Projeto leva caminhantes aos cenários do livro Grande Sertão: Veredas

Foto: Mariana Cabral

Foto: Mariana Cabral

Sabe aquelas viagens de imersão, que você conhece a fundo a cultura de uma região e volta transformado? A caminhada d’O Caminho do Sertão é uma dessas. Inspirado pelo universo do clássico de Guimarães Rosa, o “Grande Sertão: Veredas”, o projeto leva pessoas a caminhar pelo sertão de Minas Gerais, percorrendo parte do caminho realizado por Riobaldo, personagem central do livro.

A segunda edição do projeto acontece agora em julho, com duração de sete dias. Os caminhantes vão percorrer 160 km no total, passando pelos vales do rio Urucuia e Carinhanha, Vão dos Buracos (corredor ecológico entre o Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o Parque Estadual da Serra das Araras), Estação Ecológica Sagarana e outros pontos, fazendo paradas nas comunidades de cada local.

Foto: Mariana Cabral

Foto: Mariana Cabral

A organização vai disponibilizar veículos para transportar os pertences dos participantes e prestar assistência em situações de emergência caso alguém passe mal ou algo do tipo. Cabe a cada caminhante custear passagens de ida e volta até o distrito de Sagarana, de onde parte a jornada, dividir as despesas de alimentação (metade é oferecida pela organização do evento) e levar sua barraca para acampar.

Para participar, é necessário fazer uma inscrição até o dia 28 de maio. A organização vai selecionar 50 candidatos levando em conta as motivações de cada um e irá divulgar o resultado no dia 3 de junho. É importante lembrar que para embarcar nessa aventura é bom estar com a saúde em dia, pois o calor do sertão e as caminhadas diárias exigem um bom preparo físico.

Foto: Marina Reis

Foto: Marina Reis

Para inspirar os interessados, escolhi dois textos de dois participantes da primeira edição. Primeiro vai um trecho do depoimento da Juliana Pirró. Quem quiser ler na íntegra, clique aqui:

“Por que uma pessoa escolheria caminhar 150km em uma semana no sertão mineiro? Certamente não sei explicar. Mas para mim, foi praticamente um chamado. Uma salada mista de curiosidade de um povo que só tinha lido falar sobre (e aqui ressalto a importância e a beleza com que Guimarães Rosa foi me cativando pelos ditos em Grande Sertão: Veredas), a abertura a outros saberes e dizeres de quem vive na pele o sertão de todo dia, a beleza do cerrado mineiro, a cultura e o folclore, ou a instiga de saber quem seriam os outros 70 caminhantes que topariam o mesmo desafio. Ou será que aliada a tudo isso foi a vontade de me isolar por 7 dias do meu cotidiano e apenas SER?”

Pra fechar, um poema do Jony Pupo, meu amigo que me apresentou o projeto e escreveu várias coisas bonitas sobre a caminhada. Clique aqui para ler na íntegra o post:

Anotações para Todos Nós

Abrir os olhos
Abrir o coração em
caminhada

Que a poeira dos passos
de todos me lave
me leve
para um lugar além
melhor de mim

E, com tantos abraços,
afagos, cantos
e sorrisos

Que o brilho dos olhos
do mundo
possa ser como o dessa gente

Calos, bolhas
e paz, contudo.

***

Vai lá!

Data: de 4 a 12 de julho de 2015

Inscrições: até dia 28 de maio

Informações: caminhodosertao@gmail.com

www.ocaminhodosertao.wordpress.com (site)

www.facebook.com/caminhodosertao (facebook oficial)

Rio de Janeiro :: Cristo Redentor

Meu primeiro dia de férias na cidade maravilhosa foi bem clássico, fazendo um passeio tradicional e super turístico que nunca tinha rolado: ir até o Cristo Redentor! Dei um belo checked na minha lista ✔️

Vamos às fotos!  Comecei indo a pé de Laranjeiras até a rua Cosme Velho, 513, de onde sai o trenzinho que vai até o Cristo.

Inaugurado em 1884 (!), o trem que sobe até o topo do Corcovado já transportou papas, políticos, artistas e até o imperador Dom Pedro II. O trajeto do trem leva 20 minutos passando pela mata do Parque Nacional da Tijuca:

Durante a subida, já rolam umas vistas bem bonitas da cidade:

Chegando lá, de degrau em degrau você vai se aproximando do monumento…

…e voilà! Aqui estamos! \o/

Alguns números sobre o Cristo: foi inaugurado em 1931, tem 38 metros de altura e fica encrustado no morro do Corcovado, a 710 metros do chão!

Após várias sessões de contorcionismo com a câmera para enquadrar o Cristo na selfie….

E essa vista é aquela imagem clássica do Rio que eu sempre quis ver. E de todos os mirantes que já fui nessa cidade (a maioria dando azar com tempo nublado), esse foi o mais incrível! E o céu azul, com nuvens dando o ar da graça também.

