Para quem vive em São Paulo, sufocado pela rotina estressante, poluição, metrô lotado, às vezes fica difícil pensar no lado bom daqui. Acho que muita gente cultiva uma relação de amor e ódio com a cidade: tem coisas incríveis e especiais, mas tem o caos também, que esgota e cansa.
Para ver São Paulo sob uma outra perspectiva em seu aniversário de 462 anos, convoquei amigos que viveram aqui e hoje estão em outros lugares do Brasil e do mundo pra dizer o que mais sentem falta da cidade. Confesso que por um momento pensei que ninguém fosse topar por acharem melhor onde vivem hoje – seja pela tranquilidade, qualidade de vida, ou qualquer outro motivo. Besteira minha: não só todos toparam como relataram várias saudades.
Algumas coisas foram praticamente unanimidade: a avenida Paulista, o combo pastel + caldo de cana e a praça Pôr do Sol foram as mais comentadas – junto com a saudade dos amigos e familiares, é claro. Outro ponto bastante destacado foi o clima, principalmente para os que estão no hemisfério norte em pleno inverno. Quem diria, esse tempo louco de São Paulo, com mil estações em um só dia, pode fazer falta!
Bacana mesmo é perceber que não só existe amor em SP, como por SP também! Um grande salve para essa nossa cidade louca, multicultural, gigantesca e surpreendente! Que a cada ano tenha mais espaços públicos, mais cultura nas ruas, mais verde e continue plural em todos os sentidos! ❤
Do que você sente falta de São Paulo?

Ricardo em Seul e, ao lado, a Praça Roosevelt durante uma festa (Fotos: Arquivo pessoal + Raphael Tsavkko Garcia/Creative Commons)
Ricardo Pagliuso, 38 anos, sociólogo
Nascido no interior de São Paulo, viveu na capital por 20 anos. Passou um ano na Alemanha, voltou e, desde agosto de 2015, está em Seul (Coreia do Sul) fazendo pesquisas acadêmicas.
“Difícil dizer. Esta é minha segunda longa temporada longe de São Paulo, mas, como na primeira, tenho a perspectiva de voltar para a cidade que chamo de minha casa. Entre outras dezenas de pequenas e grandes coisas, sinto falta do clima louco de SP (frio no verão, calor no inverno), da “gentileza de estranhos” (como diz a personagem de Tennessee Williams) que se encontra em todo canto da selva metropolitana, da coxinha do BH, do café expresso do Floresta, dos bares da Roosevelt e das festas ao ar livre nas praças, do português com os vários sotaques, de comprar – e comer! – fruta na feira no domingo, de comer PF no boteco, de tomar cerveja na Augusta, dos izakayas da Liberdade. E agora, com o Carnaval batendo à porta, dos bloquinhos pela cidade.”

Natália em um parque em Melbourne e, ao lado, a movimentada Avenida Paulista. (Fotos: arquivo pessoal + Artur Luiz/Creative Commons)
Natália Ballotin Hall, 31 anos, jornalista
De São Bernardo do Campo, mas viveu entre o ABC e a capital quase toda a vida. Está fora do Brasil há cinco anos, sendo os últimos 4 em Melbourne, na Austrália. Saiu para estudar e viver novas experiências – ficou, casou e tem dois filhos
“Pelo fato de estar longe há muito tempo, toda vez que lembro de São Paulo com saudades, tem a ver com os momentos que eu estava com os amigos. Para falar a verdade, eu não consigo pensar em um lugar X (um parque, shopping, restaurante, museu), pois para mim, o que faz o lugar ser especial são as histórias que eu vivi lá. E quando se trata de boas histórias, infelizmente as minhas sempre ocorriam no bar hahaha. Teve uma fase que eu sempre saía para beber nos bares da Augusta e de vez em quando nos da Paulista, como o Opção e o Charme. Sinto falta dessa região de São Paulo.”
Constan Tino, 33 anos, engenheiro e agora estudante de Museologia
Natural de Aracaju (SE), morou em São Paulo por 9 anos e meio. Vive há seis meses em Montreal, no Canadá. Migrou para mudar de área e conhecer novas culturas.
“Sinto MUITA falta de duas coisas: boteco e padoca. E de compartilhar uma garrafa de cerveja de 600 ml, dividir as coisas na mesa do bar, o que não é nada comum por aqui. Eu gostava muito de comer em São Paulo hahaha. Adorava o Aska Lamen na Liberdade, ia muito no Empanadas e no Mercearia São Pedro na Vila Madalena também. Tipo, se eu estivesse no seriado ‘Friends’, esses dois lugares seriam o meu Central Perk. Ah, tem a Casa do Norte no Butantã – eu AMO aquele lugar. Enfim, aqui no Canadá tudo é bonitinho e tal, tem muitos bares e lugares bacanas para ir, mas acho que São Paulo é especial como poucos lugares no mundo.”

