São Paulo :: Paulista Aberta

Avenida Paulista aos domingos recebe ciclistas, artistas e cada vez mais moradores que curtem o dia ao ar livre. Foto: Débora Costa e Silva

Avenida Paulista aos domingos recebe ciclistas, artistas e cada vez mais moradores que curtem o dia ao ar livre. Foto: Débora Costa e Silva

Desde que me entendo por gente, a avenida Paulista já era um polo cultural fascinante. Nos anos 2000, durante a adolescência, ia a shows gratuitos na hora do almoço na Fiesp, ver filmes nos cinemas Belas Artes e Unibanco (hoje Itaú), visitava o MASP, o Itaú Cultural e a Casa das Rosas. Mas não era um ponto ou outro que me atraía especialmente, era o seu movimento. A Paulista sempre teve vida própria.

Eis que em junho de 2015, a prefeitura inaugurou sua ciclovia e no mesmo dia abriu a avenida para os pedestres aos domingos (anota aí: é das 10h às 18h) e transformou ainda mais a experiência de quem circula por lá. Se antes já era vibrante, imagine agora? Todo domingo a via recebe gente de todos os estilos, idades e classes sociais para fazerem inúmeras atividades, na melhor tradução do termo “diversidade”.

O pessoal vai caminhar, correr, pedalar, patinar, tirar fotos, visitar um museu, a feira de antiguidades do MASP, participar de aulas de dança, de oficinas de artesanato, tomar um café, almoçar, levar o cachorro pra passear, assistir a um (ou vários) show ou simplesmente ficar zanzando e acompanhar o fluxo.

Feirinha de artesanato é um plus para quem visita a de antiguidades do Masp. Foto: Débora Costa e Silva

Feirinha de artesanato é um plus para quem visita a de antiguidades do Masp. Foto: Débora Costa e Silva

Tenho ido com frequência e virou meu ritual de fim de semana desde novembro, muito por conta da bike também – aliás, não sei dizer se a paixão por pedalar me levou à Paulista ou se foi a Paulista que acabou me incentivando a pedalar, mas ok, isso é outra história rs. Foi bonito observar ao longo dos meses a rua ser tomada e encher mais e mais a cada semana, ganhando novos adeptos e atrações. Sempre me surpreendo com algo novo e chego até a ficar aflita de não dar conta de ver tudo.

Para turistas é um prato cheio, porque em um só passeio já têm uma amostra da variedade de culturas, tribos e loucuras de São Paulo. Para quem é paulistano, vive de saco cheio do trânsito, metrô lotado, falta de segurança, stress do trabalho, preços que não param de subir, dê uma chance para curtir a cidade como turista também, vai!

É uma cidade difícil, que muitas vezes não te ganha de primeira – ok, às vezes nem de segunda – mas eu duvido que alguém não encontre um lugarzinho no meio de toda essa diversidade da Paulista pra se aconchegar e curtir o dia. E é aí que mora a graça do negócio: é uma contravenção e tanto essa avenida, tão comercial, tão imponente, tão símbolo de todo o caos, estar agora livre, leve e solta quase como um parque, apenas com a função de ser um espaço público de convivência democrática.

Ciclovia, ciclofaixa e cia

Ciclovia + ciclofaixa na avenida Paulista. Foto: Débora Costa e Silva

Ciclovia + ciclofaixa na avenida Paulista. Foto: Débora Costa e Silva

Além da ciclovia que já existe na avenida e é utilizada diariamente, aos domingos e feriados os ciclistas ganham mais espaço com a CicloFaixa de Lazer, patrocinada pelo Bradesco Seguros e realizada em diversas regiões da cidade. Ué, mas se já tem ciclovia, pra quê mais uma faixa ali? Bom, é só dar um pulinho lá para perceber que ambas ficam bastante carregadas aos domingos, até porque não é só bike que tem por ali, tem gente de patins, skate, hovertrax, patinete e por aí vai. Se quer praticar mesmo, a dica é ir cedo, pelo menos antes das 11h, porque depois começa a ficar difícil de circular e o pessoal começa a tomar conta também da ciclofaixa para assistir shows. Dá para andar, mas com muito cuidado, atenção e algumas paradas para desviar da galera.