Pra cada lado que se olha, tem algo bonito pra contemplar. Aqui está a Lagoa Rodrigo de Freitas:

Caso o tempo não esteja bom ou  número de turistas seja alto, não se preocupe: alguém já pensou nisso por você e vai dar um jeitinho de salvar seu passeio 😉 😛

Brincadeiras à parte, fiquei feliz de depois de tantos anos finalmente chegar lá aos pés do Cristo. E ainda com tempo bom – além de não chover e ter céu azul boa parte do tempo, não estava um calor insuportável. Por ser maio, ou seja, baixa temporada, também paguei menos e tive um tempo tranquila no mirante, sem empurra-empurra para tirar foto.

Dá para subir até o Cristo de van, mas nem cogitei. Todo mundo elogia o passeio do trenzinho e eu queria experimentar. Dizem que de van é mais demorado, porém mais barato. O que sei é que nas imediações da estação do trenzinho, já tem uns caras dizendo que não tem horário pro trem, “só daqui duas horas” ou coisa do tipo para tentar conquistar clientes. Não dê ouvidos: vá para a bilheteria confirmar – na maioria das vezes tem ingresso, sim!

Vai lá
Saída na Rua Cosme Velho, 513
É possível comprar o passeio de trenzinho pela internet, em pontos de venda ou na própria estação
Mais informações: www.corcovado.com.br

Obs: Valeu Gabriel e Mônica pela companhia 🙂

Rio de Janeiro :: Parque Lage

Foi amor à primeira vista. A descoberta do Parque Lage foi em 2010, e desde então virou meu xodó do Rio. Toda vez que vou, dou um jeito de passar por lá, comer a torta de maçã, tomar um expresso e fingir que sou rycah a vida é essa maravilha por algumas horas.

Foi bom enquanto durou: minha amiga Larissa me avisou que o D.R.I. Café, onde eu comia a tal tortinha, fechou :-(. No lugar, abriu o bistrô Plage, que segundo o site d’O Globo oferece café da manhã também, mas tem cardápio próprio de almoço, chef e produtos orgânicos. Será que gourmetizou? Na próxima visita vou experimentar e conto por aqui!

Mas vamos ao que interessa: reuni aqui as fotos que fiz de todas essas visitas ao parque – e em cada uma delas, tive uma descoberta nova ou surpresa! ❤

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O parque mistura uma série de coisas bacanas: tem a arquitetura do palácio, a Escola de Artes Visuais, as flores e plantas do jardim e um café * instalado no centro da construção principal para se deliciar em meio ao passeio. Ah sim, e o Cristo Redentor lá no alto do Corcovado compondo o cenário.

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Mas como assim palácio? Pois é, a história começa lá em 1811, quando o terreno de um antigo de engenho de açúcar foi comprado por um senhor chamado Rodrigo de Freitas Mello e Castro (lembrou da Lagoa? É isso mesmo, tem tudo a ver). Ele contrata o paisagista inglês John Tyndale para projetar os jardins no estilo europeu, que hoje servem também para abrigar piqueniques.

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Em 1859, Antônio Martins Lage adquire a chácara. Depois de um passa-e-repassa nas mãos de vários outros proprietários, seu neto, Henrique Lage, consegue reaver a propriedade da família em 1920. Ufa, 61 anos depois!

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Daí em diante foi só festa. Lage convidou o arquiteto italiano Mario Vodret para projetar o palacete principal, sob grande influência de sua esposa, a cantora lírica Gabriella Besanzoni. O estilo da mansão seria eclético, misturando várias referências. Um dos salões do palácio é assim:

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Reparou no teto todo detalhado? Então chegue mais perto e veja bem:

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Em 1936, Gabriella fundou a Sociedade do Teatro Lírico Brasileiro e mais tarde, em 1948, convidou seus sobrinhos-netos a habitar o palácio. Nesta época, ela promovia festas de arromba, frequentadas pela alta sociedade carioca. Mas os dias de glória não foram eternos e a família acabou se endividando.

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Lage entregou boa parte de seus bens para o banco, mas não vendeu a chácara. Com a ajuda do então governador Carlos Lacerda, conseguiu que a propriedade fosse tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio histórico e cultural da cidade em 1957.

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O local continuou sendo referência para artistas até que em 1975 foi criada a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Além de oferecer cursos, a instituição também promove exposições e apresentações artísticas diversas. Dá uma olhada nos corredores do pátio, cheios de quadros:

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Além dessas obras, há também outras manifestações artísticas , como essas placas:

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Ou ainda, se der sorte, pode encontrar umas intervenções temporárias pelo parque, como essas nuvens aqui:

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Eu não sabia nada disso quando visitei o local, fui descobrindo aos poucos e boa parte agora, para escrever o post. Essas informações servem só para dar mais uma pitada de sabor quando forem passear por lá. Mas sabendo de toda história ou não, o lance é que o lugar por si só tem um encanto e desperta o interesse dos visitantes por ser de tudo um pouco – além, é claro, da beleza de seus jardins e construções.

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O cafezinho no pátio do palácio foi uma das primeiras descobertas – junto com a já citada torta de maçã. Uma das vezes fui lá para tomar um brunch, que vinha com frutas e pãezinhos deliciosos.