Jairo em um passeio em Sydney e o forró do Remelexo, em Pinheiros. (Fotos: arquivo pessoal e Ricardo Galvão Fontes/Divulgação
Jairo Lacerda, 29 anos, empresário
Natural de São Paulo, mudou para a Austrália há seis anos, sendo 5 deles em Sydney e 1 em Melbourne, onde está hoje. Saiu do Brasil para realizar o sonho de criar sua própria marca de roupas, a COFD.
“Além da saudade da família e dos amigos, de São Paulo eu sinto muita falta da comida, do tempero e do gosto das frutas também. Saudades da minha época de forró, quando ia no Remelexo e no KVA (já fechado), e das baladas Club e Eazy. Mas a maior saudade acho que é do pastel de frango com caldo de cana que eu comia na feira aos sábados.”

Juliana em frente ao Big Ben, em Londres e, ao lado, a Livraria Cultura, uma de suas paradas obrigatórias na Paulista (fotos: arquivo pessoal e Divulgação)
Juliana Gabos, 32 anos, desenvolvedora de Software
Atravessou o Atlântico há 2 anos e meio para fixar residência em Londres
“Morando em Londres não é difícil de sentir bastante falta do clima de São Paulo e todo o nosso estilo de vida que deriva dele. Quando morava aí, dava para combinar de fazer praticamente qualquer coisa em qualquer época do ano ou momento do dia. Gostava muito de sair para jantar, por exemplo. São Paulo tem restaurantes sensacionais, ideais para curtir o ar gostoso da noite.
Não são raros os fins de semana em que sinto falta de caminhar na avenida Paulista. É um dos meus lugares favoritos da cidade. É muito gostoso caminhar parando para olhar a feirinha que tem ali perto da Consolação (acho que no shopping Center 3, que espero que ainda esteja lá), dar um pulo na Livraria Cultura, tomar um sorvete ou um açaí (ou até mesmo um chocolate quente) enquanto se passa do lado de construções que marcam a história da cidade. Tenho boas recordações de passeios que fiz com família, amigos ou mesmo sozinha. Quando voltar à cidade para uma visita, tenho que dar uma passada lá de algum jeito! 🙂 Ah, e sinto falta de pizza!!!! São Paulo, pelo menos para mim, ainda tem a melhor pizza do mundo!”
Flávia Fernandes, 31, jornalista
Natural de São Paulo, mora há seis meses na cidade de Abilene, no Texas (EUA), após um ano e meio indo e voltando por causa do namorado, hoje marido.
“Eu sinto falta de muitas coisas. Uma delas é andar na rua, explorar lugares a pé, como os bairros Perdizes, Lapa e a região da Av. Paulista. Eu sinto falta da vida 24 horas e que tem tudo o tempo todo. É impossível ficar entediado. Outra coisa que sinto falta é da diversidade de restaurantes. Dá pra explorar lugares e sabores sempre! Tem meus restaurantes favoritos no momento, que são Comedoria Gonzales (Peruano) e o Mori (Japonês). Outra coisa é o pastel com caldo de cana na feira – isso é delícia sempre! Meus lugares favoritos são a Praça Pôr do Sol e o Parque Vila Lobos. O bairro que amo é a Vila Madalena. Tem arte, bares, restaurantes, lojinhas, tudo.”
A ideia do post fez a Flávia a ir além desse depoimento e a inspirou a gravar um vídeo sobre o assunto para o seu canal no YouTube. Clique aqui para ver, tem ainda mais dicas! 🙂