SOS Bike na Praça do Ciclista, com serviços gratuitos. Foto: Movimento Conviva

SOS Bike na Praça do Ciclista, com serviços gratuitos. Foto: Movimento Conviva

Outro benefício incrível é a assistência gratuita aos ciclistas dada também pelo Bradesco: ao longo da extensão da ciclofaixa (já desde a avenida Jabaquara, com início na estação São Judas, passando pela Vila Mariana), há profissionais circulando com ferramentas para auxiliar o público com algum problema na bike (pneu murcho ou furado, ajustes no selim, reforço no breque, entre outros), além de uma estação SOS Bike na Praça dos Ciclistas, com ainda mais possibilidades de reparos mecânicos. Tudo de graça, basta preencher uma ficha na hora.

Shows

Banda Picanha de Chernobil toca covers e músicas próprias de rock e blues. Foto: Débora Costa e Silva

Banda Picanha de Chernobil toca covers e músicas próprias de rock e blues. Foto: Débora Costa e Silva

Entre na Paulista, tire os fones de ouvido e aproveite! Dá para curtir vários shows em um mesmo domingo e tem muita banda boa fazendo um som por ali. A minha favorita é a The Leprechaun, que toca geralmente entre as estações Trianon e Brigadeiro. A formação inclui banjo, violão, baixo, percussão, violino e conta com os vocais da Fabiana Santos. Eles fazem uma mistura de bluegrass e folk e intercalam músicas próprias e covers bem originais de músicas como “Redemption Song” e “Do You Remember Rock N Roll Radio”.

Pra fãs de rock e blues, a dica é a banda Picanha de Chernobill, com formação clássica de guitarra, baixo e bateria e repertório de altíssima. Pra relaxar e diminuir o ritmo, dê uma paradinha para ouvir a Carolina Zingler na Esquina do Jazz, com um som acústico de violão e cajon, às vezes acompanhado de outros instrumentos, o som é uma delícia. Com sopros, banjo e baixo acústico, a Cuca Monga é outra que eu adoro. O grupo é bastante divertido e toca músicas tradicionais brasileiras rearranjadas para o jazz.

Tem muitas outras bandas, de diferentes estilos, e sempre aparece um ou outro artista novo por lá, sem deixar de mencionar umas figuras pitorescas , como o cover do Elvis Presley, do Roberto Carlos e do Michael Jackson, que estão sempre por lá.

Feirinhas

Se hoje a Paulista é esse fervo todo aos domingos, isso se deve muito a feirinha de antiguidades que rola no vão do MASP há mais de 25 anos. É um dos eventos mais tradicionais da região e da própria cidade, e que com certeza incentivou o fluxo de pessoas que vão para lá com o intuito de passear e ponto. Como toda boa feira, essa tem uma variedade de produtos como câmeras fotográficas, miniaturas, relógios, artigos náuticos, objetos de porcelana, broches, livros e até obras de arte.

Feirinha do vão do Masp acontece já há mais de 25 anos aos domingos. Foto: Débora Costa e Silva

Feirinha do vão do MASP acontece já há mais de 25 anos aos domingos. Foto: Débora Costa e Silva

Do outro lado da avenida, em frente ao Parque Trianon, há uma espécie de sessão extra, com barraquinhas informais que vendem artesanato, bijuterias e roupas para quem já curte um estilo ligeiramente mais hippie. Pra fechar o circuito, dentro do shopping Center 3 há todo domingo uma outra feira, a Como Assim?!, essa mais alternativa e moderna, com vestidos, bottons, pôsteres e artigos de decoração.

Comidinhas

Feirinha gastronômica na Praça Oswaldo Cruz. Foto: Débora Costa e Silva

Feirinha gastronômica na Praça Oswaldo Cruz. Foto: Débora Costa e Silva

Mesmo antes de ser aberta, a Paulista já era um destino gastronômico aos domingos por causa das já existentes feirinhas de artesanato e antiguidades. Comer yakisoba por ali era um clássico, mas agora as opções se proliferaram, ainda mais com a presença massiva de foodtrucks. Há dois pontos principais: na praça Oswaldo Cruz, no comecinho da Paulista, e no calçadão em frente ao prédio da Fiesp.

