São Paulo :: Rolê de bike pelo Minhocão

Foto: Débora Costa e Silva

Há muito tempo venho querendo usar o sistema de aluguel de bicicleta Bike Sampa e nunca tinha rolado. Os motivos da demora são vários e ao mesmo tempo nenhum: é tão fácil, simples e prático que eu mesma não me conformo que só fiz isso agora #shameonme. Mas antes tarde do que nunca né?

A pedalada de estreia foi num dos lugares mais bacanas de passear em São Paulo durante os fins de semana: o Elevado Costa e Silva – vulgo Minhocão. Eu também nunca tinha ido andar por lá quando fica fechado (#shameonme2) e, apesar de ser uma construção que já causou muita polêmica por ser considerada um “desastre urbanístico“, sempre me encantei pela ideia de circular ali em cima e ver a cidade sob uma nova perspectiva. É um visual incrível e o elevado vira uma passarela ótima para correr, andar de skate, patins ou de bicicleta: asfalto lisinho, com pouquíssima inclinação e bastante espaço.

Fiz algumas paradinhas estratégicas durante o passeio, mas é claro que em São Paulo cada esquina pode reservar uma surpresa – e dessa vez não foi diferente. Vejam abaixo como foi o rolê:

 

Ponto Chic :: Ponto de partida

Para ter energia para pedalar, fui almoçar no tradicional Ponto Chic que fica na boca da entrada do Minhocão, em Perdizes, no Largo Padre Péricles. Fui de carro até ali perto, sentei em uma das mesinhas que ficam na rua e pedi logo o lanche clássico da casa, o Bauru.

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Foto: Divulgação – Ponto Chic Perdizes, Largo Padre Péricles

A criação desse sanduíche foi nessa lanchonete, mas em sua sede, no Largo Paissandu, graças às invencionices culinárias de um frequentador assíduo, seu Casimiro Pinto Neto, cujo apelido era o nome de sua cidade natal – Bauru.

Reza a lenda que ele pedia para o garçom ir acrescentando determinados ingredientes, de acordo com o que lia sobre nutrição (carne tem proteína, tomate vitaminas e por aí vai) e a mistura fez sucesso. Todo mundo chegava e pedia “Me vê um desses do Bauru”!

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Pão francês + rosbife + tomate + pepino + queijo especial = Bauru. Foto: Divulgação

A receita está aí na legenda da foto, mas não é um simples queijo: é uma mistura entre quatro tipos que resultam no ingrediente que vai neste sanduíche especial. Quem quiser saber mais, dá uma olhada nesse vídeo aqui que mostra como faz o lanche 😉

Vale ressaltar: o garçom que me atendeu era extremamente simpático e gente boa. Ia pedir um suco de morango, mas ele falou: “tem certeza? O daqui não é bom não”. Quantas vezes você topou com tamanha sinceridade? Achei louvável.

Bike Sampa :: Modo de usar

Pernas pra quê te quero: estreando no Minhocão feliz da vida. Foto: David Santos Jr

Pra quem não sabe, o Bike Sampa é um projeto da Prefeitura de São Paulo patrocinado pelo Itaú, que incentiva a mobilidade urbana. Há duas formas de usar o sistema: ativar o seu Bilhete Único ou usar o aplicativo. Escolhi a segunda opção por achar mais fácil. Feito o download do app e o cadastro (é preciso  um cartão de crédito para debitar o valor do aluguel), você já está habilitado para pegar uma bike e sair por aí :-).

Há muitas estações espalhadas em São Paulo e o app funciona direitinho, com um mapa que pode mostrar todas elas ou só as que têm bikes disponíveis ou ainda só as que têm vaga para devolver as bicicletas. O melhor dessa história toda? A primeira hora de uso é gratuita! Depois, são R$ 5 a cada hora de aluguel – se você fizer uma paradinha de 15 minutos entre uma hora e outra, sai de graça também. Outro fator positivo: você pode devolver a bike em qualquer estação, é só ter vaga e encaixá-la de volta.

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Ali no Largo Padre Péricles tem uma estação e, de acordo com o mapa, tinham três bicicletas disponíveis. Só que não: uma mulher estava lá enfrentando problemas para usar uma bike, porque uma estava travada e não saía de jeito nenhum, a outra não aparecia como disponível no sistema e a única que dava para soltar do encaixe estava com o pneu furado. A moça já havia ligado na central do Bika Sampa para avisar, mas não tinha jeito: ou a gente esperava alguém devolver uma bike ou iríamos em outra estação.