Nadia e um de seus cantinhos preferidos de Sampa: o Museu do Ipiranga (fotos: arquivo pessoal + Erasmo Altimeri/Creative Commons)
Nadia Moragas, 30 anos, jornalista
Nasceu em São Paulo e mora há cinco anos na Bahia. Passou por Salvador, Ilha de Itaparica e hoje vive em Porto de Sauípe. A mudança rolou após conhecer o marido, daí resolveu fazer mestrado na terra dele.
“Acho que o mais legal de Sampa é o fato de ser cosmopolita. Diferentes estilos e culturas encontram algum lugar na cidade para chamar de seu. Sinto falta dos parques, principalmente do Museu do Ipiranga (fechado para obras) e do Ibirapuera. Também sinto saudade da vida noturna agitada, com muitos lugares bacanas pra tomar uma cerveja. Adorava o Charme da Paulista e o Opção também. Adoro as feiras de rua, sempre tem uma em algum lugar próximo. Saudade do pastel e caldo de cana. A feira da Praça da República, de domingo, tem muita coisa bacana, roupa, artesanato, pinturas e comidinhas! Também curtia a feira da Benedito Calixto, com antiguidades e itens descolados.”

Amanda na avenida Paulista, durante reforma da ciclovia, e ao lado a Casa das Rosas, onde ela frequentava. (fotos: arquivo pessoal + Felipe Lange Borges/Creative Commons)
Amanda Serra, 27 anos, jornalista
A paulistana está há 4 meses em Dublin, na Irlanda. Mudou para melhorar o inglês e aprender mais sobre si mesma.
“Com certeza o clima de São Paulo (minha cidade) é o que eu mais sinto falta atualmente. Sem falar na comida: aquela coxinha quentinha do Frangó, a pizza da Ritto… O centro velho de São Paulo é outra paixão, mas não há nada tão paulistano como caminhar pela avenida Paulista e se apropriar dela. Era um dos meus programas prediletos aos domingos, agora que ela está fechada para carros deve estar ainda melhor. A homogeneidade das pessoas ao redor, as feiras de artesanatos com roupas descoladas, os variados protestos, os shows dos artistas de rua, as lojinhas dos chineses, a atmosfera cultural, o simples caminhar em meio a tudo isso já fazia a viagem de Pirituba valer a pena. Vivia de olho nas programações gratuitas da Casa das Rosas, do Itaú Cultural e do Centro FIESP. Isso sempre me rendeu belos espetáculos e exposições. Essa é uma boa dica para quem gosta de teatro, exposição, literatura e quer economizar. ”
Felipe Munhoz, 31 anos, jornalista
Nascido em São Bernardo do Campo, viveu entre o ABC e a capital boa parte da vida. Há 4 anos foi para o Rio de Janeiro. Segundo ele, o universo só mandou uma alternativa de mudança, ele aceitou e iniciou uma nova fase.
“São Paulo, nos separamos, eu sei, mas vou te contar. Gosto mesmo é de te ‘namorar’ assim, distante. Ainda sinto saudades das nossas quintas dançantes no Teatro Mars. Daquela sensação de liberdade ao te amar dirigindo pela madrugada, com suas curvas desimpedidas, e caçar alguém que topasse levantar uns copos. Lembra quando não ‘existia’ Vila Madalena? A gente ia, literalmente, de norte a sul, de leste a oeste. Eu sei, a praça do pôr-do-sol é um pedacinho marcante. Nossa, vivemos intensamente o nosso tempo. Tomamos os maiores porres no Pico, da Cardeal. Se quiser comer pastel na Mercearia São Pedro, tudo bem, mas já aviso que sem Xico Sá e Sócrates o lugar deve estar meio sem aura – dizem que até pegou fogo!
Chega de enrolação, vou dizer logo a verdade. Sua graça é nos deixar fugir da moda. Se todo mundo começa ir pra Vila, a gente vai para Augusta ou toma uma no Rossio ou num bar da Tiquatira; se lotam o Belas Artes, é hora de dar um pulo no Centro Cultural; se tem rolezinho gourmet em Moema, a gente vai visitar os amigos em Itaquera, ou em Pirituba, com o maior prazer; se a polícia sitiou a praça do pôr-do-sol, a gente faz música e fogueira no mirante de Santana.
Não posso negar, suas caronas sinceras me encantam. Mas, sinceramente, o nosso amor só existe assim, no campo das saudades. De qualquer forma, fica o meu “abraçaço” e a gratidão por me ajudar a amadurecer com tantas experiências. Meus parabéns, São Paulo.”