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Além dos food trucks, tem ambulantes em bikes retrôs vendendo docinhos. Foto: Débora Costa e Silva

Em ambos há banquinhos para sentar e um pouco de tudo para comer: pastel, hambúrguer, massa, churros, sushi, taco e por aí vai. Circulando pela avenida também é comum encontrar um pessoal vendendo doces, café e outras delícias em bikes retrôs ou em barraquinhas estilosas.

Dança e atividades

Grupo de dança afro atrai sempre uma plateia enorme na Paulista. Foto: Débora Costa e Silva

Grupo de dança afro atrai sempre uma plateia enorme na Paulista. Foto: Débora Costa e Silva

Não importa o horário que você passar por lá, com certeza vai encontrar pelo menos um grupo fazendo alguma atividade mais inusitada. Tem o pessoal do bambolê, do samba rock, da dança afro (com direito a música ao vivo também, uns batuques incríveis) e até de lamba aeróbica (ainda é esse nome que dá pra quem dança axé e faz ginástica, né?).

Para as crianças também tem bastante opção, com grupos de contação de histórias, fantoches e oficinas diversas. O Parque Mário Covas e seus arredores concentram muitas das atividades bacanas para os pequenos. E claro, vira e mexe você encontra cenas engraçadas, mágicos, estátuas vivas, artistas e malucos de todos os tipos, como essa interação que flagrei uma vez:

Sei que o texto saiu super apaixonado, mas é difícil não se envolver e não celebrar essa conquista da cidade, que está mais aberta e mais humana. Claro que tem vezes que chego a me irritar com a muvuca toda, com o Elvis cover atrapalhando outro show ao lado, com pessoas que não respeitam a ciclovia, mas ainda assim, acho tudo muito válido e até essa bagunça pode ser bonita. A rua tem que ter espaço para todos!

Pra fechar, deixo aqui um documentário curtinho sobre a abertura da Paulista, com depoimentos de arquitetos, da prefeitura e do público que frequenta a rua. E aproveitem o domingo ❤

São Paulo :: Uma saudade

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Nossa amada Avenida Paulista a partir da ciclovia ❤ (Foto: Débora Costa e Silva)

Para quem vive em São Paulo, sufocado pela rotina estressante, poluição, metrô lotado, às vezes fica difícil pensar no lado bom daqui. Acho que muita gente cultiva uma relação de amor e ódio com a cidade: tem coisas incríveis e especiais, mas tem o caos também, que esgota e cansa.

Para ver São Paulo sob uma outra perspectiva em seu aniversário de 462 anos, convoquei amigos que viveram aqui e hoje estão em outros lugares do Brasil e do mundo pra dizer o que mais sentem falta da cidade. Confesso que por um momento pensei que ninguém fosse topar por acharem melhor onde vivem hoje – seja pela tranquilidade, qualidade de vida, ou qualquer outro motivo. Besteira minha: não só todos toparam como relataram várias saudades.

Algumas coisas foram praticamente unanimidade: a avenida Paulista, o combo pastel + caldo de cana e a praça Pôr do Sol foram as mais comentadas – junto com a saudade dos amigos e familiares, é claro. Outro ponto bastante destacado foi o clima, principalmente para os que estão no hemisfério norte em pleno inverno. Quem diria, esse tempo louco de São Paulo, com mil estações em um só dia, pode fazer falta!

Bacana mesmo é perceber que não só existe amor em SP, como por SP também! Um grande salve para essa nossa cidade louca, multicultural, gigantesca e surpreendente! Que a cada ano tenha mais espaços públicos, mais cultura nas ruas, mais verde e continue plural em todos os sentidos! ❤

Do que você sente falta de São Paulo?

 

Ricardo em Seul (Arquivo pessoal) e a Praça Roosevelt durante uma festa aberta (Foto: Raphael Tsavkko Garcia)

Ricardo em Seul e, ao lado, a Praça Roosevelt durante uma festa (Fotos: Arquivo pessoal + Raphael Tsavkko Garcia/Creative Commons)

Ricardo Pagliuso, 38 anos, sociólogo
Nascido no interior de São Paulo, viveu na capital por 20 anos. Passou um ano na Alemanha, voltou e, desde agosto de 2015, está em Seul (Coreia do Sul) fazendo pesquisas acadêmicas.