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Na época, achei o preço salgado e o atendimento demorado. É que tinham poucos funcionários e muita gente para atender. Como agora o restaurante/café que fica no parque é outro, não sei quais são as comidinhas nem como é o serviço. Se alguém aí já conhece o Plage, conta mais nos comentários 😉

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E essa caverna doida? Achei lá pela terceira ou quarta visita e fiquei encantada! Olha só o que tem por dentro:

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Sim, é o aquário do Parque! Ele foi construído de um jeito super legal, tudo parece ser natural, feito em argamassa imitando pedras. Os vidros dos aquários se fundem à estrutura da “caverna”, que por fora leva troncos de árvores também. Ou seja, você se sente completamente imerso a natureza.

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Falando em natureza, a última surpresa que tive no Parque Lage foi esse macaquinho prego aí da foto. Topamos com ele pulando de uma janela para outra, com um pão na boca, provavelmente roubado da cozinha. Me lembrou o Abu, macaco do Aladdin, que vivia com seu pãozinho a tiracolo.

Mas o impacto que se tem ali, acho que para todos que visitam (e revisitam), é a entrada do pátio. Ali você se depara com um espaço belíssimo, uma piscina refletindo o céu azul e, ao olhar pra cima, ainda vê o Cristo lá na montanha na sua direção. Tipo assim (a foto não tá nada boa, mas o que vale é a intenção rs):

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Vai lá
Rua Jardim Botânico, 414 – Jardim Botânico
Tel: (21) 3257-1800
http://eavparquelage.rj.gov.br – não tem site do parque, só da escola

Fotos: Débora Costa e Silva

Visconde de Mauá :: Unplugged

Chalé no Vale das Flores, onde ficamos bem isolados. Foto: David Santos Jr

Chalé no Vale das Flores, onde ficamos bem isolados. Foto: David Santos Jr

Uma amiga voltou de uma viagem em que teve que ficar sem internet, telefone e televisão por quase uma semana e estava feliz por ter “sobrevivido”. Mais que isso: tinha se sentido incrivelmente melhor, menos refém do feed do Facebook e mais livre para viver o presente.

Você leu o parágrafo anterior e achou exagerado o termo “sobreviver”? Julgou e pensou “que besteira, antigamente todo mundo vivia sem isso, eu não sou dependente dessas coisas”? Pois é, eu julgaria assim também se não tivesse passado por isso recentemente.

No ano passado, fui para Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, com meu namorado. Ficamos na casa do irmão dele, no Vale das Flores, bem no meio do mato mesmo. O centrinho mais próximo ficava a meia hora dali, depois de muito cavalgar no banco do carro por conta dos buracos da estrada.

Antes de chegar, quando passamos por Penedo, meu namorado já me falou para ligar para minha mãe porque dali em diante não haveria mais sinal. Nenhum. Ok, eu pensei, do que mais eu preciso? Uma boa companhia, natureza, amor, silêncio… E de tempos em tempos me flagrava dando aquela checadinha no combo email-face-instagram e a única informação que eu obtinha do aparelho eram as horas. Le-gal, 10h33, já passaram 10 minutos, e aí? E agora?

E aí que os intervalos que eu ficava sem olhar o celular foram ficando maiores, até que passei a mexer realmente só quando queria tirar uma foto. A ansiedade baixou, a necessidade sumiu. Não senti calafrios de abstinência, meus olhos descansaram da luz da tela, meus ouvidos se abriram pro sons da natureza e… ok, parei, tá muito hippie isso aqui.

Cachoeira Véu de Noiva, na Vila de Maromba. Foto: Débora Costa e Silva

Cachoeira Véu de Noiva, na Vila de Maromba. Foto: Débora Costa e Silva

Mas o fato é que não sofri muito – só um pouquinho, mas bem menos do que eu esperava. O lance é que no início fiquei entediada, afinal, no celular tenho trilhões de informações (a maioria inútil, claro) e ali, em Mauá, eu tinha basicamente uma por vez. Mas foi uma bela troca, de quantidade por qualidade. Eu via uma cachoeira e era incrível. Se for parar para ver, ali também contém zilhares de “informações”: a vegetação ao redor, o movimento da água, o barulho da água, as pedrinhas do fundo do rio, o cheiro do mato e por aí vai.

Ou seja, na teoria, todos sabemos que vale a pena dar uma desligada, mas só desconectando é que nos damos conta (ou pelo menos eu me dei) do quanto o celular e a internet dominam nossa atenção no dia a dia. E foi voltar a ter sinal 3G que a ansiedade deu as caras de novo. Vira e mexe sinto falta da sensação de ficar desconectada como dessa vez em Mauá. E por que então não diminuir?

Daí que entra a parte da viagem. Quando viajamos nos permitimos experimentar mais situações incomuns. E nem sempre conseguimos manter na rotina aquilo que fizemos enquanto estivemos fora. Se conseguir adaptar um pouquinho, a viagem já cumpriu sua missão.

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Entre cachoeiras e história, Visconde de Mauá é ideal para o fim do inverno (diria até que é ideal para qualquer estação :-))