Por sorte era feriado e a movimentação era grande. Logo apareceu um pessoal para devolver as bicicletas e consegui pegar uma para mim. Ela tem três marchas, uma cestinha e estava novinha, super bem conservada. Ajustei a altura do assento e encarei o Minhocão.

Minhocão :: A estrela do dia

Um dos grafites mais bacanas do caminho, a raiz da planta “nasce” na caixa d’água do prédio. Foto: Débora Costa e Silva

Percorri todo o elevado e o passeio foi super agradável. Eu estou numa fase bastante sedentária, tentando voltar a rotina de exercícios, então sofri um pouco nas subidas. Você pode falar “mas o Minhocão é plano, que subida?”.

Pois é, eu também pensava assim, mas como estou enferrujada, cada inclinaçãozinha era um pequeno martírio para minhas pernas. Nada grave: fui devagar e foi uma delícia o exercício, mas serviu para dar um chacoalhão básico e me fazer querer superar isso.

De resto, o bacana  desse rolê é aquilo que já falei no começo do texto: ver São Paulo a partir de um novo ângulo. Estar entre os prédios, não dentro ou embaixo deles. Estar na rua ativamente, não dentro de um carro ou na calçada.

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Jardim vertical na lateral do prédio causa um impacto no meio da paisagem cinza. Foto: Débora Costa e Silva

O Minhocão em dias úteis tem uma outra vibe, tudo ali é pesado, poluído, deprê. Os prédios antigos e mal conservados ainda estão lá de fim de semana e feriados, é claro, mas rodeados de gente se divertindo. Outro clima, outra São Paulo.

Os grafites e as intervenções urbanas ainda não são muitos, mas os que existem já causam um impacto e tanto entre os visitantes. O que mais gostei é um desenho que simula o interior dos apartamentos dos prédios ao redor do Minhocão.

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A intervenção que eu mais curti no Minhocão. Foto: Débora Costa e Silva

Surpresas no centro :: Zombie Walk

A próxima parada seria a Casa Matilde, na rua São Bento, onde vendem docinhos portugueses. Quando cheguei no fim do Minhocão, na rua da Consolação, peguei um bom trecho sem ciclofaixa e fui andando cuidadosamente no cantinho das ruas ou pela calçada.

Como era feriado, estava bem tranquilo percorrer esse trecho, mas conforme fui avançando, o número de pessoas aglomeradas foi aumentando e logo descobri que estava no meio da Zombie Walk!

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Multidão zumbi toma conta do Viaduto do Chá, no centro de SP. Foto: Débora Costa e Silva

Fiquei impressionada com o tanto de gente que estava participando e com o capricho das fantasias. Tinham umas bem criativas, milhares de noivas cadáveres, uma Tropa de Elite enorme e até uns mais engraçados, tipo Salsicha & Scooby Doo, mas o ápice da parada foi quando um cara vestido de Batman subiu no topo de uma banca perto do Teatro Municipal e a plateia veio abaixo.

Parada para comer :: Café Girondino

A Casa Matilde estava fechada e o jeito foi ir até o Café Girondino, outro point tradicional do centro de São Paulo. Charmoso, com uma escadaria no centro, mesas, cadeiras e mobília de madeira, o clima remete o início do século 20. Foi um lugar delicioso para fazer uma pausa da pedalada, mas ao contrário do Ponto Chic, não fiquei muito feliz com o atendimento.

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As curvas do Café Girondino são um charme à parte. Foto: Facebook do Café

Não sei se é sempre assim ou se os garçons estavam especialmente desatentos, mas fiquei sentada quase meia hora sem ninguém me atender, só deixaram o cardápio e nunca mais voltaram – e não era o caso de estar lotado, bem longe disso. Mudei de mesa e resolvi pedir direto no balcão para agilizar. Pelo preço e pela tradição do lugar, esperava outra coisa. O café, por outro lado, estava uma delícia.

O Retorno :: Levando a bike no metrô

Logo ao lado do Café Girondino, tem uma estação do Bike Sampa, onde já devolvi a bicicleta para facilitar. Para voltar até o carro, resolvi ir de metrô da estação São Bento até a Marechal Deodoro.

Eu sempre apoiei e admirei meus amigos que trocaram carro ou mesmo metrô e ônibus por bicicleta. Os que começaram anos atrás então, nem se fala, foram desbravadores e corajosos. Tudo isso pra que hoje pessoas como eu, que estão longe de ser da turma do esporte ou ativistas, curtam um dia tranquilo de bike por São Paulo, com cada vez mais segurança, conforto e companhia. E que seja apenas o primeiro dia de muitos! 🙂

Uma das entradas para o Minhocão perto do metrô Marechal Deodoro, com tantas árvores que me senti num parque. Foto: Débora Costa e Silva