“Difícil dizer. Esta é minha segunda longa temporada longe de São Paulo, mas, como na primeira, tenho a perspectiva de voltar para a cidade que chamo de minha casa. Entre outras dezenas de pequenas e grandes coisas, sinto falta do clima louco de SP (frio no verão, calor no inverno), da “gentileza de estranhos” (como diz a personagem de Tennessee Williams) que se encontra em todo canto da selva metropolitana, da coxinha do BH, do café expresso do Floresta, dos bares da Roosevelt e das festas ao ar livre nas praças, do português com os vários sotaques, de comprar – e comer! – fruta na feira no domingo, de comer PF no boteco, de tomar cerveja na Augusta, dos izakayas da Liberdade. E agora, com o Carnaval batendo à porta, dos bloquinhos pela cidade.”

Natália em um parque em Melbourne e, ao lado, a movimentada Avenida Paulista. (fotos: arquivo pessoal + Artur Luiz)

Natália em um parque em Melbourne e, ao lado, a movimentada Avenida Paulista. (Fotos: arquivo pessoal + Artur Luiz/Creative Commons)

Natália Ballotin Hall, 31 anos, jornalista
De São Bernardo do Campo, mas viveu entre o ABC e a capital quase toda a vida. Está fora do Brasil há cinco anos, sendo os últimos 4 em Melbourne, na Austrália. Saiu para estudar e viver novas experiências – ficou, casou e tem dois filhos

“Pelo fato de estar longe há muito tempo, toda vez que lembro de São Paulo com saudades, tem a ver com os momentos que eu estava com os amigos. Para falar a verdade, eu não consigo pensar em um lugar X (um parque, shopping, restaurante, museu), pois para mim, o que faz o lugar ser especial são as histórias que eu vivi lá. E quando se trata de boas histórias, infelizmente as minhas sempre ocorriam no bar hahaha. Teve uma fase que eu sempre saía para beber  nos bares da Augusta e de vez em quando nos da Paulista, como o Opção e o Charme. Sinto falta dessa região de São Paulo.”

Consta naneve de Montreal (arquivo pessoal) e o bar Mercearia São Pedro (Foto: Facebook do bar)

Consta na neve de Montreal e o bar Mercearia São Pedro (Fotos: arquivo pessoal + Facebook do bar)

Constan Tino, 33 anos, engenheiro e agora estudante de Museologia
Natural de Aracaju (SE), morou em São Paulo por 9 anos e meio. Vive há seis meses em Montreal, no Canadá. Migrou para mudar de área e conhecer novas culturas.

“Sinto MUITA falta de duas coisas: boteco e padoca. E de compartilhar uma garrafa de cerveja de 600 ml, dividir as coisas na mesa do bar, o que não é nada comum por aqui. Eu gostava muito de comer em São Paulo hahaha. Adorava o Aska Lamen na Liberdade, ia muito no Empanadas e no Mercearia São Pedro na Vila Madalena também. Tipo, se eu estivesse no seriado ‘Friends’, esses dois lugares seriam o meu Central Perk. Ah, tem a Casa do Norte no Butantã – eu AMO aquele lugar. Enfim, aqui no Canadá tudo é bonitinho e tal, tem muitos bares e lugares bacanas para ir, mas acho que São Paulo é especial como poucos lugares no mundo.”

Jairo em um passeio em Sydney e o forró do Remelexo, em Pinheiros. Fotos: arquivo pessoal e Ricardo Galvão Fontes/Divulgação

Jairo em um passeio em Sydney e o forró do Remelexo, em Pinheiros. (Fotos: arquivo pessoal e Ricardo Galvão Fontes/Divulgação

Jairo Lacerda, 29 anos, empresário
Natural de São Paulo, mudou para a Austrália há seis anos, sendo 5 deles em Sydney e 1 em Melbourne, onde está hoje. Saiu do Brasil para realizar o sonho de criar sua própria marca de roupas, a COFD.

“Além da saudade da família e dos amigos, de São Paulo eu sinto muita falta da comida, do tempero e do gosto das frutas também. Saudades da minha época de forró, quando ia no Remelexo e no KVA (já fechado), e das baladas Club e Eazy.  Mas a maior saudade acho que é do pastel de frango com caldo de cana que eu comia na feira aos sábados.”

