, mas muitas tive a sorte de registrar em fotos. Seguem algumas delas, feitas em Havana em novembro de 2010.

Flagra do cochilo do motorista da bicitáxi, em Havana. Foto: Débora Costa e Silva

Flagra do cochilo do motorista da bicitáxi, em Havana

Desfile carnavalesco nas ruas de Havana, com direito a banda de sopro e dançarinos em pernas de pau. Foto: Débora Costa e Silva

Desfile carnavalesco nas ruas de Havana, com direito a banda de sopro e dançarinos em pernas de pau

Cubana desfila pelas ruas de Havana

Barman do mítico La Bodeguita del Medio, em Havana, onde dizem ter o melhor mojito da ilha. Foto: Débora Costa e Silva

Barman do mítico La Bodeguita del Medio, em Havana, onde dizem ter o melhor mojito da ilha

Carroças ainda servem de transporte em Cuba

“Ai, Brasiiiil!” é o que ela estava falando na hora da foto. Chegamos em uma feirinha de artesanato no morro em frente a Havana e a turma que estava lá fez a festa ao saber que éramos brasileiros. Nosso amigo Jardiel até ensinou ela a sambar

Miguel, de 9 anos, gastou um tempão conversando com a gente, ensinando uns passos de reggaeton e posando para as fotos. Super querido. Foto: Débora Costa e Silva

Miguel, de 9 anos, passou um tempão conversando com a gente, ensinando uns passos de reggaeton e posando para as fotos. Super querido! Leia mais sobre o Miguel no relato do Daniel Ribeiro.

Músico de rua cego na porta do bar La Bodeguita del Medio

Um clássico de Cuba: músicos de rua que, não contentes em tocar o instrumento, também vão atrás de mulheres turistas entoando canções românticas e elogiosas. O jeito foi dar risada e fazer uma foto, porque o escândalo foi tanto que fiquei com vergonha! Deu vontade de pagar só para ele parar, coitado. Foto: Daniel Ribeiro

Um clássico de Cuba: músicos de rua que, não contentes em tocar o instrumento, também vão atrás de mulheres turistas entoando canções românticas e elogiosas. O jeito foi dar risada e fazer uma foto, porque o escândalo foi tanto que fiquei com vergonha! Deu vontade de pagar só para ele parar, coitado (Foto: Daniel Ribeiro)

Esse garotinho com sono me chamou a atenção no meio de uma multidão na fila da igreja para a missa. Achei lindo

Fotos: Débora Costa e Silva

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O que já rolou de Cuba aqui no Papetes:

O primeiro impacto ao chegar na ilha

Dicas de hospedagem em Cuba

Preparativos para ir a Cuba (moeda, agência, gastos etc)

Por que decidi ir a Cuba?

Por que escolhi ir para Cuba

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Ministerio del Interior na Plaza de la Revolución, em Havana

É difícil encontrar alguém que queira ir para Cuba que não tenha tido um pé na cozinha do Karl Marx. Caribe por Caribe, tem um monte de ilhas ali muito mais famosas pelas praias paradisíacas de mar azul. Ou pelo menos uma curiosidade saudável sobre como as coisas funcionam no país – acho difícil alguém de extrema direita querer ir para lá. Se não for minimamente simpatizante da revolução, pra quê ir? (Se for o seu caso, me conte!)

Comigo pelo menos foi assim. Eu nem lembro quando começou essa fissura por Cuba. Sei que na sétima série tinha um casal de professores que havia ido para lá – e isso era em 1999 – e eu achei incríveis as histórias que eles contavam – principalmente aquela coisa clássica de sentir que “voltou no tempo”. Talvez tenha sido neste momento que Cuba entrou para o meu radar.

No ano seguinte, fiz um seminário para a aula de História e meu grupo pegou os temas Revolução Russa e Chinesa, ou seja, fui me familiarizando com o socialismo. A professora era bem boa, estimulava discussões e provocava a galera nas aulas. E, claro, era pra lá de esquerda. Me identifiquei muito com os conceitos de igualdade social e comecei a me interessar por política. Virei vermelhinha.

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Da esq. para a dir.: estátuas de Camilo Cienfuegos, Fidel Castro e Che Guevara no Museu de la Revolución, em Havana

Sim, eu era dessas que defendia o PT, queria estar ao lado dos fracos e oprimidos e mudar o mundo. Usava camiseta do Che Guevara e lia Caros Amigos. Por um lado até que foi legal essa fase, eu era bem engajada. Ah, e na adolescência acho válido sonhar e ser idealista – já basta a vida adulta para te jogar doses diárias de baldes de água fria né?

Mas não foi só isso que me levou a ilha de Fidel. Tinha a música também, obviamente. Eu fazia aula de percussão, tocava de chocalho a atabaque, e o Mingo, meu professor, era mestre nos ritmos latinos. Fui aprendendo a base de vários estilos: salsa, rumba, chachacha, bolero e outros. Quanto mais ouvia, mais eu pirava.

Daí, naturalmente, veio a vontade de dançar salsa (ok, eu já estou morrendo de vergonha de contar tudo isso e quero desistir, mas vamos lá). Aprendi o básico e saía direto aqui em São Paulo para umas baladas latinas. A essa altura, não tinha como eu não ser obcecada por Cuba! Só precisava juntar dinheiro, ter férias e tava mais que decidido.

Músicos em cada esquina: um mito real de Cuba. Foto feita em Trinidad

Músicos em cada esquina: um mito real de Cuba. Foto feita em Trinidad

O mais louco é que voltei de saco cheio do Che Guevara e desse papo de revolução. Não que eu seja contra, o que passou, passou, ainda acho interessante toda a história. Mas lá você tem uma overdose sobre o tema e cansa falar e ouvir sobre isso. Sem contar que a maioria vive em condições precárias – apesar dos inegáveis benefícios na área de saúde e educação, ok.

E as paisagens, que antes eu nem dava bola, estão entre as coisas que mais me impressionaram. Não só a beleza das praias, mas também das construções históricas de Havana e Trinidad. Recomendo bem mais do que algumas ilhas caribenhas que de tão lotadas de resorts acabaram ficando quase sem identidade.

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Pôr do sol no Malecón, calçadão a beira do mar em Havana

Fotos: Débora Costa e Silva