Juliana em frente ao Big Ben, em Londres e, ao lado, a Livraria Cultura, uma de suas paradas obrigatórias na Paulista (fotos: arquivo pessoal e Divulgação)

Juliana em frente ao Big Ben, em Londres e, ao lado, a Livraria Cultura, uma de suas paradas obrigatórias na Paulista (fotos: arquivo pessoal e Divulgação)

Juliana Gabos, 32 anos, desenvolvedora de Software
Atravessou o Atlântico há 2 anos e meio para fixar residência em Londres

“Morando em Londres não é difícil de sentir bastante falta do clima de São Paulo e todo o nosso estilo de vida que deriva dele. Quando morava aí, dava para combinar de fazer praticamente qualquer coisa em qualquer época do ano ou momento do dia. Gostava muito de sair para jantar, por exemplo. São Paulo tem restaurantes sensacionais, ideais para curtir o ar gostoso da noite.

Não são raros os fins de semana em que sinto falta de caminhar na avenida Paulista. É um dos meus lugares favoritos da cidade. É muito gostoso caminhar parando para olhar a feirinha que tem ali perto da Consolação (acho que no shopping Center 3, que espero que ainda esteja lá), dar um pulo na Livraria Cultura, tomar um sorvete ou um açaí (ou até mesmo um chocolate quente) enquanto se passa do lado de construções que marcam a história da cidade. Tenho boas recordações de passeios que fiz com família, amigos ou mesmo sozinha. Quando voltar à cidade para uma visita, tenho que dar uma passada lá de algum jeito! 🙂 Ah, e sinto falta de pizza!!!! São Paulo, pelo menos para mim, ainda tem a melhor pizza do mundo!”

Flávia no seu cantinho especial de São Paulo, a Praça Pôr do Sol (foto: arquivo pessoal)

Flávia no seu cantinho especial de São Paulo, a Praça Pôr do Sol (Foto: arquivo pessoal)

Flávia Fernandes, 31, jornalista
Natural de São Paulo, mora há seis meses na cidade de Abilene, no Texas (EUA), após um ano e meio indo e voltando por causa do namorado, hoje marido.

“Eu sinto falta de muitas coisas. Uma delas é andar na rua, explorar lugares a pé, como os bairros Perdizes, Lapa e a região da Av. Paulista. Eu sinto falta da vida 24 horas e que tem tudo o tempo todo. É impossível ficar entediado. Outra coisa que sinto falta é da diversidade de restaurantes. Dá pra explorar lugares e sabores sempre! Tem meus restaurantes favoritos no momento, que são Comedoria Gonzales (Peruano) e o Mori (Japonês). Outra coisa é o pastel com caldo de cana na feira – isso é delícia sempre! Meus lugares favoritos são a Praça Pôr do Sol e o Parque Vila Lobos. O bairro que amo é a Vila Madalena. Tem arte, bares, restaurantes, lojinhas, tudo.”

A ideia do post fez a Flávia a ir além desse depoimento e a inspirou a gravar um vídeo sobre o assunto para o seu canal no YouTube. Clique aqui para ver, tem ainda mais dicas! 🙂

Nadia e um de seus cantinhos preferidos de Sampa (fotos: arquivo pessoal + Erasmo Altimeri)

Nadia e um de seus cantinhos preferidos de Sampa: o Museu do Ipiranga (fotos: arquivo pessoal + Erasmo Altimeri/Creative Commons)

Nadia Moragas, 30 anos, jornalista
Nasceu em São Paulo e mora há cinco anos na Bahia. Passou por Salvador, Ilha de Itaparica e hoje vive em Porto de Sauípe. A mudança rolou após conhecer o marido, daí resolveu fazer mestrado na terra dele.

 Acho que o mais legal de Sampa é o fato de ser cosmopolita. Diferentes estilos e culturas encontram algum lugar na cidade para chamar de seu. Sinto falta dos parques, principalmente do Museu do Ipiranga (fechado para obras) e do Ibirapuera. Também sinto saudade da vida noturna agitada, com muitos lugares bacanas pra tomar uma cerveja. Adorava o Charme da Paulista e o Opção também. Adoro as feiras de rua, sempre tem uma em algum lugar próximo. Saudade do pastel e caldo de cana. A feira da Praça da República, de domingo, tem muita coisa bacana, roupa, artesanato, pinturas e comidinhas! Também curtia a feira da Benedito Calixto, com antiguidades e itens descolados.”

Amanda na avenida Paulista, durante reforma da ciclovia, e ao lado a Casa das Rosas, onde ela frequentava. (fotos: arquivo pessoal + Felipe Lange Borges)

Amanda na avenida Paulista, durante reforma da ciclovia, e ao lado a Casa das Rosas, onde ela frequentava. (fotos: arquivo pessoal + Felipe Lange Borges/Creative Commons)

Amanda Serra, 27 anos, jornalista
A paulistana está há 4 meses em Dublin, na Irlanda. Mudou para melhorar o inglês e aprender mais sobre si mesma.

“Com certeza o clima de São Paulo (minha cidade) é o que eu mais sinto falta atualmente. Sem falar na comida: aquela coxinha quentinha do Frangó, a pizza da Ritto… O centro velho de São Paulo é outra paixão, mas não há nada tão paulistano como caminhar pela avenida Paulista e se apropriar dela. Era um dos meus programas prediletos aos domingos, agora que ela está fechada para carros deve estar ainda melhor. A homogeneidade das pessoas ao redor, as feiras de artesanatos com roupas descoladas, os variados protestos, os shows dos artistas de rua, as lojinhas dos chineses, a atmosfera cultural, o simples caminhar em meio a tudo isso já fazia a viagem de Pirituba valer a pena. Vivia de olho nas programações gratuitas da Casa das Rosas, do Itaú Cultural e do Centro FIESP. Isso sempre me rendeu belos espetáculos e exposições. Essa é uma boa dica para quem gosta de teatro, exposição, literatura e quer economizar. ”

Munhoz na cozinha do bar O Pico, em Pinheiros, seu preferido em SP (Foto: arquivo pessoal)

Felipe Munhoz, 31 anos, jornalista
Nascido em São Bernardo do Campo, viveu entre o ABC e a capital boa parte da vida. Há 4 anos foi para o Rio de Janeiro. Segundo ele, o universo só mandou uma alternativa de mudança, ele aceitou e iniciou uma nova fase.  

“São Paulo, nos separamos, eu sei, mas vou te contar. Gosto mesmo é de te ‘namorar’ assim, distante. Ainda sinto saudades das nossas quintas dançantes no Teatro Mars. Daquela sensação de liberdade ao te amar dirigindo pela madrugada, com suas curvas desimpedidas, e caçar alguém que topasse levantar uns copos.  Lembra quando não ‘existia’ Vila Madalena? A gente ia, literalmente, de norte a sul, de leste a oeste. Eu sei, a praça do pôr-do-sol é um pedacinho marcante. Nossa, vivemos intensamente o nosso tempo. Tomamos os maiores porres no Pico, da Cardeal. Se quiser comer pastel na Mercearia São Pedro, tudo bem, mas já aviso que sem Xico Sá e Sócrates o lugar deve estar meio sem aura – dizem que até pegou fogo!

Chega de enrolação, vou dizer logo a verdade. Sua graça é nos deixar fugir da moda. Se todo mundo começa ir pra Vila, a gente vai para Augusta ou toma uma no Rossio ou num bar da Tiquatira; se lotam o Belas Artes, é hora de dar um pulo no Centro Cultural; se tem rolezinho gourmet em Moema, a gente vai visitar os amigos em Itaquera, ou em Pirituba, com o maior prazer; se a polícia sitiou a praça do pôr-do-sol, a gente faz música e fogueira no mirante de Santana.

Não posso negar, suas caronas sinceras me encantam. Mas, sinceramente, o nosso amor só existe assim, no campo das saudades. De qualquer forma, fica o meu “abraçaço” e a gratidão por me ajudar a amadurecer com tantas experiências. Meus parabéns, São Paulo.”

São Paulo :: Rolê de bike pelo Minhocão

Foto: Débora Costa e Silva

Há muito tempo venho querendo usar o sistema de aluguel de bicicleta Bike Sampa e nunca tinha rolado. Os motivos da demora são vários e ao mesmo tempo nenhum: é tão fácil, simples e prático que eu mesma não me conformo que só fiz isso agora #shameonme. Mas antes tarde do que nunca né?

A pedalada de estreia foi num dos lugares mais bacanas de passear em São Paulo durante os fins de semana: o Elevado Costa e Silva – vulgo Minhocão. Eu também nunca tinha ido andar por lá quando fica fechado (#shameonme2) e, apesar de ser uma construção que já causou muita polêmica por ser considerada um “desastre urbanístico“, sempre me encantei pela ideia de circular ali em cima e ver a cidade sob uma nova perspectiva. É um visual incrível e o elevado vira uma passarela ótima para correr, andar de skate, patins ou de bicicleta: asfalto lisinho, com pouquíssima inclinação e bastante espaço.

Fiz algumas paradinhas estratégicas durante o passeio, mas é claro que em São Paulo cada esquina pode reservar uma surpresa – e dessa vez não foi diferente. Vejam abaixo como foi o rolê:

 

Ponto Chic :: Ponto de partida

Para ter energia para pedalar, fui almoçar no tradicional Ponto Chic que fica na boca da entrada do Minhocão, em Perdizes, no Largo Padre Péricles. Fui de carro até ali perto, sentei em uma das mesinhas que ficam na rua e pedi logo o lanche clássico da casa, o Bauru.

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Foto: Divulgação – Ponto Chic Perdizes, Largo Padre Péricles

A criação desse sanduíche foi nessa lanchonete, mas em sua sede, no Largo Paissandu, graças às invencionices culinárias de um frequentador assíduo, seu Casimiro Pinto Neto, cujo apelido era o nome de sua cidade natal – Bauru.

Reza a lenda que ele pedia para o garçom ir acrescentando determinados ingredientes, de acordo com o que lia sobre nutrição (carne tem proteína, tomate vitaminas e por aí vai) e a mistura fez sucesso. Todo mundo chegava e pedia “Me vê um desses do Bauru”!

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Pão francês + rosbife + tomate + pepino + queijo especial = Bauru. Foto: Divulgação

A receita está aí na legenda da foto, mas não é um simples queijo: é uma mistura entre quatro tipos que resultam no ingrediente que vai neste sanduíche especial. Quem quiser saber mais, dá uma olhada nesse vídeo aqui que mostra como faz o lanche 😉

Vale ressaltar: o garçom que me atendeu era extremamente simpático e gente boa. Ia pedir um suco de morango, mas ele falou: “tem certeza? O daqui não é bom não”. Quantas vezes você topou com tamanha sinceridade? Achei louvável.

Bike Sampa :: Modo de usar

Pernas pra quê te quero: estreando no Minhocão feliz da vida. Foto: David Santos Jr

Pra quem não sabe, o Bike Sampa é um projeto da Prefeitura de São Paulo patrocinado pelo Itaú, que incentiva a mobilidade urbana. Há duas formas de usar o sistema: ativar o seu Bilhete Único ou usar o aplicativo. Escolhi a segunda opção por achar mais fácil. Feito o download do app e o cadastro (é preciso  um cartão de crédito para debitar o valor do aluguel), você já está habilitado para pegar uma bike e sair por aí :-).

Há muitas estações espalhadas em São Paulo e o app funciona direitinho, com um mapa que pode mostrar todas elas ou só as que têm bikes disponíveis ou ainda só as que têm vaga para devolver as bicicletas. O melhor dessa história toda? A primeira hora de uso é gratuita! Depois, são R$ 5 a cada hora de aluguel – se você fizer uma paradinha de 15 minutos entre uma hora e outra, sai de graça também. Outro fator positivo: você pode devolver a bike em qualquer estação, é só ter vaga e encaixá-la de volta.

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Ali no Largo Padre Péricles tem uma estação e, de acordo com o mapa, tinham três bicicletas disponíveis. Só que não: uma mulher estava lá enfrentando problemas para usar uma bike, porque uma estava travada e não saía de jeito nenhum, a outra não aparecia como disponível no sistema e a única que dava para soltar do encaixe estava com o pneu furado. A moça já havia ligado na central do Bika Sampa para avisar, mas não tinha jeito: ou a gente esperava alguém devolver uma bike ou iríamos em outra estação.

Por sorte era feriado e a movimentação era grande. Logo apareceu um pessoal para devolver as bicicletas e consegui pegar uma para mim. Ela tem três marchas, uma cestinha e estava novinha, super bem conservada. Ajustei a altura do assento e encarei o Minhocão.

Minhocão :: A estrela do dia

Um dos grafites mais bacanas do caminho, a raiz da planta “nasce” na caixa d’água do prédio. Foto: Débora Costa e Silva

Percorri todo o elevado e o passeio foi super agradável. Eu estou numa fase bastante sedentária, tentando voltar a rotina de exercícios, então sofri um pouco nas subidas. Você pode falar “mas o Minhocão é plano, que subida?”.

Pois é, eu também pensava assim, mas como estou enferrujada, cada inclinaçãozinha era um pequeno martírio para minhas pernas. Nada grave: fui devagar e foi uma delícia o exercício, mas serviu para dar um chacoalhão básico e me fazer querer superar isso.

De resto, o bacana  desse rolê é aquilo que já falei no começo do texto: ver São Paulo a partir de um novo ângulo. Estar entre os prédios, não dentro ou embaixo deles. Estar na rua ativamente, não dentro de um carro ou na calçada.

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Jardim vertical na lateral do prédio causa um impacto no meio da paisagem cinza. Foto: Débora Costa e Silva

O Minhocão em dias úteis tem uma outra vibe, tudo ali é pesado, poluído, deprê. Os prédios antigos e mal conservados ainda estão lá de fim de semana e feriados, é claro, mas rodeados de gente se divertindo. Outro clima, outra São Paulo.

Os grafites e as intervenções urbanas ainda não são muitos, mas os que existem já causam um impacto e tanto entre os visitantes. O que mais gostei é um desenho que simula o interior dos apartamentos dos prédios ao redor do Minhocão.

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A intervenção que eu mais curti no Minhocão. Foto: Débora Costa e Silva

Surpresas no centro :: Zombie Walk

A próxima parada seria a Casa Matilde, na rua São Bento, onde vendem docinhos portugueses. Quando cheguei no fim do Minhocão, na rua da Consolação, peguei um bom trecho sem ciclofaixa e fui andando cuidadosamente no cantinho das ruas ou pela calçada.

Como era feriado, estava bem tranquilo percorrer esse trecho, mas conforme fui avançando, o número de pessoas aglomeradas foi aumentando e logo descobri que estava no meio da Zombie Walk!

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Multidão zumbi toma conta do Viaduto do Chá, no centro de SP. Foto: Débora Costa e Silva

Fiquei impressionada com o tanto de gente que estava participando e com o capricho das fantasias. Tinham umas bem criativas, milhares de noivas cadáveres, uma Tropa de Elite enorme e até uns mais engraçados, tipo Salsicha & Scooby Doo, mas o ápice da parada foi quando um cara vestido de Batman subiu no topo de uma banca perto do Teatro Municipal e a plateia veio abaixo.

Parada para comer :: Café Girondino

A Casa Matilde estava fechada e o jeito foi ir até o Café Girondino, outro point tradicional do centro de São Paulo. Charmoso, com uma escadaria no centro, mesas, cadeiras e mobília de madeira, o clima remete o início do século 20. Foi um lugar delicioso para fazer uma pausa da pedalada, mas ao contrário do Ponto Chic, não fiquei muito feliz com o atendimento.

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As curvas do Café Girondino são um charme à parte. Foto: Facebook do Café

Não sei se é sempre assim ou se os garçons estavam especialmente desatentos, mas fiquei sentada quase meia hora sem ninguém me atender, só deixaram o cardápio e nunca mais voltaram – e não era o caso de estar lotado, bem longe disso. Mudei de mesa e resolvi pedir direto no balcão para agilizar. Pelo preço e pela tradição do lugar, esperava outra coisa. O café, por outro lado, estava uma delícia.

O Retorno :: Levando a bike no metrô

Logo ao lado do Café Girondino, tem uma estação do Bike Sampa, onde já devolvi a bicicleta para facilitar. Para voltar até o carro, resolvi ir de metrô da estação São Bento até a Marechal Deodoro.

Eu sempre apoiei e admirei meus amigos que trocaram carro ou mesmo metrô e ônibus por bicicleta. Os que começaram anos atrás então, nem se fala, foram desbravadores e corajosos. Tudo isso pra que hoje pessoas como eu, que estão longe de ser da turma do esporte ou ativistas, curtam um dia tranquilo de bike por São Paulo, com cada vez mais segurança, conforto e companhia. E que seja apenas o primeiro dia de muitos! 🙂

Uma das entradas para o Minhocão perto do metrô Marechal Deodoro, com tantas árvores que me senti num parque. Foto: Débora Costa e Silva